6.8.07

IV Governo Constitucional de Timor-Leste

O Presidente José Ramos-Horta, que em Maio sucedeu a Xanana Gusmão, convidou ontem formalmente este a formar Governo, com base na Aliança com Maioria Parlamentar (AMP) constituída por quatro partidos depois das legislativas de 30 de Junho. Num discurso de nove páginas, que há cinco dias estava a ser aguardado, Ramos-Horta começou por felicitar o novo presidente do Parlamento Nacional, Fernando de Araújo, que “faz parte da nova geração que muito contribuiu para que hoje a pátria seja livre”. E logo a seguir saudou os ex-guerrilheiros e os antigos prisioneiros, tendo destacado que as mulheres ocupam 30 por cento dos lugares na nova legislatura.
O Chefe de Estado disse haver procurado “uma solução o mais abrangente possível”, mas que não foi possível “uma convergência de vontades”, pelo que acabou por se decidir pelo “sentimento geral dentro do Parlamento”, onde toda a mesa - presidente, vice-presidente e secretárias - passou a pertencer aos partidos da Aliança: CNRT, PD, PSD e ASDT. De qualquer modo, sempre foi afirmando que o novo Executivo “terá de respeitar toda a oposição e os seus diferentes pontos de vista”; e teve palavras de apreço para os que “têm governado e tomado até aqui conta da vida pública segundo o interesse geral.
Ramos-Horta observou ter encontrado no secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, “serenidade e sentido de Estado”; mas isso não foi suficiente para que a violência njão tivesse surgido de imediato, primeiro em Baucau e depois em Díli, por parte de grupos que lançaram pedras, bloquearam estradas e queimaram pneus. Na área de alguns acampamentos para deslocados, surgiram cartazes a dizer “Xanana é um fantoche” e a acusar o antigo Presidente de estar sob a influência da vizinha Austrália e da Administração Bush. O edifício da Alfândega “foi totalmente destruído por um incêndio”, segundo fonte policial; mas o delegado da agência Lusa em Díli, Pedro Rosa Mendes, comentou à Antena Um que estes incidentes não teriam sido muito mais graves do que os que periodicamente se têm verificado na cidade.
Perto de um décimo da população total do país está ainda a viver em condições precárias, em acampamentos ou residências provisórias; e esse fenómeno potencia muita da agitação que se faz sentir em Timor-Leste e que obriga à presença de forças militares e policiais estrangeiras.
“É um golpe de estado constitucional”, considerou Alkatiri o facto de a Fretilin, apesar de partido mais votado, não ter sido convidada a formar Governo; mas o catedrático português Barbedo Magalhães, especialista em questões timorenses, ouvido pela Antena Um, comentou que tal posição não passa de “um embuste e uma mentira”.
De acordo com fontes da AMP auscultadas telefonicamente pelo PÚBLICO, o elenco governamental de Xanana Gusmão a tomar posse amanhã terá muito possivelmente um vice-primeiro-ministro (José Luís Guterres ou Zacarias Albano da Costa), uma mulher na Justiça (Lúcia Lobato) e até mesmo alguns independentes, como o investigador João Câncio (Educação) e o jovem médico Nelson Santos (Saúde). O secretário-geral do PD, Mariano Sabino Lopes, é dado como certo na Agricultura, enquanto para a Economia e Desenvolvimento poderá ir João Gonçalves, antigo líder parlamentar do PSD, e para as Finanças Emília Pires, ficando Gil da Costa Alves a trabalhar na área do Comércio e Indústria.
Jorge Heitor 7 de Agosto de 2007

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