23.8.15

Darfur: Um genocídio no século XXI

O conflito no Darfur, que logo em 2004 foi considerado pelo Congresso dos Estados Unidos um autêntico genocídio, arrasta-se há
anos numa região semi-árida da parte ocidental do Sudão e tem fortes repercussões nos vizinhos Chade e República Centro-Africana. Tudo começou a ser notado no início de 2003, quando grupos rebeldes atacaram instalações governamentais, alegando que as comunidades locais, que na sua maioria se dedicam ao amanho da terra, estavam a ser alvo de uma milícia de nómadas criadores de camelos chamada janjawid. Darfur significa, etimologicamente, a terra dos fur, o principal povo da região, que vive tradicionalmente do cultivo de milho miúdo, ou paínço. Muçulmanos negros que falam uma língua nilo-sariana. Os rebeldes desse vasto território que tem o tamanho da França - e cerca de 6,5 milhões de habitantes - queixam-se de que guerreiros que se deslocam a cavalo e de camelo começaram, com o beneplácito das autoridades árabes de Cartum, a assaltar as terras onde poderia haver água e pastagens. O regime do marechal-de-campo Omar Hassan al-Bashir, que tomou o poder em 1989, não tem querido reconhecer que apoia a milícia janjawid, preferindo acusar algumas potências estrangeiras de simpatizarem com os grupos rebeldes que se afirmam representativos das mais antigas tradições da região. Os fur, os zaghawa e os massalit são os grupos étnicos que se consideram vítimas deste primeiro genocídio do século XXI, o qual segundo algumas estimativas já teria feito perto de 450.000 mortos, para além de haver forçado dois milhões e meio de pessoas a abandonar os seus lares. “Limpeza étnica” é também uma expressão que já tem sido utilizada quando se fala dos horrores do Darfur, com a aviação governamental a bombardear aldeias, por onde em seguida passam os janjawid, para as pilhar. Jorge Heitor Natal de 2006

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