29.12.10

Jean Ziegler contra a guerra na Costa do Marfim

O Presidente cessante da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, parece agora talvez mais bem colocado do que o estava há oito dias, pois que resistiu com força a pressões internacionais e soube ganhar tempo, mobilizando alguns dos seus contactos.
O sociólogo suíço Jean Ziegler é agora uma das pessoas que não querem que se verifique uma intervenção militar e que Gbagbo seja corrido pela força das armas.
As palavras mais excitadas do primeiro-ministro queniano Raila Odinga e as sanções da União Europeia ainda não surtiram qualquer efeito, pelo que Gbagbo chega ao fim do ano numa posição de poder, longe das perspectivas que havia em 20 de Dezembro de que estaria apenas por um fio.
Enquanto o secretário-geral das Nações Unidas e o Presidente da França falaram alto, a favor de Alassane Ouattara, os amigos e confrades de Gbagbo moveram-se na sombra, ajudando-o a resistir e a não aceitar partir para o exílio de uma semana para a outra.
A situação mostra-se extremamente complexa e demonstra bem como é que determinados governantes africanos se conseguem aguentar no seu posto, contra ventos e marés, durante muito mais tempo do que inicialmente se acreditaria.
O folhetim prossegue na próxima semana, quando o Presidente Pedro Pires e outros chefes de Estado e de Governo regressarem a Abidjan, com novas propostas para se resolver o impasse destas últimas quatro semanas.
Nesta contingência não haverá verdadeiramente deuses nem demónios, mas pura e simplesmente facções que se digladiam e tentam cada uma delas ficar na mó de cima.

27.12.10

A Grande Loja da Costa do Marfim

Há quem pretenda ver nos actuais acontecimentos da Costa do Marfim o reflexo de conflitos entre diferentes correntes da franco-maçonaria.
Em Abidjan funciona a Grande Loja da Costa do Marfim, com um Conselho Supremo e um Directório Escocês, entre outros órgãos. E pela África fora têm sido referenciados uma série de presidentes maçónicos, como o histórico Omar Bongo (Gabão), Dennis Sassou-Nguesso (República do Congo), Idriss Déby (Chade), François Bozizé (República Centro-Africana) e Blaise Campaoré (Burkina Faso).
De onde, não custa a acreditar que as diferentes lojas maçónicas, os diferentes ritos, desde a Escócia a York, tenham vindo a acompanhar a vida na Costa do Marfim.
Maçónicos foram, ao longo dos anos, indivíduos como Eduardo VII, Eduardo VIII (duque de Windsor), Jorge VI, Sibelius, Pierre Mendés-France, Stendhal e Magalhães Lima.
Esta é uma das pistas possíveis para a leitura da actualidade marfinense, a par da dicotomia socialismo/liberalismo e dos interesses conflituosos que o Ocidente e o Leste, nomeadamente a China, têm no que diz respeito à África e aos seus recursos naturais.
Canadá, Estados Unidos e a França degaullista estão agora de acordo em que Alassane Ouattara deverá ser o porta-voz dos seus interesses, pelo que sublinham o mais possível os defeitos de Laurent Gbagbo, um protegido da Internacional Socialista.
Nenhum dos campos estará isento de culpas. Jorge Heitor

26.12.10

Cheira muito a petróleo na Costa do Marfim

http://presscore.ca/2011/?p=676 ----
The country of the Ivory Coast contains many natural resources. One of the main natural resources found is petroleum. Petroleum is the base of the gasoline used in the cars we drive today. Part of the petroleum found is exported out to the United States of America. Diamonds, the hardest known rock in the world, is another natural resource found in this country. Copper and iron ore are two very useful resources unearthed in this small country. The main natural resource that is not excavated from the ground is found in the rivers of this country, fish. This greatly affects the eating habits of Ivorians. One other natural resource found in the Ivory Coast is cobalt. The diversity of natural resources is very large in the Ivory Coast.

----Cheira a petróleo, a diamantes e a cobalto, por isso se compreende que a União Europeia e os Estados Unidos estejam tão interessados em saber quem é que na verdade vai gerir todas essas riquezas. E manifestem preferência por um economista, como o é Alassane Dramane Ouattara, de há muito um dos grandes homens do FMI.

Alassane Ouattara falou em defesa do euro

The euro area can, nonetheless, contribute to recovery. I mentioned earlier the scope that exists for further monetary easing if growth remains weak. In addition, a successful economic and monetary union (EMU) will bring a broader and deeper European capital market, offering new opportunities to savers and borrowers the world over. It should facilitate European growth in the medium-term, and all that entails for the world economy. It also offers new scope for global cooperation-and the IMF looks forward to playing a major role in this process.

Ouattara no Mónaco, em Março de 1999

O novo Presidente da Costa do Marfim defende há mais de 11 anos a união económica e monetária, como meio de facilitar o crescimento europeu

Um liberal de firmes convicções; e fortes ligações, cujo casamento com Dominique, de origem sefardita, foi celebrado por Nicolas Sarkozy, então maire de Neuilly

Os Ouattara e a grande finança internacional

Derrière chaque grand homme se trouve une grande dame, dit-on. Cela se vérifie aisément. Inconditionnel soutien de son mari, le géant des finances internationales et premier opposant de Côte d`Ivoire, Alassane Ouattara, Dominique Folloroux est avant tout une femme d`affaires. Elle prend les rènes de la société immobilière Aici en 1979, et gère les biens immobiliers de très hautes personnalités, dont feu de Président Félix Houphouët-Boigny, le Président Omar Bongo Odimba du Gabon, etc. Tout en implantant des agences en Côte d`Ivoire, puis en France, elle rachète en 1996 les franchises de Jacques Dessange aux Etats-Unis. Le groupe qu`elle a fondé emploie aujourd`hui près de 250 personnes sur trois continents. Cette habituée des pages people met à profit ses relations et crée en 1998 Children of Africa, une fondation pour la promotion sociale de l`enfance en Afrique, parrainée par la princesse Ira de Fürstenberg.

Abidjan net

24.12.10

A importância de Madame Dominique Ouattara

Nascida há 57 anos na cidade argelina de Constatina, de nacionalidade francesa, Dominique Claudine Novion Folloroux é agora a primeira dama da Costa do Marfim, pois que em 1990 se casou em segundas núpcias com o então primeiro-ministro Allasane Dramane Ouamara. Celebrou esse casamento o maire de Neully, um sujeito de pequena estatura chamado Nicolas Sarkozy. Talvez saibam de quem se trata, pois que ultimamente tem sido visto ao lado da bela italiana Carla Bruni.
Dominique Claudine Novion, viúva Folloroux, senhora Ouattara, é uma mulher riquíssima, de origem sefardita.
Bastante conhecida nos meios empresariais, nomeadamente nos que têm algo a ver com Israel, como chegou a notar a jornalista belga Colette Braeckman, no Le Soir, de Bruxelas, a loira Madame Ouattara ainda deverá vir a dar muito que falar, pois que algumas pessoas andam a escrutinar a sua vida. E até já se fala de eventual lavagem de dinheiros.
Os interesses financeiros do novo casal presidencial são representados por Midale Simon, presidente honorário do N'Bai B'Rith (Os Filhos da Aliança) France e membro da direcção do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França.
Talvez estas informações que aqui vos deixo ajudem um pouco a explicar por que é que os presidentes da França e dos Estados Unidos se encontram tão empenhados em que seja feita justiça ao economista Alassane Ouattara, que já foi figura grada do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Achegas para se tentar compreender tantos apoios a Ouattara

Boaz Hirsch, do ministério da Indústria, Comércio e Trabalho, foi o ano passado eleito presidente do Processo de Kimberley, estabelecido em 2003, numa cimeira na Namíbia.
Um painel de especialistas da ONU disse então que Israel, cujo comércio de diamantes está avaliado em mais de 10 biliões de dólares norte-mericanos, poderia estar envolvido na exportação ilegal de diamantes oriundos da Costa do Marfim.
Assim, tendo agora na Presidência pessoas conotadas com a comunidade internacional judaica, o Estado de Israel poderia muito bem aumentar a sua fiscalização do comércio de pedras tão preciosas. Jorge Heitor

22.12.10

Memória de um quase meio século a escrever

Terminei ontem à noite 46 anos e alguns meses de actividade profissional como jornalista, durante a qual passei pela ANI, ANOP, Lusa e PÚBLICO, tendo ainda sido correspondente da Capital, do Tempo e da secção da BBC em língua portuguesa.
Tive como primeiro e grande director o Dr. Francisco de Paula Dutra Faria e como primeiro chefe de redacção o Artur Pedro Gil, dois grandes amigos, que muito me incentivaram.
Desses primeiros 10 anos de actividade recordo também o António Maria Zorro, o Milton Moniz e o Mário Matos e Lemos, que ainda hoje em dia tem o cuidado de me contactar de vez em quando. Bem como os subchefes de redacção Maria Luísa Metzner Leone e Aires Domingos Neves; e ainda o António Santos Gomes, que nos últimos anos tem sido secretário-geral da Lusa.
Da BBC recordo, entre outros, o António Menezes, o Paulo David e o António Cartaxo, enquanto da ANOP me ficaram saudades dos administradores João Tito de Morais, Eduardo Corregedor da Fonseca, Alfredo Duarte Costa e Suleiman Valy Mamede. Da Lusa fica em especial uma profunda gratidão ao administrador António Horta Lobo.
Dos primeiros anos do PÚBLICO evoco o Vicente Jorge Silva, o Jorge Wemans, o Carlos Santos Pereira e a Maria Ângela Carrascalão.
Do tempo restante, posso falar do Jorge Almeida Fernandes, do João Carlos Silva, do Nuno Pacheco, do Miguel Gaspar, da Isabel Coutinho, da Margarida Santos Lopes, do Fernando Sousa... e de tantos outros. Mas é sempre muito mais difícil falar dos anos recentes do que daquilo que aconteceu há um bom quarto de século. Corre-se sempre o risco de esquecer alguém, de não ser justo para com todos, como os querídíssimos camaradas fotógrafos Carlos Lopes, Miguel Madeira, Pedro Barão da Cunha, Daniel Rocha e Rui Gaudêncio. Ou a emérita secretária de direcção Lucília Santos.
De fora do jornal, devo destacar as muitas provas de simpatia que tenho encontrado nos directores da revista moçambicana Prestígio e da revista comboniana Além-Mar, bem como nos catedráticos Eduardo Costa Dias, Gerhard Seibert e Luís Moita.

ONU reconheceu embaixador de Ouattara

Nações Unidas reconheceram agora o embaixador de Alassane Ouattara e pretendem de seguida que o seu contingente na Costa do Marfim seja reforçado com tropas da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Raramente se vira os EUA, a França e uns quantos estados africanos tão encarniçados contra um Presidente cessante quanto agora o estão em relação a Laurent Gbagbo, que no entanto há 10 anos era uma pessoa com muitos amigos; muito em especial na Internacional Socialista, que tem evitado vir a público defendê-lo.
A ONU e o Canadá têm alinhado com as atitudes da Administração Obama e do Presidente Nicolas Sarkozy contra um político africano que nos últimos cinco anos desbaratou todo o capital de simpatia de que dispunha, ao tentar furtar-se por todos os meios a ir às urnas, verificar se tinha ou não condições de ser reeleito.
Tem sido uma semana de mobilização de energias, de Washington a Nova Iorque e a Paris, para se procurar convencer o homem a partir para o exílio, nomeadamente na Nigéria, o mais populoso dos países de África. Mas ele continua a ter a seu lado a primeira e mais poderosa das duas mulheres, Simone, os generais das Forças de Defesa e Segurança, a mocidade de Charles Blé Godé e uns quantos mercenários.
Um dos mais fascinantes assuntos deste final de 2010. De tal modo que até deixou passar despercebida a tomada de posse do mandinga Alpha Condé como Presidente da República da Guiné, numa concorrida cerimónia que levou a Conacri chefes de Estado como Malam Bacai Sanhá e Pedro Pires.

21.12.10

Um discurso de Raúl Castro para ser analisado

O Presidente Raúl Castro disse na Assembleia Nacional que Cuba terá de rectificar a estratégia económica ou a revolução socialista sucumbirá.
Há que modificar “os métodos e estilos de trabalho da organização partidária”, disse Castro (Foto: Enrique De La Osa/Reuters)

“Ou rectificamos ou acaba-se o tempo de andar à volta do precipício. Afundamo-nos e afundamos o esforço de gerações inteiras”, afirmou sábado Castro durante um discurso, no qual se mostrou bastante crítico em relação a erros antigos.

O Presidente preconizou o debate aberto dos problemas, sem se ficar atado a dogmas e esquemas inviáveis, que constituem uma barreira psicológica colocal, que é imprescindível desmontar pouco a pouco”.

As questões que definem o percurso político e económico do regime vão ser abordadas em 2011 numa Conferência Nacional do Partido Comunista de Cuba, depois do VI Congresso do mesmo, que em Abril deve dar o sinal de partida para um sistema de economia mista, com cada vez mais espaço para a economia privada e menor intervenção do Estado.

Há que modificar “os métodos e estilos de trabalho da organização partidária”, de modo a que o PCC dirija e controle, mas não interfira nas actividades do Governo, a nenhum nível”, disse o general Raúl Castro, de 79 anos, irmão mais novo de Fidel, que até Fevereiro de 2002 presidia ao Conselho de Estado e ao Conselho de Ministros.

Mudar a mentalidade

“Há que mudar a mentalidade dos quadros”, pois que até agora se verificou um “excessivo enfoque paternalista, idealista e igualitarista”, considerou o Presidente, segundo o qual alguns dos problemas com que Cuba hoje se debate têm a ver com a caderneta de abastecimentos, medida de distribuição “que beneficia de igual modo os que trabalham e os que não o fazem”.

O fortalecimento do papel do salário naquela ilha das Caraíbas “só será possível se, ao mesmo tempo que se reduz o que é gratuito e os subsídios, se elevar a produtividade do trabalho e a oferta de produtos”, prosseguiu, no seu discurso de mais de uma centena de parágrafos, que levou duas horas a ler.

“É preciso colocar sobre a mesa toda a informação e os argumentos que fundamentam cada decisão; e, ao mesmo tempo, suprimir o excesso de secretismo a que nos habituámos durante mais de 50 anos de cerco por parte do inimigo”, afirmou de igual modo Raúl Castro.

De pé, na tribuna da Assembleia Nacional, o Presidente ergueu uma rosa branca, a evocar um poema do herói nacional José Martí (1853/1895): “Cultivo una rosa blanca”.

17.12.10

O percurso de dois presidentes

Laurent Koudou Gbagbo, antigo professor de História, foi um dos principais adversários do primeiro Presidente da Costa do Marfim, Félix Houphouët-Boigny, e Alassane Dramane Ouattara o seu último primeiro-ministro.
Gbagbo nasceu na região de Gagno, na parte meridional do país; Ouattara não muito longe dali, mas com ascendência no Nordeste, região que faz fronteira com o Burkina Faso. De onde o dizerem os seus adversários que ele não tem sangue 100 por cento marfinense.
Laurent Gbagbo doutorou-se pela Universidade Diderot, em Paris, e tornou-se em 1980 director do Instituto de História, Arte e Arqueologia Africana da Universidade de Abidjan, onde lançou os fundamentos daquela que viria a ser em 1988 a Frente Popular Marfinense (FPI).
Ouattara teve um percurso menos francófono, pois se formou pelo Drexel Institute of Techology, na Pensilvânia, tendo de 1968 a 1973 sido economista do Fundo Monetário Internacional, em Washington, de onde passaria para o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO).
Em Novembro de 1994, o Comité África da Internacional Socialista reuniu-se em Abidjan, a convite de um dos seus partidos, a FPI, e do respectivo líder, Laurent Gbagbo, que fez então a defesa de um código eleitoral moderno, da liberdade de acção e de expressão para os partidos da oposição, e também para os media. Princípios esses que, depois de chegar ao poder, em Outubro de 2000, teve alguma dificuldade em respeitar.
Quanto à União dos Republicanos (RDR), a formação liberal a que Ouattara preside, surgiu em 1994 como uma dissidência do Partido Democrático da Costa do Marfim (PDCI), que desde a proclamação da independência, em 1960, e durante três décadas, fora o único com existência legal. Jorge Heitor

9.12.10

Problema moçambicano de narcotráfico já é antigo

O tráfico de drogas é o maior negócio em Moçambique. O valor das drogas ilegais que passam através de Moçambique representa provavelmente mais do que todo o comércio externo legal combinado, de acordo com peritos internacionais. O rendimento desta actividade, embora não declarado, deve ter hoje um enorme impacto na economia moçambicana. De facto, o dinheiro da droga deve ser um dos factores que pesa no crescimento recorde de Moçambique nos últimos anos.
Moçambique ainda não passa de um actor secundário no cenário internacional da droga. Mas porque se trata de um país muito pobre, estas relativamente pequenas quantidades de dinheiro devem produzir um grande impacto social e económico. Os especialistas estimam que por Moçambique, actualmente, passam por mês mais de uma tonelada de cocaína e heroína. O preço de retalho destas drogas é de cerca de 50 milhões de US$. Parte deste dinheiro, talvez 2,5 milhões de US$, ficam com traficantes dentro de Moçambique.
Este negócio só é possível com o acordo da polícia e funcionários muito importantes de Moçambique. O Guardian de Londres reportou recentemente que o antigo governador de uma província do México recebia 500 000 US$ por cada carregamento de cocaína passando pela sua província. Se o mesmo não se passa em Moçambique, é altura de os altos funcionários renegociarem com os traficantes a sua parte.
O comércio da droga tornou-se importante em Moçambique apenas nos finais dos anos 90 quando os grandes traficantes começaram a procurar rotas alternativas, menos acessíveis ao controlo das agências internacionais. Moçambique passou a ser mais atractivo com o fim da guerra quando se restabeleceram as comunicações através do país. A longa linha costeira, com muitas ilhas e sem marinha, facilita a movimentação de droga. Os baixos salários e o clima de corrupção tornam fácil corromper polícias e outros funcionários.
Os peritos internacionais afirmam que a polícia moçambicana é quase toda corrupta e o aeroporto é considerado "aberto" e acessível a idas e vindas dos portadores de droga. O resultado é que Moçambique é não só um país de trânsito mas também um centro de armazenagem. Como em qualquer negócio, os traficantes precisam de fazer "stocks". Em muitos países isto é arriscado por causa das rusgas a armazéns – mas não em Moçambique. O traficante pode manter a droga aqui armazenada enquanto aguarda encomendas.
Parece haver duas importantes rotas de droga. A heroína movimenta-se do Paquistão para o Dubai para a Tanzânia e para Moçambique, e depois para a Europa. A cocaína vai da Colômbia para o Brasil para Moçambique e segue para a Europa e Ásia de Leste.
Durante muito tempo Moçambique tem sido também grande centro de trânsito para a resina de cânhamo (Cannabis sativa), ou haxixe. As autoridades internacionais consideram-na uma droga leve e dão-lhe menos atenção. Mas ela acrescenta largos milhões de dólares aos lucros dos traficantes.
Quase toda a droga é transportada para fora da África Austral, mas o consumo na África do Sul está em crescimento e os traficantes a partir de Moçambique estão a estabelecer presença no país vizinho. Este comércio deve valer vários milhões de dólares por ano.
Há finalmente o Mandrax (metaquolona) que é consumido quase exclusivamente na África do Sul. Muito do mandrax transita por Moçambique, ou é feito aqui, mas os peritos em drogas dizem que o consumo está em declínio à medida que os consumidores passam para a cocaína.
Como se dispõe do dinheiro:
Os lucros de moçambicanos envolvidos no comércio da droga devem ser de milhões de dólares por ano. Parte deste dinheiro é depositado em bancos no estrangeiro e usado para investimentos no exterior – o que significa que bancos, casas de câmbio e casinos em Moçambique são provavelmente usados para lavagem de dinheiro.
Moçambique tem actualmente 10 bancos e cerca de trinta casas de câmbio, provavelmente mais do que o tamanho da economia legal justificaria. Vários destes bancos parecem ter pouca ligação com a economia interna e fazem os seus lucros à base de transacções cambiais de moeda estrangeira, particularmente proveniente da indústria da ajuda internacional. Não surpreenderia se também fizessem lavagem de dinheiro.
Mas fica em Moçambique uma parte significativa deste dinheiro. Onde?
Algum é usado para consumo – casas e carros de luxo, festas requintadas, etc.
Mas os traficantes tentam também converter uma quantidade substancial de dinheiro da droga em propriedades legais que podem render ou ser vendidas mais tarde, sem que se façam perguntas. Este dinheiro tem provavelmente contribuído para a explosão de novas construções em Maputo (e talvez Nampula ou Pemba). Aí não seriam apenas mansões, mas também novos prédios e hotéis.
O investimento no turismo é útil porque é sempre possível declarar mais hóspedes do que os reais, por exemplo num hotel, e com isto esconder lucros futuros provenientes da droga. Hotéis são também uma base segura para portadores de droga.
O turismo e a banca representam 18 por cento do investimento total dos anos 90, de acordo com um estudo de Carlos Nuno Castel-Branco. Não surpreenderia que uma parte importante dele fosse dinheiro da droga.
Uma área importante de investimento para dinheiro ilegítimo são acções e títulos – o comprador pode pagar em dinheiro com poucas explicações a dar. Mas ao revender títulos e acções, os rendimentos passam a ser honestos.
O presidente da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Jussub Nurmamade, disse a 7 de Junho que o rápido crescimento da BVM era "único": "começámos com 3 milhões de US$ e ainda não passaram dois anos" – disse aos jornalistas. Hoje o valor das cinco companhias listadas na bolsa mais os títulos do tesouro e dos bancos somam 60 milhões de US$ e Nurmamade prevê chegar aos 100 milhões em Outubro. No ano passado o BIM passou a ser a primeira companhia privada a emitir os seus próprios títulos, que são agora negociados na BVM. A emissão de títulos foi para 80 biliões de Meticais (na altura mais de 5 milhões US$), vencendo em cinco anos.
Como pode uma economia tão pequena como a de Moçambique encontrar 100 milhões de US$ em tão curto espaço de tempo? O que torna Moçambique "único" deve ser o dinheiro da droga.
Assim, olhando para a rapidíssima expansão da banca e da bolsa de valores, o "boom" na construção, o crescimento do investimento no turismo e, finalmente, o aumento do consumo de bens de luxo, podemos provavelmente contabilizar uma porção significativa de dezenas de milhões de dólares anuais de lucros da droga.
(Joseph Hanlon) - METICAL Agosto de 2008

ONU não duvida de que Ouattara triunfou

O Conselho de Segurança das Nações Unidas distribuiu hoje um comunicado a reafirmar, de forma inequívoca, que Alassane Ouattara ganhou as presidenciais na Costa do Marfim.

Ao fim de três dias de debate, durante os quais a Rússia se manifestou aparentemente compreensiva com o Presidente cessante, Laurent Gbagbo, que ainda não aceitou a derrota, o Conselho acabou por condenar nos termos mais enérgicos possíveis os esforços de “se subverter a vontade popular”.

Tendo em conta que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), reconheceu o antigo primeiro-ministro Ouattara como Presidente eleito, o Conselho de Segurança pediu a todos os envolvidos no processo que respeitem o resultado do acto eleitoral, que decorreu em duas voltas, a última das quais no dia 28 de Novembro.

A correspondente da BBC em Nova Iorque, Barbara Plett, considera ter sido talvez uma concessão a Moscovo explicar que esta atitude da ONU só é tomada depois de a instância regional, a CEDEAO, se ter pronunciado.

De acordo com os diplomatas acreditados na organização, a Rússia argumentava que o apoio a um dos candidatos nas controversas eleições excedia o mandato das Nações Unidas.

No entanto, a embaixadora norte-americana Susan Rice explicou que a missão da ONU na Costa do Marfim, a cargo de Young-jin Choi, tinha todo o poder para certificar que as eleições haviam decorrido de forma justa, não restando qualquer dúvida quanto à vitória de Ouattara, líder da União dos Republicanos (RDR).

Ao abrigo de um acordo de paz assinado depois da guerra civil desencadeada em 2002, a ONU estava mandatada para aquilatar da justeza do acto eleitoral, que Gbagbo veio a protelar por todas as formas durante os últimos cinco anos.

Os três membros africanos do Conselho de Segurança, Gabão, Nigéria e Uganda, procuraram convencer a Rússia a deixar de se opor a que as Nações Unidas reconhecessem de forma irrefutável Alassane Ouattara como o Presidente eleito da Costa do Marfim.

Aliás, o Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, já afirmara não serem necessárias mais tentativas de compromisso; e que Gbagbo deveria mesmo ceder o poder.

“Já vimos no Zimbabwe e no Quénia como é que os governos de união nacional acabam, ao fim e ao cabo, por não funcionar”, dissera Jonathan, referindo-se ao facto de os seus homólogos Robert Mugabe e Mwai Kibaki também não terem querido sair de cena, depois de eleições que só teriam ganho de forma fraudulenta.

A BBC destaca que, depois das posições dos Estados Unidos, da ONU, da União Africana e da CEDEAO, Gbagbo fica quase que sem apoios externos, só lhe restando os militares do seu próprio país.

No entanto, uma figura da Frente Popular Marfinense (FPI), Abdon Bayeto, voltou a insistir em que o Presidente derrotado não cederá o poder, baseando-se no parecer de um Conselho Constitucional que lhe é favorável.

“Os dirigentes africanos estão a ser manipulados pela comunidade europeia e transformados em fantoches”, disse ao programa Network Africa, da BBC, Abdon Bayeto, representante em Londres do partido do velho historiador Laurent Gbagbo, que ao longo da sua carreira quem contado sobretudo com o apoio da Internacional Socialista.

7.12.10

Para saber um pouco mais de Laurent Gbagbo

Africa Committee in Ivory Coast
In November 1994, the SI Africa Committee met in Abidjan, capital of Ivory Coast, at the invitation of our member party, the Ivory Coast Popular Front, FPI, and its Leader, Laurent Gbagbo.
At our meeting in Abidjan, which was well attended by representatives of SI member parties and by guests from all parts of Africa, we continued to focus on the democratisation process and the role of social democracy in Africa, and considered recent economic developments and the question of African integration. Also on the agenda were crucial questions of conflict resolution and humanitarian action. In a resolution on African integration, the SI Africa Committee stressed that regional cooperation and integration were vital if the African continent was to play its due role in international trade and the global economy.
The Committee heard how in Ivory Coast, as in some other African countries, democratic transition was not complete. Gbagbo stressed the other reforms which needed to accompany the holding of multi-party elections: the adoption of a modern and unbiased electoral code, freedom of action and expression for opposition parties, and for the media. Presidential and parliamentary elections were scheduled to take place in Ivory Coast a year later, and these, unfortunately, confirmed the concerns voiced at our meeting. The opposition parties withdrew from the presidential poll of October 1995, citing the unfair electoral code and subsequent irregularities in the voting process. They later took part in the parliamentary vote, but voting was suspended, to the extreme concern of our International, in the constituencies of Gbagbo and of some other opposition figures. The Socialist International has given its fullest support to the FPI and other parties working under such conditions. We believe that the solidarity manifested by events such as our meeting in Abidjan will help to foster greater democracy.
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The French Socialist Jean-Christophe Cambadelis, official representative of the French Socialist Party, and Jack Lang had recently visited the Ivory Coast where presidential elections will be held on October 31. The party is thus related to the current Ivorian President Laurent Gbagbo, a member of the International Socialist deemed “beyond the pale” since 2004.
French Socialists succeed in Ivory Coast on the eve of presidential elections on October 31. The ball opened by MP Jean-Christophe Cambadelis, national secretary of the French Socialist Party in charge of international relations, has continued with the former Culture Minister Jack Lang. The latter has openly supported President Laurent Gbagbo in the country. Jack Lang was present last Sunday at Bouaflé in central Côte d’Ivoire, during a meeting of the Ivorian Socialist candidate. In a speech, he paid glowing tribute to the man he considers “the candidate of loyalty” and wished “Laurent Gbagbo was elected president.”
Laurent Gbagbo encouraged by the French Socialist Party
More neutral, Jean-Christophe Cambadelis tried to echo the official position of his party. However, this visit marks a watershed in the history of recent relations between the PS and Laurent Gbagbo. The current Ivorian president had been deemed “beyond the pale” by Francois Hollande, then Secretary General of the party, since the events of November 2004. During his visit to Côte d’Ivoire, Mr. Cambadélis, who met the main candidates for president in Ivory Coast, Laurent Gbagbo said that was “seeing as all candidates running.”
While officially, the party does not endorse any candidate, the position of PS remains unclear. Jean-Christophe Cambadelis was accompanied by the Socialist deputy Jean-Marie Le Guen. He had accompanied Jack Lang during his controversial trip, along with Laurent Gbagbo, on Princess Street in the popular district of Yopougon, in 2008. And return to Côte d’Ivoire, International Relations of the PS was full of praise to Laurent Gbagbo on his blog. “I see that Laurent Gbagbo, who received me, a successful peace. We must turn the page and work in partnership with these countries concerned about their sovereignty. I would return after the elections as a friend. ” A statement that approximates partisan remarks by Jack Lang. “Thanks to the work you are doing, dear friend, Côte d’Ivoire, today, is presented as a model, as an example for the whole of Africa,” he said Sunday.
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No Verão de 1993, Laurent Gbagbo esteve no Porto, no Festival da Internacional Socialista, quando o presidente da Câmara Municipal de Gondomar era o seu “grande amigo” Aníbal Jaime Gomes Lira, pelo qual perguntou a enviados da Lusa e da SIC que o visitaram em Fevereiro de 1994, em Abidjan.