8.8.15

Grécia; 4600 anos de vida

Desde o surgimento da civilização minoica, na ilha de Creta, até ao anúncio, há semanas, de novas negociações entre a comunidade internacional e a Grécia, decorreram sensivelmente 4600 anos. De tudo isso nos fala, com grande interesse, Pedro Caldeira Rodrigues, no seu livro "O sobressalto grego", lançado esta semana em Lisboa. A Antiguidade, a Época Bizantina, a recuperação da independência e a expansão territorial, a contraofensiva dos turcos em 1922, a colocação da Grécia na esfera de influência britânica, em 1944, e tudo o mais que daí em diante se passou são descritos com grande sabedoria por este jornalista, Mestre em História e Cultura Europeias Contemporâneas pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Não se pode de forma alguma chegar à actualidade sem se conhecer tanta coisa que ao longo dos séculos foi acontecendo em Creta, em Chipre, nas Ilhas Jónicas e em outros pedaços do grande espaço helénico. É esse o grande trunfo de Pedro Caldeira Rodrigues, que nos relata tanto o que aprendeu com a sua própria experiência como o que foi beber a Sophia, a Frederico Lourenço, a Hélia Correia e a outros que não conseguiram passar incólumes ao lado do fascínio que a Grécia sempre despertou em tanta gente. Para ele, a História grega e o sobressalto dos gregos não começaram de forma alguma com Tsipras, Varoufakis e Tsakalotos. Vêm indubitavelmente de muito mais longe, não esquecendo o terror pelo declínio que marcou sucessivas gerações de intelectuais, desde há bem mais de um século. É "um lamento infindável, um sofrimento interior e solitário", detectável na música, na poesia e em outras formas da cultura helénica, como a canção que diz: "Estou a arder, estou a arder/deitem mais óleo no fogo/Estou a afogar-me, estou a afogar-me/lancem-me para as profundezas do mar". Com uma extrema sensibilidade, Pedro Caldeira Rodrigues fala-nos da ditadura dos coronéis, da revolta estudantil, da ascensão e queda do PASOK, da entrada da Grécia na moeda única europeia e de tudo o mais que convém saber para se entender como deve de ser este emblemático ano de 2015. Seria praticamente impossível fazer melhor, pois que o autor sintetizou em 176 páginas a vida e o drama de um povo a quem todos tanto devemos. Obrigado. Ehfkhareesto.

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