5.2.16
Bissau: A ligação a Macau
Jornal Tribuna de Macau, 21 Set 2008
No próximo mês, um grupo de empresários locais parte rumo à Guiné-Bissau à procura de oportunidades de investimento. Em relação aos projectos que já estão em cima da mesa, nomeadamente ao da Geocapital ligado aos biocombustíveis, o presidente “Nino” Vieira pouco adianta: faltam detalhes, diz.
por DIANA DO MAR
O projecto da Geocapital de Stanley Ho no sector dos biocombustíveis continua sem novidades. O presidente da Guiné-Bissau, que esteve ontem no território a convite do Chefe do Executivo, foi parco em palavras, tendo garantido que o projecto “está aprovado” e que faltam apenas “os detalhes”. “Os estudos já foram todos feitos”, frisou ontem João Bernardo “Nino” Vieira aos jornalistas.
Stanley Ho não é o único empresário local interessado em investir em África. John Lo planeia construir numa unidade hoteleira, que como reiterou ontem, deve arrancar no próximo ano. Questionado quanto à intenção do director da Sociedade Internacional Grupo Excelente, “Nino” Vieira foi claro: “Gostava que arrancasse já”. Porém, continuou, “existem problemas burocráticos”.
O hotel que incluirá um centro comercial e que se destina aos turismo de negócios, representa um investimento de mais de 60 milhões de patacas não é o único projecto do empresário local. Na Guiné-Bissau desde 2001, nomeadamente com negócios na agricultura, John Lo quer adquirir uma companhia aérea guineense através de uma “joint-venture”. Porém, afiançou ontem, as negociações com a transportadora estão a demorar.
Ao nível do investimento privado, “Nino” Vieira tocou ainda outro nome: Gabriel Ho. É que o filho do magnata do jogo Stanley Ho pretende “aventurar-se” por África. “Prometeu grandes investimentos”, mas “ele é que sabe o que quer”, afirmou o chefe de Estado.
Ontem, “Nino” Vieira deixou de novo o convite aos empresários para investirem na Guiné-Bissau. Isto porque “não é só receber, também queremos dar”, destacou, fazendo referência, por exemplo, à rica gama de recursos naturais daquele país localizado na costa ocidental africana. “Fala-se muito do petróleo ‘off-shore’”, acrescentou, sublinhando o interesse numa política de reciprocidade. Entretanto, no próximo mês, um grupo de empresários locais chefiados por John Lo vai visitar a Guiné-Bissau.
A importância de que se reveste a RAEM no âmbito das relações sino-africanas também mereceu destaque da parte de “Nino” Vieira, que ressalvou o “papel de ponte” que Macau representa. Como frisou, basta pensar na língua em comum — ferramenta indispensável quando se fala de negócios, acrescentou. Mas não é só isso. A título de exemplo, sublinhou o facto da RAEM ser o palco de formação de quadros guineenses. “Anualmente existem 10 bolsas na Universidade de Macau financiadas pela Fundação Macau”, disse. Além disso, a RAEM pode servir para promover ainda mais outros sectores como o turismo, no qual possui uma vasta experiência, rematou.
PLANOS CONCRETOS. A visita, que serviu para “fazer o balanço e traçar perspectivas futuras”, veio destacar, segundo “Nino” Vieira, o apoio que a China tem facultado à Guiné-Bissau.
Em concreto, avizinham-se três grandes empreendimentos guineenses com “carimbo” chinês: a construção do Palácio do Governo e da Justiça e o alargamento do porto pesqueiro, revelou “Nino” Vieira, acrescentando que, tanto quanto sabe, serão ainda criadas vias terrestres adjacentes, permitindo o recurso à mão-de-obra guineense. Com o Governo Central, existem ainda acordos no sector das pescas, prevendo-se outros nas áreas das telecomunicações e transportes.
“Nino” Vieira demarcou ainda que a “mão” chinesa não se verifica apenas ao nível financeiro, já que faculta apoio técnico, dá formação e assistência social, disse, respondendo a uma questão sobre a cólera que, segundo apurou o presidente guineense antes de partir de Bissau, já tinha tirado a vida a cerca de 90 pessoas no país.
Quanto ao narcotráfico — um tema que tem “puxado” a Guiné-Bissau para as primeiras páginas dos jornais -, “Nino” Vieira foi peremptório: “Já pedimos ajuda à comunidade internacional”. Segundo o responsável, as autoridades locais estão empenhadas, tanto que no próximo mês Bissau vai participar numa conferência sobre o tema, em Cabo Verde.
Guiné nomeia cônsul honorário para Macau
John Lo, director da Sociedade Internacional Grupo Excelente, foi nomeado cônsul honorário da Guiné-Bissau em Macau. A novidade foi ontem dada pelo presidente guineense. “Nino” Vieira sublinhou que “é sempre bom que haja alguém a falar da Guiné” e que John Lo vai ser um importante “elo de ligação”. Comentando a indigitação, o empresário da RAEM disse sentir-se orgulhoso e prometeu continuar a promover a Guiné-Bissau na China. Hong Kong também ganhou ontem um cônsul honorário da Guiné. Trata-se do empresário Gabriel Ho, filho do magnata do jogo, Stanley Ho, que já fez igualmente saber ao Governo de Bissau a sua intenção de investir no país.
Francis Tam elogia comunidade guineense
“Aqui em Macau abrigamos e acolhemos muitos guineenses”, realçou ontem o Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, no jantar que ofereceu ao presidente da Guiné-Bissau, “Nino” Vieira. “Apreciamos a sua integração, trabalhos e dedicações, bem como a activa contribuição na especialização do objectivo que é tanto nosso como vosso: transformar Macau em plataforma pluricontinental para o desenvolvimento contínuo e mutuamente vantajoso das relações económicas e comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, destacou. O jantar encerrou o programa da visita de dois dias do líder guineense a Macau, que seguiu ainda ontem para Hong Kong. ------
Menos de seis meses depois do Presidente guineense ter andado pelo Extremo Oriente, o Chefe do Estado-Maior General, Tagme Na Waie, foi morto por uma bomba de origem tailandesa. E o próprio Nino Vieira assassinado algumas horas depois.
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