28.12.15
Mugabe, há 28 anos Presidente
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Faz esta semana 28 anos que o antigo professor Robert Gabriel Mugabe, de etnia shona, secretário-geral da União Nacional Africana do Zimbábue (ZANU) a partir de 1963, se tornou Presidente da República, depois de haver sido primeiro-ministro, logo que o seu país se tornou independente, em 1980.
Preso entre 1964 e 1974 pelo governo de minoria branca, de Ian Smith, Mugabe fundiu o seu partido, em 1976, com a União do Povo Africano do Zimbábue (ZAPU), de Joshua Nkomo, dominada pela etnia ndeble, dando lugar à criação da ZANU-Frente Patriótica.
Com a esmagadora vitória nas primeiras eleições verdadeiramente livres que abriram caminho ao Zimbábue independente, Mugabe, que se encontrava refugiado em Moçambique, onde então o entrevistei, foi eleito primeiro-ministro; e, com a introdução do sistema presidencialista em 1987, tornou-se Presidente, em substituição do reverendo Canaan Banana, vindo a ser sucessivamente reeleito.
Formado em História, Inglês, Direito e Economia, o ex-guerrilheiro Robert Mugabe revelou múltiplas facetas a partir da altura em que chegou ao poder, que nunca mais aceitou abandonar, apesar de em Fevereiro próximo ir completar 92 anos.
Se era conciliador, passou a autoritário; e se era marxista isso não o impediu de se tornar multimilionário, com fama de ditador.
Na sua primeira década à frente da antiga Rodésia, tratou de alargar o desenvolvimento à generalidade da população, mas depois disso verificou-se uma má administração económica, houve casos de corrupção e a economia decaiu.
Tudo poderia ter corrido muito bem se Robert Gabriel Mugabe se tivesse cingido a ser oito anos e meio primeiro-ministro e depois cinco ou 10 anos Presidente da República, retirando-se de cena quando a sua imagem ainda não estava desgastada.
O mal de Mugabe, como o de Teodoro Obiang Nguema ou de José Eduardo dos Santos, foi o de não ter sabido reformar-se a tempo, cedendo o lugar a políticos mais novos, com a mente porventura mais arejada.
Chegado o século XXI, quando já era altura de ter passado para a rectaguarda, numa confortável reforma, o Presidente do Zimbabue mostrou-se disposto a recorrer a todos os meios ao seu alcance para evitar que surgisse qualquer alternativa, fosse ela no âmbito da ZANU-Frente Patriótica ou a partir da oposição, onde pontificava Morgan Tsvangirai.
A hiperinflação e a polémica reforma agrária, que afastou 4.000 fazendeiros brancos, fizeram com que a imprensa da antiga potência colonial, o Reino Unido, se encarniçasse contra a perpetuação de Mugabe no poder.
Tendo a seu lado Grace Marufu, a segunda mulher, 41 anos mais nova, o Presidente da República parece julgar-se imortal, desbaratando a boa imagem que em tempos teve, quando era possível colocá-lo na primeira fila dos que lutaram por uma África melhor, como Nelson Mandela.
O curioso de situações como estas é que outros dirigentes africanos fecham os olhos a toda a espécie de irregularidades, havendo uma solidariedade tácita entre políticos de diversos matizes, como se acaso a denúncia de práticas menos correctas fosse uma traição à luta comum que muitos travaram para que o continente se tornasse independente, livre do jugo dos europeus ou seus descendentes.
Quando ainda nem sequer tinha 30 anos, Mugabe decidiu ajudar os seus compatriotas a autodeterminarem-se. Conseguiu isso em 1980, depois de sete anos de guerrilha. Avançou depois para a chefia do Estado, em 1987, mas não soube parar na devida altura, na viragem do século.
O filho de Gabriel e de Bona Mugabe, o homem que já foi casado com Sally Heyfron, do Ghana, antes de ter desposado Grace Marufa, deveria estar hoje em dia tranquilamente sentado em sua casa, talvez a escrever as memórias, que tão ricas são, e não de forma alguma à frente de um país que necessita agora de dirigentes muito mais novos.
É certo que em 1988 recebeu o African Leadership Prize, mas isso já foi há 27 anos, é preciso não esquecer, e ninguém pode ficar tanto tempo apegado ao passado, por mais brilhante que ele tivesse sido.
Mugabe foi grande, ninguém o nega. Teve o estatuto de herói e, por isso mesmo, não deveria querer ficar nos compêndios de História como um ditador.
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