18.9.08

As ilhas dos Açores

Gosto muito de comer peixe grelhado num primeiro andar à beira do porto das Velas, na ilha de São Jorge, de contemplar o auditório municipal desse mesmo concelho, de ir ao vulcão dos Capelinhos e de tomar um gin no Café Sport, da Cidade da Horta, na ilha do Faial.
Gosto da Madalena, de São Roque e das Lajes do Pico, dos museus existentes em qualquer destes três concelhos; da Furna do Enxofre, na ilha Graciosa; e da Vila do Porto, em Santa Maria.
Recordo as actuações de Anabela Chaves, Olga Pratts e João d'Ávila no Museu Carlos Machado, de Ponta Delgada; e também o ancoradouro de Vila Nova, na ilha do Corvo, bem como as piscinas naturais das Flores.
A qualquer português do Continente, recomendaria que se deslocasse duas ou três vezes aos Açores, antes de ir às Baleares, às Canárias ou à Tunísia, pois que na região se encontra algo do que de mais tradicional Portugal tem, desde o mar imenso à grande vontade de não se ter querido submeter a Castela; nem sequer à cultura flamenga de alguns dos povoadores das ilhas.
Santa Cruz da Graciosa, 18 de Setembro de 2008

As eleições angolanas

Sabemos que o MPLA ficou com mais de 81 por cento dos votos expressos nas legislativas angolanas deste mês de Setembro de 2008 e a UNITA com menos de 11 por cento, nenhum outro partido tendo chegado sequer ao nível dos quatro por cento.
É um MPLA mais forte do que o ANC, a Frelimo ou a ZANU-Frente Patriótica e que, portanto, quererá cada vez mais ter uma importante palavra a dizer em tudo o que se passe desde Cabinda até à Suazilândia. Esperemos que saiba usar bem do seu enorme poder!
Jorge Heitor 18 de Setembro de 2008

O que Agualusa disse do resultado das legislativas angolanas

O jornalista e escritor angolano José Eduardo Agualusa, em declarações por telefone à agência Lusa, considerou que os resultados das eleições em Angola, apontando para uma vitória do MPLA com mais de 80% dos votos, são "assustadores para a democracia", representando "um regresso ao partido único", com a desvantagem de agora ser legitimado pelo povo.
"Os resultados são assustadores e preocupantes. É um regresso ao partido único, só que através do voto. Não há democracia sem oposição. Não há correntes de pensamento no Parlamento, por excelência, a casa da discussão democrática" declarou o escritor à Lusa.

Sem pôr em causa os resultados, Agualusa mostrou-se "extremamente preocupado" com a pressa do reconhecimento da validade dos resultados. E, comparando com uma eventual situação idêntica em Portugal ou em qualquer outro país europeu, salientou:

"Não acredito que ninguém ficasse preocupado. Os comentadores e jornalistas debateriam tudo até à exaustão. Só que é Angola... O resultado das eleições é um revés para a democracia e um pouco assustador. A grandeza da democracia está na diversidade de opinião e não na pobreza de pensamento", acrescentou aludindo ao facto de várias forças políticas terem deixado de estar representadas no parlamento angolano. O escritor angolano sublinhou ainda que o parlamento saído das eleições de 1992 era mais equilibrado.

17.9.08

A Praia da Vitória

A cidade da Praia de Vitória, na ilha Terceira, terra natal de Vitorino Nemésio, onde se preserva a casa onde nasceu, é um sítio para fazer praia, com um extenso areal e água a 24 graus centígrados.
Em 6 ou 7 de Setembro decerto por lá poderá passear, abanhando-se a algumas dezenas de metros da marina e indo depois almoçar ao simpático restaurante La Barca ou comer uma pizza ao Santa Cruz.
A Igreja Matriz da Praia da Vitória tem um Cristo da Ressurreição que é um assombro e um belo presépio do século XVIII, enquanto a Igreja da Misericórdia se enfeita semanalmente para a sua missa das sextas-feiras, muito bem organizada pelo senhor que há 23 anos é provedor. E em frente a ela existe um busto de Nemésio, à porta da casa de suas tias, actualmente em obras de restauro.
De hora a hora partem de junto do quartel dos Bombeiros autocarros para Angra do Heroísmo, numa viagem de 45 minutos que custa pouco mais de dois euros.
Não deixe pois de reservar três ou quatro dias da sua vida para se passear pelo concelho da Praia da Vitória, a uns meros três quilómetros do aeroporto e da base aérea das Lajes da Terceira.
Jorge Heitor Setembro de 2008

3.9.08

Toda a grandeza de Angola

Angola tem actualmente no activo 110.000 soldados e conta com 2,7 milhões de cidadãos aptos para o serviço militar, dos 16 aos 49 anos, bem como com uma dotação anual de 5,7 a 8,8 por cento do seu Orçamento reservada a despesas militares para se poder projectar tanto na África Austral como na Ocidental, com um estatuto de potência regional, enquanto aguarda vir a suceder a Portugal, dentro de dois anos, na presidência da Comunidade dos Países de Língua Portugal (CPLP), já então com uma nova legislatura e eventualmente, pelo menos em teoria, com um novo Chefe de Estado.
Se bem que a África do Sul seja quem tem a maior parte do poder na região a sul do Sara, tanto em termos económicos como militares, com a sua economia a crescer acima da média africana durante a última década, Angola nunca se esquece de recordar ao mundo que também teve nos últimos seis anos grande crescimento económico, se bem que ainda apresente muitas infraestruturas danificadas por décadas de guerra e que os seus campos se pareçam com um mar de minas, terrestres e antipessoais; o que faz recordar o muito trabalho ainda por fazer.
Luanda, com 100.000 homens e mulheres só no Exército, mais 7.000 na Força Aérea e 3.000 na Armada, tem exercido grande influência em cada um dos Congos, que mais não seja como forma de proteger as fronteiras de Cabinda, contrabalança em São Tomé e Príncipe os interessess da Nigéria; e até procura exercer um certo papel moderador nas questões da longínqua Guiné-Bissau, como quando recentemente se atribuiu a mediação entre o Presidente Nino Vieira e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Tagme Na Waye, que pareciam em rota de colisão. O porto guineense de Buba, idealizado pela autoridade colonial portuguesa e mais tarde cobiçado pela União Soviética, está agora em vias de ser concretizado com capital angolano, naquilo que alguns vêem como mais um indício da apetência crescente de Luanda por um papel supranacional.
O investimento total previsto para o projecto de Buba, na região de Quinara, no Sul da Guiné-Bissau, é de 500 milhões de dólares (344 milhões de euros), conforme se pode ler no site Mercosul & CPLP, e a contrapartida será a exploração daquele porto, no Rio Grande, e também o negócio da extracção da bauxite. Por tanto desejar investir na bauxite e no petróleo guineense é que Angola se arvorou já como que em potência protectora de um país que é independente desde 24 de Setembro de 1973.
Dentro dessa ordem de ideias, o embaixador angolano em Bissau, António Brito Sozinho, condenou o mês passado quaisquer intentonas que ali se estivessem a delinear e sintetizou: “Os golpes de Estado não têm mais lugar em África”. Não os quer no Golfo da Guiné, a milhares de quilómetros de casa, como também não os permite nos Congos, onde tem os seus fiéis aliados.

“Padrinho” de Sassou-Nguesso e Kabila
O Presidente José Eduardo dos Santos enviou mais de dois mil soldados para o Congo a fim de ajudar o seu homólogo Denis Sassou-Nguesso durante a guerra civil que, de 5 de Junho a 15 de Outubro de 1997, opôs em Brazzaville os partidários do mesmo aos do seu antecessor Pascal Lissouba, que se exilou em Londres. E em outras ocasiões ajudou também o mesmo político a perseguir milícias tanto de Lissouba como do antigo primeiro-ministro Bernard Kolelas.
Por outro lado, Luanda ajudou a manter no poder, na República Democrática do Congo (RDC, ex-Zaire), a partir de 1998, a família Kabila, primeiro o Presidente Laurent-Désiré e depois o seu filho, Joseph Kabila, que teve de suportar uma oposição armada coligada com as forças do Uganda e do Ruanda. Em troca dessa ajuda, ganhou o direito de patrulhar a província de Bandundu e a foz do rio Zaire, para que não constituíssem uma rectaguarda segura para os nacionalistas de Cabinda.
A recente visita efectuada a Angola pelo Presidente Thabo Mbeki ajudou a limar algumas das arestas e das desconfianças existentes entre as duas partes, tendência que se poderá acentuar se acaso o MPLA ganhar agora folgadamente as legislativas e se o próximo Chefe de Estado sul-africano vier a ser, no próximo ano, Jacob Zuma, que já em Março estivera em território angolano para as celebrações do vigésimo aniversário da batalha do Cuíto Cuanavale, uma das maiores a que a África assistiu desde a II Guerra Mundial.
Na sua campanha para um novo papel a nível internacional, Angola procura hoje em dia - por iniciativa do ministro da Ciência e Tecnologia, João Baptista Ngandagina- produzir energia nuclear, de modo a compensar as carências de electricidade; e conseguiu já identificar jazidas de materiais radioactivos, como o urânio, para cuja exploração poderia contar tanto com o interesse da China como com o da França. As maiores reservas africanas de urânio até há alguns anos conhecidas eram as da África do Sul e da Namíbia; e o preço deste metal (tal como o da bauxite) tem vindo a aumentar grandemente no mercado internacional, dominado pela Austrália. Jorge Heitor