29.7.08

O processo referente ao Zimbabwe não é linear

O Presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, confirmou terça-feira que as conversações sobre o Zimbabwe se encontram suspensas e só deverão vir a ser reatadas no próximo fim-de-semana, mas tentou disfarçar o impasse óbvio dizendo que “estão a decorrer muito bem”. Afirmação muito diferente da de um quadro do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), segundo o qual se chegara a um impasse depois da proposta para que o respectivo líder, Morgan Tsvangirai, aceitasse ficar pura e simplesmente como terceiro vice-presidente, muito abaixo do actual chefe de Estado, Robert Mugabe, e dos dois vice-presidentes que já existem.

O diálogo para um compromisso entre o regime zimbabweano existente desde a proclamação da independência, em 1980, e o MDC, vencedor das legislativas de 29 de Março último, principiou quinta-feira da semana passada num local discreto da região onde se situam Pretória e Joanesburgo, visando saber quem é que na verdade deverá ficar com a chefia do Governo, depois de Tsvangirai ter boicotado a segunda volta das presidenciais, dia 27 de Junho, por haver considerado não haver condições para que a votação decorresse de forma isenta.

A delegação da ZANU-Frente Patriótica, no poder, insistiu nestes últimos dias para que Mugabe continuasse como Presidente e chefe do Governo, apesar dos seus 84 anos e do agravamento da situação política e económica no país; mas Tsvangirai não se quer conformar com nada menos do que um lugar de primeiro-ministro com poderes executivos, a exemplo do que há meses aconteceu no Quénia com o grande rival do Presidente Mwai Kibaki: Raila Odinga, líder do Movimento Democrático Laranja (ODM).

O quadro do MDC citado pela Reuters disse que o seu chefe vai esta quarta-feira a Angola, para uma reunião da comissão de política, defesa e segurança da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), a instituição que o ano passado escolheu Mbeki como o facilitador de todo este processo. E muitos simpatizantes da oposição nem sequer acham bem que Tsvangirai se encontre em negociações com o regime de Mugabe quando 2.000 dos que o apoiam continuam detidos, depois de mais de uma centena terem sido assassinados desde Março e alguns milhares necessitado de tratamento devido à violência das autoridades.

As agências humanitárias não têm liberdade de actuação em grande parte do país e, por isso mesmo, um milhão e meio de zimbabweanos não consegue receber alimentos e medicamentos de grande necessidade, procurando sempre que possível fugir para os territórios vizinhos: África do Sul, Botswana, Zâmbia e Moçambique.

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