21.2.16
Daesh visa Rússia e China
A princípio o «Emirado islâmico» apregoou a sua origem árabe. Esta organização surgiu da «Al-Qaida no Iraque» que combatia não os invasores norte-americanos, mas sim os Xiitas iraquianos. Ela tornou-se «Emirado islâmico no Iraque», depois «Emirado islâmico no Iraque e no Levante». Em outubro de 2007, o exército dos E.U. capturou em Sinjar perto de 606 fichas de membros estrangeiros desta organização. Elas foram depuradas e estudadas por peritos da Academia militar de West Point.
Não obstante, alguns dias depois desta apreensão, o emir al-Baghdadi declarou que a sua organização só incluia 200 combatentes e que eles eram todos Iraquianos. Esta mentira é comparável à das outras organizações terroristas na Síria que declaram não contar senão ocasionalmente com estrangeiros, enquanto o Exército árabe sírio avalia em, pelo menos, 250.000 o número de jihadistas estrangeiros que terão combatido na Síria durante os últimos três anos. Porém, agora, o califa Ibrahim (novo nome do emir al-Baghdadi) reivindica que a organização dele é amplamente formada por estrangeiros, que o território sírio não é mais para os Sírios e o território iraquiano não é mais para os Iraquianos, mas, sim, que serão para os seus jihadistas.
Segundo as fichas apanhadas em Sinjar, 41% dos terroristas estrangeiros membros do «Emirado islâmico no Iraque» eram de nacionalidade saudita, 18,8% eram Líbios, e apenas 8,2% eram Sírios. Se relacionarmos estes números com a população de cada um dos países em questão, a população líbia forneceu, proporcionalmente 2 vezes mais combatentes que a da Arábia saudita e 5 vezes mais que a da Síria.
Em relação aos jihadistas sírios, a sua origem era dispersa pelo país, mas 34,3% provinham da cidade de Deir ez-Zor que, depois da retirada do «Emirado islâmico» de Raqqa, se tornou na capital do Califado.
Na Síria, Deir ez-Zor tem a particularidade de ser povoada, maioritariamente, por árabes sunitas organizados em tribos, e por minorias curda e arménia. Ora, até ao presente, os Estados Unidos não conseguiram destruir senão Governos como o do Afeganistão, do Iraque, e da Líbia, quer dizer países onde a população está organizada em tribos. Pelo contrário, eles falharam por todo lado onde isto não se passava. Deste ponto de vista, Deir ez-Zor, em particular, e o Nordeste da Síria em geral, poderão, pois, ser potencialmente conquistados, mas não o resto do país, como se vê desde há três anos.
Tarkhan Batirashvili, sargento das informações militares georgianas, tornou-se um dos principais chefes do «Emirado islâmico» sob o nome de Abou Omar al-Shishani.
Desde há duas semanas uma purga atinge os oficiais magrebinos. Assim, os Tunisinos que capturaram o aeroporto militar de Raqqa, a 25 de agosto, foram detidos por desobediência, julgados e executados pelos seus superiores. O «Emirado islâmico» entende meter os seus combatentes árabes no devido lugar e promover oficiais tchetchenos, gentilmente fornecidos pelos serviços secretos georgianos.
Uma outra categoria de jihadista fez a sua aparição: os Chineses. Desde junho, os Estados Unidos e a Turquia transportaram centenas de combatentes chineses, e suas famílias, para o Nordeste da Síria. Alguns de entre eles tornaram-se imediatamente oficiais. Trata-se sobretudo de Uígures, Chineses da China popular, mas que são muçulmanos sunitas e turcófonos.
Torna-se claro, desde logo que, a termo, o «Emirado islâmico» estenderá as suas actividades à Rússia e à China, e que estes dois países são os seus alvos finais.
Iremos seguramente assistir a uma nova operação de propaganda da Otan: a sua aviação expulsará os jihadistas para fora do Iraque, e deixará que se instalem em Deir ez-Zor. A CIA fornecerá o dinheiro, armamento, munições e as informações aos «revolucionários sírios moderados» (sic) do ESL (Exército sírio livre), que mudarão então de casaca e a utilizarão sob a bandeira do «Emirado islâmico», como tem sido o caso desde maio de 2013.
À época, o senador John McCain veio ilegalmente à Síria econtrar-se com o estado- maior do ESL. De acordo com a fotografia difundida, então, para atestar a reunião, este estado-maior incluía um certo Abu Youssef (ou Ibraim al-Badri), oficialmente procurado pelo departamento de Estado dos E.U., sob o nome de Abu Du’a, na realidade o actual califa Ibrahim. Assim, o mesmo homem era— simultaneamente— um chefe moderado no seio do ESL e um chefe extremista no seio do «Emirado Islâmico».
Munidos com esta informação poderemos avaliar, pelo seu verdadeiro significado, o documento apresentado ao Conselho de Segurança, a 14 de Julho, pelo embaixador sírio Bashar Jaafari. Trata-se de uma carta do comandante-em-chefe do ESL, Salim Idriss, datada de 17 de janeiro de 2014. Nele pode ler-se : «Informo-vos, pela presente, que as munições enviadas pelo estado-maior aos dirigentes dos conselhos militares revolucionários da região Leste devem ser distribuídos, de acordo com o que foi acordado, por dois terços aos comandantes de guerra da Frente el-Nosra, o terço restante devendo ser repartido entre os militares e os elementos revolucionários para a luta contra os bandos do EIIL (Exército islâmico do Iraque e do Levante). Agradecemos-vos que nos enviem o comprovativo de entrega de todas as munições, especificando as quantidades, e a qualidade, devidamente assinados pelos dirigentes e pelos chefes de guerra em pessoa, afim de que possamos encaminhá-los para os parceiros turcos e franceses». Por outras palavras, duas potências da Otan (Turquia e França) entregaram munições, na quantidade de dois terços, à Frente Al-Nosra (classificado como membro da al-Qaida pelo Conselho de Segurança) e, de um terço, ao ESL para que este combata contra o «Emirado Islâmico», cujo chefe é um dos seus oficiais superiores. Na verdade, o ESL desapareceu no terreno e as munições foram, portanto, em dois terços enviadas à al-Qaida e um por um terço ao «Emirado Islâmico».
Graçaas a este embrulho de dupla capa, a Otan poderá continuar a lançar as suas hordas de jihadistas contra a Síria, enquanto vai, ao mesmo tempo, fingindo assim estar a combatê-los.
No entanto, quando a Otan tiver instalado o caos por todo o mundo árabe, inclusive no seu aliado saudita, ela irá virar o «Emirado Islâmico» contra as duas grandes potências em desenvolvimento, a Rússia e a China. Por isso estas duas potências deveriam intervir desde já e exterminar, no ninho, o exército privado que a Otan está em vias de fabricar e de treinar no mundo árabe. Caso contrário, Moscovo e Pequim terão, em breve, de o enfrentar no seu próprio solo ..
Thierry Meyssan rede Voltaire
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário