19.3.16

Angola elogia Portas

Na despedida como líder do partido no qual se forjou e projectou como um dos políticos portugueses de referência, o ex vice-primeiro-ministro e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, fez questão de tecer algumas considerações sobre as relações entre o seu país e Angola. Paulo Portas foi claro em realçar a importância de Angola na diplomacia portuguesa e defendeu que Portugal “não está em condições de (a) substituir” na política externa. “Com a autoridade de quem trabalhou muito, Portugal não está em condições de substituir Angola na política externa, pelo número de portugueses que lá vivem, pelas duas mil empresas que estão em Angola e merecem a nossa protecção, pela interpenetração das duas economias, apelo a todos os órgãos de soberania para terem isto presente”, disse o político português no seu último discurso no congresso do CDS-PP que elegeu uma nova liderança. O antigo líder do CDS-PP (Centro Democrático e Social - Partido Popular) fez ainda referência à “tendência para a judicialização” das relações entre Portugal e Angola, tendo considerado que “isso seria um caminho sem retorno”. Palavras de um político que se estreou na governação em Portugal no XV Governo Constitucional, entre 2002 e 2004, como ministro de Estado e da Defesa Nacional, no Executivo liderado por José Manuel Durão Barroso, do PSD, com o qual o CDS-PP havia estabelecido uma coligação. O regresso de Paulo Portas à governação aconteceria em 2011, no Governo de Pedro Passos Coelho, na sequência de nova coligação entre o CDS-PP e o PSD. A visão de Paulo Portas é, pois, a de um político com ideias fundadas na experiência e maturidade relativamente ao modo mais justo e adequado de conduzir as relações entre Estados, salvaguardando não apenas os interesses bilaterais mas, acima de tudo, respeitando as mais elementares normas do direito internacional. Enquanto governante Paulo Portas teve oportunidade para avaliar que as relações entre Portugal e Angola têm muito mais a ganhar se se fizer uma aposta séria e responsável no reforço do diálogo e na abertura de novas portas à cooperação bilateral. Esta análise realista dos factos permitiu que os laços entre os dois países fossem, em diferentes ocasiões, particularmente estreitados, tendo contribuído para esse facto o empenho pessoal do ex vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros luso. Da parte de Angola e dos angolanos, sempre houve disponibilidade e abertura para manter com Portugal uma relação franca, aberta e na base do respeito mútuo e pela soberania dos dois povos. Os povos angolano e português possuem laços culturais e partilham afectos que datam de longos anos de convivência. Todavia nem sempre há, da parte de Portugal, a compreensão necessária para aceitar e respeitar mudanças que a História ditou. Ou melhor, nem sempre há a lucidez e inteligência que Paulo Portas verteu na sua mensagem e que, entendemos, tem destinatários muito específicos. De facto, o facto mais recente de “judicialização das relações” entre Portugal e Angola e consequente aproveitamento pela comunicação social lusa para manchar a imagem de dignitários angolanos, tem a ver com notícias postas a circular, a partir de Lisboa, dando conta de um alegado envolvimento do Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, num escândalo revelado no âmbito da denominada “Operação Fizz”. O pronto desmentido feito pelo Vice-Presidente da República e a sua total disponibilidade para esclarecer os factos contrastam grandemente com a conduta traiçoeira de entidades portuguesas envolvidas nessas campanhas, algumas das quais com grandes responsabilidades no plano jurídico e plenas conhecedoras das regras que devem ser observadas no sentido de evitar a ofensa à honra, ao bom nome e à imagem de quem quer que seja. A verdade é que certos círculos entenderam transformar Portugal numa plataforma de ataques soezes contra Angola e os seus dirigentes. É claro que isso não aproveita à excelência das relações que se pretende entre os dois países. Sabemos não serem inocentes esses ataques, o envolvimento da comunicação social e tão pouco a conduta das fontes oficiais que têm estado na origem das informações criminosamente adulteradas. Jornal de Angola

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