3.12.15
Reconciliação falhou em Moçambique
O politólogo moçambicano
João Pereira entende
que a natureza do sistema
político de Moçambique está
esgotada, 25 anos após a
aprovação da primeira Constituição
multipartidária, apontando
a centralização do poder
como o principal problema
da democracia no país.
“A natureza do sistema
político moçambicano
está esgotada”, disse o
analista político e docente
universitário, à margem
de um debate sobre os
desafios da democracia em
Moçambique, organizado
no âmbito da Semana da
União Europeia em Maputo.
Quando passam 25 anos
após a aprovação da primeira
Constituição multipartidária,
que pôs fim a
uma guerra civil de 16 anos,
o politólogo moçambicano
entende que o modelo político
actual está demasiadamente
centralizado e não
permite a acomodação de
elites políticas dos sectores
mais excluídos do país, o
que pode suscitar um descontentamento
popular.
“A nossa grande falha
durante este período foi
o facto de que não houve
um projecto político realmente
colectivo”, afirmou
o académico, acrescentando
que, 25 anos depois, a
exclusão e a disparidade
nos níveis de vida dos moçambicanos
são elementos
cada vez mais visíveis.
De acordo com o acadé-
CONSIDERA POLITÓLOGO MOÇAMBICANO
Natureza do sistema político
de Moçambique está esgotada
mico, além de permitir a acomodação
das elites políticas
dos sectores mais excluídos
do país, a execução de um
sistema que atribua certa
autonomia às regiões em
Moçambique valorizaria a
opinião do eleitor no que
tange à escolha política.
Numa altura em que várias
vozes pedem uma revisão da
Constituição da República,
João Pereira aprova a iniciativa,
mas entende que um
elemento isolado não pode
surtir os efeitos esperados,
considerando que Moçambique
precisa criar uma cultura
de “consciência democrática”
e inclusiva.
“Esta mudança de cultura
política deve partir
da educação e da criação
de uma cidadania activa”,
defendeu, salientando que o
país não pode continuar “com
este sistema em que tudo
é decidido em Maputo, Moçambique
não é só Maputo”.
Num momento em que o
país vive uma crise política,
com registo de confrontações
militares entre o
exército e o braço armado
do maior partido de oposição,
João Pereira defendeu
que esta é a altura
ideal para um debate sério
sobre revisão do modelo
político moçambicano, argumentando
que as mais
importantes mudanças no
país aconteceram em momentos
de crise.
“O processo da reconciliação
falhou em Moçambique
e faltaram plataformas práticas
de ambas as partes. Este
é o momento ideal para uma
revisão”, declarou o docente
universitário, reiterando que
o país precisa urgentemente
de adoptar um modelo que
atribua autonomias às regiões,
no processo de definição das
prioridades políticas, sociais e
económicas. Correio da Manhã, Maputo
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