Marrocos quer entrar na União Africana
O reino de Marrocos, que na primeira parte da década de 1980 se afastou da
Organização da Unidade Africana (OUA), quer agora entrar na entidade que lhe
sucedeu, a União Africana (UA).
Para que isso possa acontecer, Marrocos exige que a República Árabe Sarauí
Democrática (RASD) seja suspensa.
No seguimento de longos anos de trabalho diplomático por parte de Rabat, 28
países africanos assinaram uma moção a pedir que a RASD seja efectivamente
suspensa da UA.
O Presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, amigo da França e de Marrocos,
assumiu a liderança do grupo que pretende o afastamento da frágil República
proclamada pela Frente Polisário.
Senegal, Costa do Marfim e Mali são outros países francófonos muito
empenhados em que se faça a vontade ao reino de Marrocos e se sacrifiquem os
sarauís, muitos deles exilados na vizinha Argélia.
Gastando rios de dinheiro, os marroquinos prosseguem na saga de procurar
conseguir a homologação da sua presença no Sara Ocidental, ao qual recusam o
direito à autodeterminação e à independência.
O Presidente do Chade, Idriss Déby Itno, afirmou que Marrocos tem o direito
de entrar na UA "quando e como desejar", contribuindo assim para que se cumpram
os desejos das autoridades de Rabat.
Um documento elaborado em francês, inglês, espanhol e árabe dá conta dos
desejos de os marroquinos entrarem na UA, 32 anos depois de se terem afastado da
OUA, como forma de protesto contra o facto de, em 1982, ela ter reconhecido a
RASD.
Marrocos tem tido artes de colaborar com uma grande parte da África, nos
domínios da economia e da segurança, entre outros.
Macky Sall, Presidente do Senegal, que não quer perder a parte meridional do
seu país, a Casamansa, é um dos que defendem que a RASD seja suspensa da UA,
onde é apoiada, nomeadamente, pela Argélia, a África do Sul, Angola e
Moçambique.
Em Junho, o Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, visitou oficialmente Rabat, a
fim de debater estes assuntos com o rei Mohamed VI.
Tendo morrido recentemente o primeiro líder da RASD, Mohamed Abdelaziz, o
soberano marroquino julga-se agora mais à vontade para fazer com que a maioria
do continente africano alinhe com os seus pontos de vista.
A presidente cessante da Comissão da UA, a sul-africana Nkosazana
Dlamini-Zuma, saudou o novo Presidente sarauí, Brahim Ghali; mas isto não
preocupa demasiado aqueles que preferem fazer o jogo de Marrocos.
O precário estado de saúde do Presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, um
dos grandes protectores da RASD, também poderá ajudar a que os sarauís fiquem na
mó de baixo.
Há 32 anos uma grande parte da África e da América Latina era solidária com a
Frente Polisário, mas com o andar do tempo essa causa foi perdendo peso, pois as
próprias Nações Unidas foram incapazes de proceder a um referendo no qual os
sarauís afirmassem se queriam ou não ser independentes.
A RASD foi proclamada unilateralmente em 1976, há 40 anos, e apenas controla
uma pequena parte do Sara Ocidental, encostada à Argélia e à Mauritânia,
enquanto no resto do território se encontram os militares e os colonos
marroquinos.
Para alguns dos seus detractores, é tão improvável a causa sarauí vencer
quanto o são as hipotéticas independências da Casamansa ou de Cabinda. Sobretudo
tendo em conta as notícias pouco agradáveis que temos da Eritreia, depois de ela
se ter afastado da Etiópia; e o desastre que foi a independência do Sudão do
Sul.
Retalhar ainda mais a África, do que aquilo que ela já o está, na sequência
dos desígnios coloniais, poderá não ser uma solução muito feliz.
Deverá ser isso o que pensam os 28 países africanos que se inclinaram para o
lado de Marrocos: Benim, Burkina Faso, Burundi, Cabo Verde, Comores, Congo,
Costa do Marfim, Djibuti, Eritreia, Gabão, Gâmbia, Ghana, República da Guiné,
Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Líbia, República Centro-Africana,
República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Seychelles, Serra
Leoa, Somália, Sudão, Suazilândia, Togo e Zâmbia.
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