14.8.10

O Paquistão numa crise de proporções colossais

O primeiro-ministro paquistanês, Yusuf Raza Gilani, afirmou ontem serem já 20 milhões os seus compatriotas afectados pelas piores inundações de que há memória no país, um cálculo muito superior ao dos 14 milhões que as autoridades anteriormente tinham comunicado às Nações Unidas.
O chefe do Governo deu a notícia durante o Dia da Independência, que este ano não teve cerimónias públicas devido ao estado de calamidade causado pelas chuvas de monção.
A ONU já confirmou pelo menos um caso de cólera entre as vítimas, no vale de Swat, e disse que seis milhões de paquistaneses irão morrer se a comunidade internacional não os ajudar o mais depressa possível.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, é este fim-de-semana aguardado no país, para ser testemunha ocular da tragédia, que tende a aumentar, pois que as chuvas deverão cair ainda durante mais um mês.
Os serviços de saúde estão a incrementar o combate às doenças provocadas pela situação que se vive nas áreas inundadas. E Gilani insistiu em que há 20 milhões de pessoas de uma forma ou outra afectadas, se bem que não tenha explicado quantas é que estarão apenas temporariamente impedidas de fazer uma vida normal, até as águas descerem, e quantas é que perderam por completo todos os seus haveres, sem qualquer hipótese de os recuperar. Isto num país de 180 milhões de habitantes.
Tanto os militares como as instituições humanitárias ligadas a grupos islamistas têm procurado minimizar o sofrimento do povo paquistanês, mas as agências das Nações Unidas já forneceram auxílio a centenas de milhares de vítimas.
Ao sublinhar a escala do desastre, Yusuf Gilani disse que o país enfrenta desafios semelhantes aos verificados aquando em 1947 se verificou a partilha do subcontinente, entre uma Índia predominantemente hindu e um Paquistão maioritariamente muçulmano.
O Governo paquistanês tem vindo a ser acusado de demasiada lentidão na resposta a uma crise de tão grandes proporções e o mal-estar avoluma-se dia para dia, com a hipótese de uma enorme agitação social.
“A crise deu mais um golpe na fé do povo paquistanês no seu Governo civil; fortaleceu a posição do Exército; e, o que é mais preocupante, poderá ter dado aos islamistas a oportunidade que há muito esperavam”, escreveu a revista norte-americana Time.
Alguns analistas, citados pelos jornais norte-americanos da cadeia McClatchy, afirmam que o Presidente Asif Ali Zardari poderá ser derrubado, possivelmente pelas Forças Armadas, que já governaram o Paquistão durante mais de metade dos seus 63 anos como país independente.
Outros peritos experts admitem que o próprio Estado se poderá desmoronar, com a fome a pobreza a desencadearem explosões de cólera popular que já se estão a esboçar, devido ao grande desemprego, ao elevado preço dos combustíveis, à corrupção e à rebelião dos extremistas aliados à rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden.
Najam Sethi, editor do semanário Friday Times, de Islamabad, disse estar já a ser debatida a formação de uma espécie de governo de salvação nacional, com ou sem o Partido do Povo do Paquistão (PPP), de Zardari, viúvo da antiga primeira-ministra Benazir Bhutto.

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