20.9.15
José Eduardo: 36 anos na Presidência
José Eduardo dos Santos
36 anos de um poder quase despótico
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O Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, que há 36 anos foi eleito presidente do MPLA, por morte de António Agostinho Neto, deverá candidatar-se a mais um mandato em 2017. A intenção do chefe de Estado, que se encontra no poder há bem metade da sua já longa vida, foi manifestada na última reunião ordinária do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no fim de Abril.
O Comité Central aprovou, nessa reunião, a proposta de José Eduardo dos Santos para criar um grupo de trabalho que ficará encarregado de elaborar a nova moção do líder.
O facto de ter sido o próprio Presidente a propô-la é um forte indício de que pretende continuar à frente do partido depois do Congresso previsto para 2016 e, quase certamente, será candidato à reeleição como Presidente da República em 2017, ficando assim no poder para cima de 38 anos, o que é claramente um exagero.
José Eduardo dos Santos foi eleito presidente do MPLA a 20 de Setembro de 1979 e investido, no dia seguinte, nos cargos de presidente do MPLA, de Presidente da República de Angola e comandante-chefe das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola).
Chegou ao poder, segundo alguns, porque era, dos presidenciáveis, o mais fraco. Nos primeiros anos manteve-se muito discreto. Mas depois sobreviveu à queda do Muro de Berlim, aceitou o capitalismo e permitiu que a família enriquecesse.
Ele está há quase tanto tempo no poder quanto o despótico Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que arranjou artes de se infiltrar na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP); e ambos são uma negação das práticas democráticas pelas quais os estados se deveriam reger.
Num interregno da guerra civil angolana, em 1992, depois dos acordos de Bicesse, assinados em Portugal, José Eduardo dos Santos teve 49,57% dos votos na primeira volta, contra 40,6% de Jonas Savimbi, líder da UNITA; e já não houve oportunidade de se disputar uma segunda volta.
Nas legislativas de 2008, depois da morte de Savimbi e do fim da guerra, o MPLA ganhou com 81,6% e nas de 2012 com 71%, sem que se efectuassem eleições directas para a Presidência da República. De acordo com a Nova Constituição, o chefe do partido angolano vencedor das legislativas fica automaticamente com a chefia do Estado.
Ao contrário da democraticidade a que assistimos na África do Sul, em Moçambique e na Namíbia, em Angola não parece que quem se instalou no topo do poder esteja minimamente disponível para de lá sair, pelo que alguns observadores se têm referido ao engenheiro José Eduardo dos Santos como um déspota algo discreto.
Ele é daquela espécie de homens que parecem entender que, uma vez Presidente, Presidente para sempre, como se acaso fosse um rei, um soba grande, um régulo com plenos poderes sobre todo o seu povo.
Nem Lopo do Nascimento nem Marcolino Moco nem nenhum outro foram até agora considerados capazes de vir a suceder ao engenheiro de petróleos que parece apostado em completar quatro décadas à frente dos destinos de Angola, terra de petróleo e de diamantes.
Numa entrevista à rede Bandeirantes do Brasil, o Presidente angolano reconheceu que está há demasiado tempo no poder: “Eu acho que é muito tempo, até demasiado, mas também temos que ver as razões de natureza conjuntural que nos levaram a esta situação".
A maquiavélica criatura, "o Príncipe", arranja sempre todas as justificações possíveis para se perpetuar no poder, como se fosse Obiang, Robert Mugabe ou outro daqueles políticos que envergonham a África, que ficaria muito mal vista no concerto das nações se, por outro lado, não se pudesse orgulhar de criaturas como Nelson Mandela, Joaquim Alberto Chissano ou Pedro Pires.
Só nos resta pois esperar que as consciências despertem, que os angolanos acabem por se poder expressar livremente e que, a médio prazo, a Presidência da República venha a caber a alguém que não se aposse dela como de uma propriedade privada, para o resto da vida. Jorge Heitor
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