31.1.11

A vertente maçónica na crise marfinense

O escritor e jornalista francês Antoine Glaser (que por acaso é da minha idade) corroborou agora no Nouvel Observateur um dado já aqui referido neste blog: a ligação da franco-maçonaria com uma parte dos acontecimentos em curso na Costa do Marfim.
O Grande Oriente da França, de inspiração laica, chegou a ser dominante na África a sul do Sara e o historiador Laurent Gbagbo foi nele iniciado. Mas parece que está actualmente suplantado pela Grande Loja Nacional Francesa(GLNF), mais virada para o meio dos negócios, no qual se movem Alassane e Dominique Ouattara.
A grande figura da maçonaria na África foi o Presidente gabonês Omar Bongo. E o filho e sucessor deste, Ali Bongo, até já abriu em Libreville uma conferência mundial da franco-maçonaria regular, na presença de Alain Bauer, conselheiro especial do Eliseu para questões de terrorismo. A sagração de Ali Bongo foi então feita pelo grande mestre da GLNF, François Stifani.
A franco-maçonaria constitui um verdadeiro sistema paralelo de governação na África negra, afirmou Glaser ao N.O., destacando o papel que este vector pode ter na política de uma série de antigas colónias francesas, como a República do Congo (Brazzaville) e a República Centro-Africana; ou o Togo.
Omar Bongo estabeleceu tanto laços familiares como maçónicos com o Presidente congolês Denis Sassou Nguesso. E a senhora de Alassane Ouattara é, por acaso, a gestora do património imobiliário do velho dinossauro Bongo. Pelo que quase se poderia dizer, de um modo simplista, que "isto está tudo ligado".
Uma vez que o economista liberal Ouattara, protegido do Eliseu e do FMI, se encontra na esfera da GLNA e que um tio de Laurent Gbagbo milita no mesmo campo (apesar de o sobrinho ter sido iniciado no Grande Oriente), Antoine Glaser é da opinião que o Presidente cessante da Costa do Marfim poderá até vir a recorrer aos circuitos maçónicos para negociar com o Presidente eleito Alassane Dramane Ouattara.
Os maçons Roland Dumas, Jack Lang e Henri Emmanuelli, da ala esquerda do PS francês, contam-se entre os grandes amigos do resistente Gbagbo, que há cinco semanas a imprensa internacional julgava que não aguentaria por muito mais dias mas que lá se vai aguentando.
Para além dos Bongos, de Gbagbo, Ouattara, Sassou Nguesso e François Bozizé, também o chadiano Idriss Déby e o camaronês Paul Biya se teriam aproximado ao longo dos anos da maçonaria que os franceses fizeram chegar tanto a Abidjan como a Lomé, a Libreville e a Brazzaville. Grande compasso este, o das sociedades mais ou menos secretas. Jorge Heitor

30.1.11

Leitura recomendada pelo Prof. E. Costa Dias

Tunisie: l'islamisme d'Ennahda – quand le politique s'impose sur le religieux

Patrick Haenni et Husam Tammam

28 Jan 2011

Principal acteur de l'islamisme tunisien, le mouvement Ennahda pourrait devenir non
seulement une pièce centrale de l'équation politique de sortie de l'autoritarisme,
mais aussi un facteur potentiel de stabilisation d'un champ religieux en attente de
bouleversements en profondeur avec la fin du régime de Ben Ali. Telle est l'analyse
de Patrick Haenni, qui se trouve actuellement en Tunisie pour y observer les derniers
développements, dans cet article rédigé en collaboration avec Husam Tammam.

--- E também

Livre: le salafisme mondialisé

Cédric Baylocq Sassoubre

2 Oct 2010

Si le salafisme se trouve de plus en plus à la une des médias, les contours de cette mouvance protéiforme ne sont pas toujours clairement cernés. Un nouvel ouvrage en anglais, rassemblant des contributions de haute tenue par des experts, aide à distinguer et à classifier les différentes expressions de la nébuleuse salafi. Cédric Baylcoq Sassoubre présente ici certains des apports de ce volume.

---- Dois textos que me foram recomendados pelo Doutor em Antropologia Eduardo Costa Dias, do Centro de Estudos Africanos do ISCTE.

27.1.11

A vergonha de ver Teodoro Obiang à frente da UA

Na cimeira da União Africana (UA) que hoje está a começar em Addis Abeba, a presidência rotativa da organização vai passar para Teodoro Obiang Nguema, ditador da Guiné Equatorial, já por mais de uma vez visitado pelo Presidente contestado da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo.
A passagem do testemunho do Malawi para a Guiné Equatorial poderá agradar a Gbagbo, que tal como Obiang nem sempre tem respeitado muito a Democracia e o Estado de Direito.
A UA vai, uma vez mais, ser representada por alguém que não respeita os direitos humanos e a justiça social, o que não ajuda nada a dar de si uma boa imagem.
José Eduardo dos Santos, Thabo Mbeki, Jacob Zuma, Yoweri Museveni e alguns outros políticos africanos não se encontram receptivos aos apelos da União Europeia para que Gbagbo seja destronado e substituído por Alassane Ouattara, tal como pretende o Fundo Monetário Internacional. E agora, de dia para dia, os desejos de Bruxelas e de Paris parecem cada vez mais difíceis de se concretizar.
A Guiné Equatorial, observador associado da CPLP, chega à presidência rotativa da UA neste fim de semana e poderá inclinar-se a alinhar com Angola no apoio às teses do historiador socialista Laurent Gbagbo, que há um mês parecia preso por um fio mas que lá se vai aguentando.
O Presidente no poder em Malabo desde o ano de 1979, depois de ter derrubado seu tio Francisco Macías Nguema, é daqueles que entende que se pode ficar à frente de um Estado durante 32 ou mais anos, não havendo qualquer necessidade de renovação política.
O poder despótico e a corrupção dos Nguemas não impedem que a Guiné Equatorial fique a representar durante um ano a UA, o que é bem triste, num continente onde os atropelos à legalidade abundam e onde raros são os dirigentes com uma boa política.
O clã de Obiang e o Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE) têm exercido o monopólio sobre a vida política e económica do país, tal como acontece com o MPLA. A mesma família controla a antiga colónia equatorial da Espanha desde 1968, tendo-se substituído à ditadura de Francisco Franco. E é ela que esta semana deverá assumir a presidência rotativa de um continente abundante em recursos naturais mas muito carente de bons políticos.
Semanas depois de a República Centro-Africana ter reabilitado a imagem do imperador Bokassa, irá uma grande parte da África aceitar ser representada por um tirano?.
Portugal, que até 1778 esteve presente nas ilhas de Ano Bom e Fernão Pó, hoje integradas na Guiné Equatorial, não deverá ficar indiferente a tudo o que diz respeito às actividades de Teodoro Obiang Nguema.
Gerhard Seibert, investigador em Estudos Africanos, é uma das personalidades que têm vindo a alertar a comunidade lusófona para as arbitrariedades do sistema político em vigor naquele país, próximo de São Tomé e Príncipe.
As Maurícias, Cabo Verde, o Botswana e o Gana, países africanos de boa governação, deveriam ter uma palavra a dizer sobre o que é que irá ser passar pela vergonha de ver a UA representada por uma pessoa tão sinistra como Obiang. Jorge Heitor

20.1.11

Guillaume Soro, um homem para o futuro

Guillaume Kigbafori Soro, católico de 38 anos que é primeiro-ministro da Costa do Marfim, deverá representar o Presidente eleito Alassane Dramane Ouattara na cimeira que a União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) marcou para 22 de Janeiro em Bamaco, capital da Costa do Marfim.
A Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) deverá garantir que Guillaume Soro saia do hotel onde se encontra entrincheirado em Abidjan, com o Presidente Ouattara, e consiga ir ao estrangeiro representar um dos dois poderes actualmente existentes num país onde há 13 anos a estabilidade política e económica atraía investidores.
Soro é primeiro-ministro desde Abril de 2007, primeiro em conjugação com o Presidente socialista Laurent Gbagbo e agora ao serviço do Presidente liberal Ouattara.
Anteriormente, o jovem católico do Norte de um país com grandes ambições dirigiu o Movimento Patriótico da Costa do Marfim e, a seguir, as Novas Forças, estrutura que controla a parte setentrional daquela antiga colónia francesa situada a sul do Mali.
Foi a junção do Movimento Patriótico com outros dois grupos rebeldes que deu as Novas Forças, para retirar terreno a Gbagbo e o obrigar a partilhar o poder com representantes da parte setentrional da Costa do Marfim, território que há 12 anos aspirava a ser o motor do desenvolvimento de todos os que o rodeiam.
Tendo-se perspectivado nestes últimos quatro anos como autêntico árbitro da situação, no embate entre os velhos Gbagbo e Ouattara, Guillaume Soro começou a preparar terreno para o futuro, numa terra onde os imigrantes, de primeira ou segunda geração, constituem quase que um terço de todos os habitantes.
Quando o Conselho Constitucional proclamou o mês passado a vitória de Gbagbo na segunda volta das presidenciais de 2010, Soro demitiu-se de primeiro-ministro dele e foi de imediato nomeado para as mesmas funções por Ouattara.
Se bem que algumas pessoas menos inteiradas de todos osw meandros se admirem de Paris e Washington apoiarem um Presidente eleito que é muçulmano, a verdade é que esse Presidente liberal tem como seu primeiro-ministro o ainda jovem e ambicioso católico Guillaume Soro, homem de que ainda se deverá ouvir muito falar nos anos a haver.
O que a equipa Ouattara/Soro vai tentar, com o apoio das instituições de Brenton Woods, é desenvolver uma economia forte, melhorar o nível de vida da população e criar, daqui a cinco ou seis anos, uma sociedade inspirada nos padrões que vigoram na União Europeia e nos Estados Unidos.
A política macro-económica da Costa do Marfim vem desde há muito a ser seguida pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, que apostaram forte em Alassane Ouattara e decerto concordam em que Soro venha a ser cada vez mais o seu delfim.
Tudo isto numa estratégia a longo prazo, de modo a delinear o que é que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a UEMOA deverão ser em 2017 ou 2020. Jorge Heitor

18.1.11

Claro que na Tunísia ainda pouco mudou

Os tunisinos colocaram no fim da semana passada demasiada esperança na formação de um chamadeo Governo de União Nacional; e afinal agora estão a verificar, aos poucos, que afinal ainda não mudou grande coisa desde que o sucessor de Habib Burguiba fugiu para a Arábia Saudita.
O presidente da Assembleia Nacional e o primeiro-ministro tentaram uma operação cosmética, chamando algumas figuras da antiga oposição; mas isso, só por si, não chegar para se falar de uma mudança do regime. Do velho regime cujas raízes remontam a 1956.
Alguns dos que tinham aderido precipitadamente a esta pretensa União Nacional já estão a retroceder, ao verificarem quais os verdadeiros intentos dos herdeiros de Burguiba e de Ben Ali: mudaqr alguma coisa para que tudo ficasswe quase na mesma.
O chefe do Governo e os titulares dos Negócios Estrangeiros, do Interior, da Defesa e das Finanças são os mesmos.
Portanto, não se pode falar, nem de perto nem de longe, de uma Revolução. Mas sim de uma ligeira evolução na continuidade de um sistema político com mais de meio século de existência.
Aguardemos com muito calma, sem deitar foguetes, até se compreender melhor o que é quer se está a passar e que por enquanto não é nada de substancialmente novo nem nenhuma mudança radical. Jorge Heitor

17.1.11

A dama do Marfim e o diabo francês

Simone Gbagbo, ainda primeira dama da Costa do Marfim, afirmou ontem em Abidjan que o Presidente da França, Nicolas Sarkozy, é "o diabo" e o Presidente eleito marfinense, Alassane Dramane Ouattara, "o chefe dos bandidos".
Fazendo juz à sua fama de eminência parda do sistema político que tem vigorado durante a última década, Simone disse no Palácio da Cultura que "o tempo dos debates sobre as eleições entre Gbagbo e o chefe bandido passou. O nosso Presidente está vigorosamente instalado no poder e trabalha".
Perante 4.000 pessoas mobilizadas pelo Congresso Nacional da Resistência para a Democracia (CNRD), de que é secretária-geral, esta espécie de Rasputine em figura de mulher declarou que "o diabo é perseverante na derrota. Por ele ser perseverante é que o nosso país se encontra na tormenta".
A França, antiga potência colonial, reconheceu a vitória de Ouattara no acto eleitoral e pede a Gbagbo que abandone o poder, o que ele rejeita, nomeadamente por não ser essa a vontade da "dama de marfim", uma antiga sindicalista agora revertida aos valores dos evangelistas e dos neo-conservadores.
"Vamos recuperar a nossa independência, a nossa soberania total. O movimento de libertação da África inteira está em vias de nascer na Costa do Marfim", disse ontem Simone Gbagbo, em mais um sinal de que a crise por ali está para durar.
A resistência do Presidente cessante conta com a solidariedade do seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos. Jorge Heitor

14.1.11

Simone Ehivet Gbagbo, a primeira dama de Marfim

Por sugestão do meu querido amigo Eduardo Costa Dias, doutorado em Antropologia, vou-vos aqui falar hoje de Simone Ehivet Gbagbo, de 61 anos, a primeira dama cessante da Costa do Marfim, presidente do grupo parlamentar da Frente Popular Marfinense (FPI) e vice-presidente deste mesmo partido, há 10 anos no poder.
Nascida em 1949 na região de Gran-Bassam, a leste de Abidjan, aquela a quem Thomas Hofnung já chamou em 2007 "La dame d'ivoire", nas páginas do Libération, a senhora é uma cristã evangélica numa igreja que tem grandes laços com os Estados Unidos, havendo até quem já lhe tenha chamado na imprensa marfinense "a Hillary Clinton dos trópicos".
Se a primeira dama emergente, Dominique Ouattara, é uma figura de peso na sociedade da Costa do Marfim, Simone não lhe fica atrás, metendo medo tanto a motoristas de táxis como a fotógrafos, dado o seu feitio irascível.
Segundo os serviços secretos franceses,citados pelo referido Hofnung, os esquadrões da morte que em 2002 e 2003 assassinaram diversas personalidades da oposição a Gbagbo teriam sido dirigidos, nada mais nada menos, do que pelo chefe da guarda pessoal da excelsa senhora.
Perante tanta acusação contra ela formulada, Simone Ehivet Gbagbo chegou a publicar o livro "Paroles d'honneur", na editora Ramsay, de modo a tentar demonstrar que não é propriamente um Rasputine envolto em panos tradicionais africanos.
Aquando das negociações de Marcoussis, sobre a partilha do poder entre a FPI e as Forças Novas de Guillaume Soro, que têm vindo a controlar a parte setentrional do país, Simone foi bem clara nas suas ameaças: "Se os nossos homens vão a Paris para tomar decisões que não nos interessam, quando regressarem não nos encontrarão na cama".
Quando em 1992 passou seis meses na prisão, a antiga sindicalista da década de 1970 disse ter encontrado na cadeia "um Deus mais presente, mais próximo". E assim juntou a religião à sua cruzada para a conquista do poder pelo homem com quem é casada em segundas núpicas.
Agora, mesmo que ele tenha de se retirar, aos 65 anos, ela poderá ainda acalentar o sonho de vir a coordenar a oposição ao Presidente eleito Ouattara. Mulheres desta fibram nunca se conformam com um simples papel de donas de casa; ou com actividades de menor importância.
A dama é de Marfim e quer continuar a sê-lo até ao último suspiro. Jorge Heitor

12.1.11

O ouro e os diamantes da África Ocidental

Mais de 60 por cento da produção mundial de ouro regista-se na África e a maior parte dessa produção, fora da África do Sul, provém da África Ocidental, onde em 1960a Costa do Marfim se tornou independente, sob a condução de Félix Houphouët-Boigny.
Cerca de 96 por cento da produção mundial de diamantes vem da África e a maior parte desta produção, fora da República Democrático do Congo, diz respeito à África Ocidental, onde fica a Costa do Marfim. Já em 1975 Le Nouveau Dossier Afrique, da colecção Marabout Université, nos dava estes números.
Parece que eswtas coiswas não foram lidas por quem anda a perguntar por que é que, nas últimas semanas, se está a falar tanto da Costa do Marfim e se discute quem é que deve ficar como seu Presidente.
Mais de 45 por cento do manganés mundial é da África e 34 por cento do manganés africano é da África Ocidental, onde ficam a Serra Leoa, a Libéria, a Costa do Marfim, o Gana e o Burkina Faso.
A África Ocidental, onde também se situam a Guiné-Bissau e a República da Guiné, fornece mais de 27 por4 cento do minério de ferro extraído no continente de Nelson Mandela e de Amílcar Cabral. Bem como bauxite, cobalto, petróleo, gás natural, cacau e café robusta.
Tudo isto bastaria para compreender a importância do apoio que o Presidente da França está a dar ao economista liberal, muçulmano e de etnia dioula, Alassane Dramane Ouattara para que fique à frente dos destinos da Costa do Marfim, com o beneplácito da Casa Branca, do secretário-geral das Nações Unidas e do FMI.
Tenha ou não Ouattara conseguido com toda a legitimidade mais oito por cento dos votos do que o Presidente cessante Laurent Gbagbo, a verdade é que o Eliseu, a Casa Branca e importantes grupos económicos desejam que ele assuma de facto a presidência, aos 69 anos.
Por ser importante explicar tudo isto é que aqui estou, há três semanas, a escrever diariamente sobre a matéria. Para que ninguém possa dizer que não consegue compreender o que é que está em causa na Costa do Marfim, Côte d'Ivoire, Ivory Coast.
As madeiras, as bananas e o óleo de palma fazem parte de todo esse marfim, para além dos produtos já referidos, como o petróleo, o ouro e os diamantes. Nicolas Sarkozy sabe-o muito bem. Jorge Heitor

11.1.11

O candidato do FMI e a sua pomba branca

As hostes de Alassane Dramane Ouattara, de há muito candidato do FMI à presidência da República da Costa do Marfimk, propôs agora a formação de um Governo de União Nacional com pessoal do Presidente cessante Laurent Gbagbo.
Um pouco à semelhança do que já se verificou no Quénia e no Zimbabwe, só que desta vez o Presidente cessante não se conseguiria manter em funções, ao contrário do que aconteceu com Mwai Kibaki e Robert Gabrielo Mugabe.
O candidato liberal que a França, a União Europeia, os Estados Unidos, o Canadá e a ONU dizem ter ganho a segunda volta das presidenciais marfinenses, no dia 28 de Novembro, graças ao apoio deo antigo Presidente Henri Konan Bedié, encontra-se disposto a trabalhar com os colaboradores do historiador socialista Gbagbo, desde que este não fique à frente do Estado.
Tendo visto que não lhe era fácil tomar as instalações da televisão nem avançar para a sede do Governo, apesar de todo o apoio de Paris e Washington, Ouattara começou a transigir e a tentar o compromisso. Desde que ele próprio seja reconhecido por Gbagbo como seu sucessor, coisa que o amigo de Roland Dumas e de Jack Lang continua a rejeitar.
A seu lado, na ambição de há muito acalentada de dirigir a Costa do Marfim, com o apoio do FMI, no qual já ocupou uma posição destacada, o economista liberal Alassane Dramane Ouattara tem uma "pomba branca" (uma espécie de Espírito Santo): sua mulher, a bela Dominique Nouvian, directora da Agência Internacional de Comercialização Imobiliária. É esta instituição, a AICI, que gere o património imobiliário deixado por dois dos dinossauros africanos: o marfinense Félix Houphouët-Boigny e o gabonês Omar Bongo.
Ouattara, de 69 anos, é também um dos clientes da agência da sua loira esposa, uma francesa da Argélia, de origem sefardita; e o matrimónio entre estes dois grandes interesses verificou-se a 24 de Agosto de 1991, no décimo sexto bairro de Paris, sendo oficiante o "maire"...Nicolas Sarkozy.
A determinada e branca Dominique, com actividade em sítios tão diversos como Cannes e Libreville, adquiriu nos Estados Unidos a marca Jacques Dessange, para se entreter um pouco mais, enquanto o marido tinha assento na administração do Fundo Monetário Internacional. Entretanto, mulher de múltiplos talentos, tem a Radio Nostalgie e a Children of Africa, esta última fundação em parceria com a princesa Ira de Fürstenberg.
"Gente fina é outra coisa"! Jorge Heitor

8.1.11

Costa do Marfim: seis semanas depois

Praticamente seis semanas decorridas sobre a segunda volta das presidenciais na Costa do Marfim, Laurent Gbagbo continua no seu posto, apesar de a França, a União Europeia, os Estados Unidos e a ONU terem dito que ele foi derrotado pelo economista liberal Alassane Dramane Ouattara.
Quarenta e um dias passados sobre a ida às urnas em 28 de Novembro, a Frente Popular Marfinense (FPI), de Laurent Gbagbo, continua no palácio presidencial da Costa do Marfim, país que é o maior produtor mundial de cacau e que também tem muito café robusta, ouro, diamantes, cobalto, petróleo e gás natural.
Laurent Gbagbo e a FPI não desejam voltar ao estatuto de oposicionistas em que se encontravam até ao ano 2000, quando eram apoiados pela Internacional Socialista e contestavam o sistema instituído pelo primeiro Presidente da República, Félix Houphouet-Boigny, e pelo Partido Democráqtico da Costa do Marfim (PDCI).
Há 16 anos, numa entrevista à Lusa e à SIC, Gbagbo comparou Houphouet-Boigny, que falecera pouco antes, a Estaline, Hitler, Franco e Salazar; mas agora são os seus adversários que o acusam de se querer perpetuar no poder, contra a vontade de Paris, de Bruxelas e do FMI.
É assim a roda da História, com as figuras simpáticas de há 12 ou 15 anos a serem a partir de dada altura apresentadas como tiranos, por não acatarem resultados eleitorais que lhes teriam sido adversos.
Dizem as contagens dadas como válidas pelo secretário-geral das Nações Unidas que na segunda volta das presidenciais Gbagbo teve cerca de oito por cento de votos a menos do que Ouattara, mas ele contesta, alegando que se teria verificado fraude em alguns círculos. E é nisto que estamos, ao fim de 41 dias, mergulhados num profundo impasse, enquanto as atenções da imprensa internacional se desviam para outras bandas, como a Argélia e o Sudão.
Desde a morte de Félix Houphouet-Boigny, que em 1990 batera Gbagbo nas primeiras eleições multipartidárias do país, que Alassane Dramane Ouattara espera a sua oportunidade de ser universalmente reconhecido como o novo senhor indiscutível do território onde o cacau foi introduzido em 1910 e não mais deixou de estar presente.
Vejamos agora o que é que nops reservam os próximos dias e semanas. Jorge Heitor

6.1.11

O império Kong dos Ouattara

Por volta de 1700, segundo o Professor Joseph Ki-Zerbo, foi fundado o estado dioula de Kong, nada mais nada menos do que por Sékou Ouattara, antepassado paterno do actual Presidente eleito da Costa do Marfim, Alassane Dramene Ouattara. Outras fontes são mesmo mais precisas, colocando a fundação de tal entidade política no ano de 1710.
No século XVIII, quando Portugal estava cheio do ouro proveniente do Brasil, a cidade-Estado de Kong, que baseou a sua prosperidade nas trocas entre a savana e a floresta, dominou a região produtora de ouro e de noz de cola do Norte da Costa do Marfim.
As cidades mercantis criadas por comerciantes de etnia dioula tinham-se desenvolvido ao mesmo tempo que o islão se desenvolvia. E foi assim que o clã dos Ouattara derrubou o poder tradicional animista e alargou os seus territórios.
Quando Sékou Ouattara, tetravô de Alassane, morreu em 1745, aos 80 anos, segundo se pode ler no Mémorial de la Côte dIvoire, deixou aos seus sucessores aquilo que é hoje o Nordeste da Costa do Marfim, atravessado pelo rio Komoé.
Só quem ainda porventura pense como Hegel, que em 1830 dizia de forma tão ingénua que "a África não é uma parte histórica do mundo", é que não saberá dos reinos fulas, mandingas e tantos outros que ao longo dos séculos se desenvolveram por alturas de Tombouctu, Ouagadougu e Bondouku.
Para este escriba, porém, que aos 15 anos começou a ter aulas de introdução às questões africanas, por pessoas tais como Luís Filipe de Oliveira e Castro, não é assim tão difícil traçar uma linha de continuidade entre o passado e o presente da família Ouattara.
Foram precisamente três séculos, 300 anos, o tempo decorrido entre a chegada do tetravô ao poder nas savanas de Kong e a proclamação de Alassane Dramane Ouattara como Presidente eleito da Costa do Marfim, com corte a funcionar no Hotel du Golf, em Abidjan. Jorge Heitor

A tomada do poder por Alassane Ouattara

Numa entrevista hoje transmitida pela Europe 1 e que me fez lembrar o grande filme feito em 1966 por Roberto Rosselini, Alassane Dramane Ouattara garantiu que, por todo este mês de Janeiro, vai ter "a totalidade do poder" na Costa do Marfim.
De modo a garanti-lo, um Conselho de Segurança que começa o ano sob a presidência da Bósnia, que sabe muito bem o que são situações de conflito, deverá dentro de dias reforçar com pelo menos um milhar de homens os efectivos da Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI).
O Conselho actua na sequência de um pedido formulado pelo francês Alain Le Roy, encarregado das operações da ONU para a pacificação de certos territórios mais agitados. E a ONUCI poderá assim vir a ficar com pelo menos 10.500 militares e polícias, 500 dos quais deslocados da vizinha Libéria, que já teve a sua boa experiência de violência e até tem um ex-Presidente a ser julgado no Tribunal Especial das Nações Unidas para a Serra Leoa, que neste caso específico não se reúne em Freetown mas sim em Haia.
Com uma União Europeia a reboque da vontade da França herdeira do general De Gaulle e uma ONU onde os Estados Unidos têm grande peso, não é muito difícil de acreditar que Alassane Dramane Ouattara consiga de facto concretizar dentro de semanas aquele que é de há muito o seu desejo de quadro superior das instituições de Brenton Woods: "Vamos ter a totalidade do poder".
Tal como Rosselini nos retratou de forma tão magistral A Tomada do Poder por Luís XIV, era bom que houvesse agora alguém, cineasta ou romancista, que conseguisse gravar para a posteridade todos os episódios da tomada do poder por este homem cujos laços ancestrais radicam na aristocracia da Haute Côte d'Ivoire. Ou seja, naquela zona de confluência entre os países que hoje conhecemos como Burkina Faso e Costa do Marfim. Jorge Heitor

5.1.11

O pandemónio na Costa do Marfim

Um antigo conselheiro da embaixada da França na Costa do Marfim, Dominique Pin, agora quadro da empresa Areva, promotora de reactores nucleares, escreveu no diário Libération, sem dar provas, que em Setembro de 2002 o Presidente Laurent Gbagbo pretendeu "liquidar" o político liberal Alassane Ouattara.
Com a convicção de quem esteve colocado no terreno entre 2000 e 2002, Pin entrou assim na vasta legião dos que pretendem trucidar politicamente o socialista Gbagbo, colocando em seu lugar alguém que pareça servir melhor os interesses de Nicolas Sarkozy e de empresas como a Areva ou a Progosa, dedicada à chamada logística internacional.
No meio de todo o pandemónio em que a Costa do Marfim transitou de 2010 para 2011, o antigo diplomata veio contar que os colaboradores de Gbagbo pretenderam assassinar Ouattara por o considerarem o financiador das Forças Novas, de Guillaume Soro, que haviam lançado uma ofensiva contra Abidjan.
Num episódio rocambolesco, Ouattara e a mulher, uma francesa da Argélia, altamente relacionada internacionalmente, teriam escalado os muros da sua residência e ido refugiar-se em casa do embaixador da Alemanha. Tal como em 1984 tínhamos visto o destituído primeiro-ministro Vítor Saúde Maria fazer em Bissau, saltando pelos quintais para se refugiar na residência do embaixador de Portugal, na Rua de Lisboa.
A acreditar na versão de Dominique Pin, o círculo que rodeia Gbagbo teria tanta propensão para eliminar adversários quanto a demonstrada anteriormente por João Bernardo "Nino" Vieira.
Pin, hoje em dia figura importante da Areva e da Progosa, para questões de logística e de fornecimento de combustíveis, entre outras, alega que o economista liberal Alassane Ouattara esteve então dois meses e meio refugiado em sua casa.
Velhos laços, portanto, entre Ouattara e a França degaullista; entre Ouattara e grandes interesses empresariais da Europa e dos Estados Unidos.
Enquanto isto, numa entrevista ao canal France 24, o protegido da Casa Branca e do Eliseu afirmou não haver necessidade de uma nova guerra civil. Bastaria que a CEDEAO recorresse à força apenas para obrigar Gbagbo a sair do Palácio Presidencial, não para combater um grande número de marfinenses que apoiam o historiador amigo de Roland Dumas e de Jack Lang.
Triste folhetim este, o que se arrasta há pelo menos cinco semanas e promete continuar, naquelas terras onde Félix Houphouet-Boigny nasceu em 1905, para vir a ser em 1960 o primeiro Presidente de uma nova República. Jorge Heitor

4.1.11

O chocolate amargo da Costa do Marfim

Continuamos a beber gota a gota este chocolate amargo que nos chega da Costa do Marfim, onde o socialista Laurent Gbagbo e o liberal Alassane Ouattara estariam agora na disposição de se encontrar, segundo disse esta manhã em Abuja o primeiro-ministro queniano Raila Odinga.
Antes de entrar para uma audiência com o Presidente da Nigéria e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Goodluck Jonathan, criatura que goza das simpatias da Administração Obama, Odinga contou que Gbagbo aceitou ontem a possibilidade de um encontro com o economista liberal Ouattara, que reivindica o direito de lhe suceder à frente dos destinos do maior produtor mundial de cacau.
Horas depois, porém, o conselheiro diplomático de Ouattara desmentiu a hipótese de uma reunião deste com Gbagbo.
Odinga, Pedro Pires e os presidentes da Serra Leoa e do Benim estiveram ontem uma vez mais com aquelas duas figuras cimeiras da cena marfinense.
Gbagbo é o preferido de Jacques Vergès, Roland Dumas, François Loncle, Guy Labert, Henri Emmanueli, Jack Lang e José Eduardo dos Santos. Ouattara o protegido de Nicolas Sarkozy e, por arrastamento, da União Europeia e dos Estados Unidos.
Gbagbo é o homem da Internacional Socialista, que se vai distanciando progressivamente dele. Ouattara, criatura do FMI, mantém-se inflexível, não aceitando compromissos.
Dada a gestão pouco correcta que Gbagbo tem feito, em 10 anos de mandato, dos recursos da Costa do Marfim (cacau, café robusta, petróleo, gás natural...), as instituições de Bretton Woods procuram agora ter um dos seus a gerir um território que é muito importante para tudo aquilo que se passa desde o Senegal até ao Golfo da Guiné.
Tendo criado há mais de um século e meio a Libéria, e aí explorado a borracha, para a Firestone, os norte-americanos querem agora avançar para a vizinha Costa do Marfim, dobrando o Cabo Palma e chegando a Abidjan.
Depois da senhora que conseguiram colocar na presidência da Libéria, os Estados Unidos querem juntar-lhe Ouattara na Costa do Marfim, a fim de entre Monróvia e Yamassoukro se constituir um poderoso eixo de defesa dos interesses ocidentais.
Com fortes peões em Monróvia, Buchanan, Bouaké, Yamassoukro e Abidjan, a América do Norte poderá instalar por esses lados o quartel-general do seu comando africano, o Africom, entretanto ainda a funcionar na germânica Estugarda.
Uma Costa do Marfim amiga da América e da União Europeia é fundamental para controlar os tráficos e os radicalismos que passam pelos territórios da CEDEAO e ameaçam a sua estabilidade, como uma comunidade económica viável.
Esperemos que a comunicação social portuguesa saiba explicar devidamente aos que a lêem e a ouvem tudo o que na verdade está em causa neste jogo marfinense, que dominou para muitos as últimas cinco semanas. Jorge Heitor

3.1.11

Que importa que Ouattara seja muçulmano?

Isto não é um conflito sobre religiões; e por isso não têm a mínima razão aqueles distraídos que andam a dizer que "o Ocidente vai entregar a Costa do Marfim aos muçulmanos".
A Obama e a Sarkozy não importa minimamente que Alassane Ouattara seja um muçulmano, aliás moderado. O que lhes interessa é que se trata de alguém muito ligado às instituições de Bretton Woods, pronto para aplicar naquele recanto da África as receitas do FMI e do Banco Mundial.
Com Ouattara, e não com o socialista e xenófobo Laurent Gbabo, os Estados Unidos e a União Europeia querem tirar o máximo proveito do cacau, do robusta, da borracha, do chá, do petróleo e do gás natural da Côte d'Ivoire.
A eles pouco importa que o novo Presidente possa ir à mesquita às sextas-feiras, desde que lhes ajude a extrair tudo o que for possível do solo e do subsolo de um território que cobiçam.
Quem é que disse que o colonialismo acabou na segunda metade do século XX? O importante é que continue a correr o marfim (sob todas as suas formas). J.H.

1.1.11

Nos Montes de Nimba, 21 anos depois

No Natal de 1989, Charles Taylor partiu dos Montes de Nimba, na confluência da Costa do Marfim com a Libéria e a República da Guiné, para tomar o poder em Monróvia, escorraçando de lá Samuel Doe.
Agora, nesses mesmos montes, que chegam a uma altitude de 1860 metros, grupos de mercenários liberianos preparam-se para combater por qualquer um dos campos em disputa na Costa do Marfim: o de Laurent Gbagbo ou o de Alassane Dramane Ouattara.
Nimba é sinónimo de um dos períodos mais conturbados da História recente da África Ocidental, com o desencadear das guerras na Libéria e na Serra Leoa, pelo controlo dos recursos do subsolo.
Agora, com Taylor ainda a ser julgado na Holanda, com grande lentidão, compatriotas seus preparam-se para espalhar a devastação e a morte no território marfinense, que há um quarto de século era tido como uma zona calma, produtora de cacau e café.
O ano começa com sinais de guerra na Costa do Marfim, para logo a seguir a grande mancha de sangue também poder chegar ao Sudão e à Nigéria, respectivamente o mais extenso e o mais populoso dos países da África.
Durante os próximos meses o Mundo deverá estar muito atento a tudo o que acontecer desde a bacia do rio Senegal às margens do Nilo Branco e do Nilo Azul, que se juntam em Cartum e daí avançam unificados para a Núbia.
Este ano de 2011 poderá ser de muito sofrimento para os povos da África Negra, a sul do Sara, povos tantas vezes esquecidos pelos europeus, que nunca teriam chegado muito bem a entendfê-los. Jorge Heitor

A colocação dos peões na África Ocidental

Depois de 2005 terem visto Ellen Johnson-Smith, economista do Banco Mundial e do Citibank, chegar à presidência da Libéria, os Estados Unidos testemunham agora a eleição de outro economista de formação norte-americana, Alassane Dramane Ouattara, para a chefia da vizinha Costa do Marfim.
Bauxite, cobalto, diamantes, ferro, manganésio, níquel, tantalite e oiro são atributos da dita Costa do Marfim, pelo que a alguns países estrangeiros interessa tem no controlo de tais riquezas pessoas de formação economicistas, ligadas ao Banco Mundial e ao FMI.
Isto ajuda a explicar o empenho com que a Administração Obama e o Presidente Nicolas Sarkozy garantam a pés juntos que Ouattara é o Presidente devidamente eleito da Costa do Marfim, devendo substituir o historiador Laurent Gbagbo, criatura da Internacional Socialista.
Se bem que num primeiro tempo, há 15 dias, Gbagbo parecesse isolado, perante as vozes sonantes da Casa Branca, do secretário-geral das Nações Unidas, do Eliseu e da Comissão Europeia, depois ele conseguiu recompor-se e as entrevistas têm-se sucedido, desde os jornais franceses à Euronews.
Nenhum dos dois homens será uma criatura santa e agora aquilo em que temos de pensar é nos metais indispensáveis ao fabrico de aparelhos de alta tecnologia, as chamadas "terras raras", produção mundial dominada pela China e a que os Estados Unidos e o Canadá querem ter acesso.
O que faz correr Washington, Paris, Otava e Bruxelas não será talvez o facto de Ouattara ter tido aparentemente mais oito por cento de votos do que Gbagbo, mas sim o grande jogo da geopolítica.
Gostaria que os nossos jornais e televisões deixassem de continuar a insistir na mesma técnica simplista de que um Presidente perdeu e não quer sair, para irem mais longe, mais a fundo, explicando tudo o que está por trás daquilo que se joga na Libéria e na Costa do Marfim: controlo de metais, de redes terroristas e de tráficos.
Laser, telemóveis, grandes écrans de televisão e iPhones necessitam de coisas que há na África Ocidental; e por isso poderá correr muito sangue na Guiné-Bissau, na Serra Leoa, na Libéria e na Costa do Marfim.
Os painéis solares, as urbinas eólicas, os mísseis de cruzeiro e os radares necessitam das "terras raras" africanas, pelo que há que controlar muito bem todo o espaço que se estende das Bijagós ao Delta do Níger.
O ideal seria até, se possível, instalar aí o Africom, o comando militar da América para a África, por enquanto ainda a funcionar na Alemanha, essa potência emergente que ainda nos poderá dar muito que pensar.
As indústrias da América do Norte e da Europa não podem deixar nas mãos da China todo o potencial de "terras raras" que há na África Ocidental. E é também isso que está em causa quando por estes dias se falar em eswcaramuças nas ruas de Abidjan ou de Bouaké. Há que dizê-lo frontalmente. Jorge Heitor