A Guiné-Bissau é um equívoco
"Desde a guerra da libertação até agora, a Guiné-Bissau não dá nem um passo
em frente", disse-me há dias um rapaz de 22 anos que pretende deixar o seu país
e prosseguir os estudos na Europa.
"Quando terminámos a guerra do 7 de Junho (1998/1999), apareceu um Governo do
dr. Kumba Ialá e, infelizmente, piorou tudo, até agora. Tínhamos esperança no
Governo de Domingos Simões Pereira, mas caiu", acrescentou aquele meu
correspondente, que por motivos óbvios não identifico.
"Até agora não encontrámos uma solução para o país. Lamento imenso a triste
sina do meu povo", afirmou ainda o mesmo jovem. Um dos tantos que tentam
encaminhar-se para Portugal, o Senegal ou o Brasil, por não verem qualquer
esperança no seu solo pátrio.
Enquanto isto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas teve um briefing,
seguido por consultas sobre a Guiné-Bissau, aquelas intermináveis consultas que
se arrastam desde há anos.
Foram ouvidos o maliano Modibo Touré, representante especial do
secretário-geral Ban Ki-moon, o embaixador uruguaio Luís Bermudez e o embaixador
brasileiro António de Aguiar Patriota.
Um relatório do secretário-geral apresentado no início de Agosto declara que
o progresso alcançado após as eleições de 2014 retrocedeu. Três sucessivas
mudanças de Governo e um longo período de paralisia política levaram nos últimos
12 meses ao desgaste ainda maior das instituições do Estado.
As reformas nos sectores da defesa, da segurança e da justiça foram
suspensas, pelo que nem doadores nem investidores desejam fazer seja o que for
pela Guiné-Bissau.
Mantém-se um regime de sanções, para que as forças de segurança e de defesa
não voltem a interferir na vida política de um dos mais infelizes países
africanos.
No entanto, o risco de uma nova intervenção dos militares poderá aumentar se
a crise política persistir, se não houver reformas e se os soldados não forem
pagos.
Responsáveis pelo golpe de estado de 2012, como Ibraima Camará, António
Injai, Estêvão Na Mena, Daba Naualna e Mamadu Turé, estão impedidos de se
deslocar ao estrangeiro, mas em 30 de Junho último Naualna foi nomeado
presidente do Supremo Tribunal Militar; e Tchipa Na Bidon presidente do Tribunal
Militar da Região Centro.
Existe um sentimento generalizado de profunda frustração, tanto entre a
população da Guiné-Bissau como entre quem no exterior segue o que lá se
passa.
Caíram os governos de Domingos Simões Pereira e de Carlos Correia, qualquer
dia poderá cair o de Baciro Djá; e o Presidente José Mário Vaz é muito mal visto
por uma parte substancial dos seus compatriotas.
O Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento, a União Europeia e o
Fundo Monetário Internacional estão-se mais ou menos nas tintas para os
sofrimentos do povo guineense, devido à falta de entendimento dos principais
órgãos de soberania.
Enquanto o Presidente da República, o presidente da Assembleia Nacional e os
dirigentes dos principais partidos não se conseguirem entender, a Guiné-Bissau
não avança, não sai do atoleiro. Por mais relatórios que o secretário-geral das
Nações Unidas elabore, por mais reuniões que o Conselho de Segurança faça.
À falta de um milagre, ou de uma completa regeneração da classe política, a
Guiné-Bissau é um tremendo equívoco. Um pequeno e extremamente complexo país
pós-colonial, ainda à procura de si próprio.
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