Luanda, 16 abr (Lusa) - Os principais partidos da oposição angolana rejeitam que os militares que Angola mantém na Guiné-Bissau intervenham naquele país e exige o seu regresso a casa, disseram hoje à Lusa fontes partidárias.
Segundo Alcides Sakala, porta-voz da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido com representação parlamentar, a presença dos cerca de 200 militares de Angola na Guiné-Bissau, no âmbito da missão militar angolana naquele país (Missang), "está na origem do clima de tensão que se criou e conduziu à situação atual".
"Nós recomendamos que essa questão seja abordada na Assembleia Nacional, independentemente da posição aprovada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), porque, enviarem-se mais unidades pode ter consequências muito graves", acrescentou.
A UNITA defende que deve haver "muita ponderação" e que o parlamento deve concertar com o executivo o que vai ser feito, porque, alertou Alcides Sakala, "podem morrer soldados angolanos".
"Angola pode ver-se arrastada para um conflito de maiores proporções", adiantou, citando o caso do conflito de Casamança, no sul do Senegal, que faz fronteira com o norte da Guiné-Bissau.
Para Joaquim Nafoia, porta-voz do Partido da Renovação Social (PRS, oposição) os militares angolanos que se encontram em território guineense "devem regressar imediatamente a casa".
"A questão não é se deve ou não haver autorização do parlamento. Quando a Missang foi enviada, o executivo não pediu autorização ao parlamento. O Presidente (José Eduardo dos Santos) agiu à margem das instituições oficiais e a situação agravou-se, pelo que Angola não deve mandar mais militares e exigimos o regresso imediato a casa dos que estão na Guiné-Bissau, até porque os próprios guineenses não os querem lá", acentuou.
A falta de autorização prévia por parte do parlamento foi igualmente invocada pela Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE), liderada por Abel Chivukuvuku, ex-dirigente da UNITA.
Segundo o vice-presidente e porta-voz da coligação, Lindo Bernardo Tito, caso os soldados angolanos entrem em combate contra os militares guineenses "haverá flagrante violação das leis angolanas e do acordo celebrado entre os estados angolano e guineense".
"Entendemos que o que o Governo angolano devia fazer era retirar as tropas da Guiné-Bissau e ajudar a que se encontre uma solução pacífica, mas assente em premissas duradouras e não em soluções frágeis, como as que foram encontradas até hoje", adiantou.
A solução duradoura preconizada pela CASA-CE atribui à comunidade internacional a responsabilidade de assegurar a estabilidade, a tranquilidade e a paz na Guiné-Bissau.
"Até, pelo menos, que haja um quadro mais ou menos aceitável e que os guineenses estejam maduros para seguirem sozinhos, sem a comunidade internacional", explicou.
Quanto aos militares angolanos, Bernardo Tito defendeu que qualquer intervenção carece de autorização prévia do parlamento de Angola.
"Não tendo o parlamento angolano dado um mandato ao Presidente (José Eduardo dos Santos) para intervir militarmente noutro país, a solução será unicamente a de retirar as tropas e fazê-las regressar a Angola", concluiu.
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