5.4.16

As Finanças são uma chatice

O IRS dá, ou dava, alguns "benefícios" aos contribuintes, entre os quais a dedução de certas despesas. Antigamente, somavam-se as facturas de algumas categorias de despesa (educação, saúde, e outras) e guardavam-se as mesmas para possível futura verificação aleatória fiscal. Depois tudo mudou. Passámos a ter de ir à Internet registar as facturas. A seguir, passámos a ter de "validá-las", essa extraordinária palavra do mundo neo-liberal que significa confirmarmos que aquilo que existe é real. Agora, querem mais: que confrontemos as nossas inscrições com as que foram efectivamente acolhidas pelo Fisco e que, se quisermos, assinalemos as falhas e as discrepâncias e as reinscrevamos, se quisermos que elas contem para o nosso patamar de dedução fiscal. Ora isto tudo é manifestamente abusivo e discriminatório. Um cidadão pode não ter competências informáticas. Pode ter deficiência visual. Pode ser desorganizado. Pode não ter tempo, saúde, ou paciência para tantas tarefas. Acima de tudo, tem o direito de dizer que não lhe apetece entrar neste labirinto e que não aceita ser prejudicado por não o fazer! Estamos a viver tempos de ditadura fiscal. O Fisco tomou conta das nossas vidas. Se cumprirmos tudo à letra, a Autoridade Tributária sabe melhor do que nós o que gastámos em viagens, livros ou farmácia. Pode até saber (se forem cuscas e inteligentes!) quais as doenças que temos e presumir que tempo temos de vida. Pode saber dos/das amantes, dos vícios e das virtudes, dos sítios que frequentamos, dos quilómetros que percorremos e das portagens que atravessámos. Qualquer tipo da ATD ou do SIS pode reconstituir a nossa vida a um pormenor que nem nós conseguimos. Basta quererem! Eu sou totalmente contrário a esta vasculhice institucional legalizada da vida alheia. Suspeito nela um instinto predatório e antidemocrático, uma vontade de controlar a vida do cidadão e de o esmifrar até ao último cêntimo. É o conceito de vida num Estado Democrático de Direito que está em causa. Inquieta-me sobretudo que as pessoas se sujeitem a este tipo de exigências sem protestarem. Todo o dia nos emitem facturas, nem que seja por um café, uma aspirina, ou um título de transporte. O que mais faltava era à noite, já cansados, termos de ir ao computador registar, comparar e reinscrever toda essa papelada. Não quero viver assim e não aceito ser prejudicado por não querer viver assim. É preciso um levantamento nacional em defesa dos cidadãos e dos contribuintes! CHEGA DE EXPLORAÇÃO E DE CHATEAR O POVO! Os Portugueses são realmente amorfos, pacíficos e acríticos. Há que mudar de feitio e passar à acção contra estes exageros. Não podemos aceitar que nos façam criados deles! António Ribeiro

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