26.7.16

Marrocos quer entrar na União Africana

O reino de Marrocos, que na primeira parte da década de 1980 se afastou da Organização da Unidade Africana (OUA), quer agora entrar na entidade que lhe sucedeu, a União Africana (UA).

Para que isso possa acontecer, Marrocos exige que a República Árabe Sarauí Democrática (RASD) seja suspensa.

No seguimento de longos anos de trabalho diplomático por parte de Rabat, 28 países africanos assinaram uma moção a pedir que a RASD seja efectivamente suspensa da UA.

O Presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, amigo da França e de Marrocos, assumiu a liderança do grupo que pretende o afastamento da frágil República proclamada pela Frente Polisário.

Senegal, Costa do Marfim e Mali são outros países francófonos muito empenhados em que se faça a vontade ao reino de Marrocos e se sacrifiquem os sarauís, muitos deles exilados na vizinha Argélia.

Gastando rios de dinheiro, os marroquinos prosseguem na saga de procurar conseguir a homologação da sua presença no Sara Ocidental, ao qual recusam o direito à autodeterminação e à independência.

O Presidente do Chade, Idriss Déby Itno, afirmou que Marrocos tem o direito de entrar na UA "quando e como desejar", contribuindo assim para que se cumpram os desejos das autoridades de Rabat.

Um documento elaborado em francês, inglês, espanhol e árabe dá conta dos desejos de os marroquinos entrarem na UA, 32 anos depois de se terem afastado da OUA, como forma de protesto contra o facto de, em 1982, ela ter reconhecido a RASD.

Marrocos tem tido artes de colaborar com uma grande parte da África, nos domínios da economia e da segurança, entre outros.

Macky Sall, Presidente do Senegal, que não quer perder a parte meridional do seu país, a Casamansa, é um dos que defendem que a RASD seja suspensa da UA, onde é apoiada, nomeadamente, pela Argélia, a África do Sul, Angola e Moçambique.


Em Junho, o Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, visitou oficialmente Rabat, a fim de debater estes assuntos com o rei Mohamed VI.

Tendo morrido recentemente o primeiro líder da RASD, Mohamed Abdelaziz, o soberano marroquino julga-se agora mais à vontade para fazer com que a maioria do continente africano alinhe com os seus pontos de vista.

A presidente cessante da Comissão da UA, a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma, saudou o novo Presidente sarauí, Brahim Ghali; mas isto não preocupa demasiado aqueles que preferem fazer o jogo de Marrocos.

O precário estado de saúde do Presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, um dos grandes protectores da RASD, também poderá ajudar a que os sarauís fiquem na mó de baixo.

Há 32 anos uma grande parte da África e da América Latina era solidária com a Frente Polisário, mas com o andar do tempo essa causa foi perdendo peso, pois as próprias Nações Unidas foram incapazes de proceder a um referendo no qual os sarauís afirmassem se queriam ou não ser independentes.

A RASD foi proclamada unilateralmente em 1976, há 40 anos, e apenas controla uma pequena parte do Sara Ocidental, encostada à Argélia e à Mauritânia, enquanto no resto do território se encontram os militares e os colonos marroquinos.

Para alguns dos seus detractores, é tão improvável a causa sarauí vencer quanto o são as hipotéticas independências da Casamansa ou de Cabinda. Sobretudo tendo em conta as notícias pouco agradáveis que temos da Eritreia, depois de ela se ter afastado da Etiópia; e o desastre que foi a independência do Sudão do Sul.

Retalhar ainda mais a África, do que aquilo que ela já o está, na sequência dos desígnios coloniais, poderá não ser uma solução muito feliz.

Deverá ser isso o que pensam os 28 países africanos que se inclinaram para o lado de Marrocos: Benim, Burkina Faso, Burundi, Cabo Verde, Comores, Congo, Costa do Marfim, Djibuti, Eritreia, Gabão, Gâmbia, Ghana, República da Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Líbia, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Seychelles, Serra Leoa, Somália, Sudão, Suazilândia, Togo e Zâmbia.

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