3.9.08

Toda a grandeza de Angola

Angola tem actualmente no activo 110.000 soldados e conta com 2,7 milhões de cidadãos aptos para o serviço militar, dos 16 aos 49 anos, bem como com uma dotação anual de 5,7 a 8,8 por cento do seu Orçamento reservada a despesas militares para se poder projectar tanto na África Austral como na Ocidental, com um estatuto de potência regional, enquanto aguarda vir a suceder a Portugal, dentro de dois anos, na presidência da Comunidade dos Países de Língua Portugal (CPLP), já então com uma nova legislatura e eventualmente, pelo menos em teoria, com um novo Chefe de Estado.
Se bem que a África do Sul seja quem tem a maior parte do poder na região a sul do Sara, tanto em termos económicos como militares, com a sua economia a crescer acima da média africana durante a última década, Angola nunca se esquece de recordar ao mundo que também teve nos últimos seis anos grande crescimento económico, se bem que ainda apresente muitas infraestruturas danificadas por décadas de guerra e que os seus campos se pareçam com um mar de minas, terrestres e antipessoais; o que faz recordar o muito trabalho ainda por fazer.
Luanda, com 100.000 homens e mulheres só no Exército, mais 7.000 na Força Aérea e 3.000 na Armada, tem exercido grande influência em cada um dos Congos, que mais não seja como forma de proteger as fronteiras de Cabinda, contrabalança em São Tomé e Príncipe os interessess da Nigéria; e até procura exercer um certo papel moderador nas questões da longínqua Guiné-Bissau, como quando recentemente se atribuiu a mediação entre o Presidente Nino Vieira e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Tagme Na Waye, que pareciam em rota de colisão. O porto guineense de Buba, idealizado pela autoridade colonial portuguesa e mais tarde cobiçado pela União Soviética, está agora em vias de ser concretizado com capital angolano, naquilo que alguns vêem como mais um indício da apetência crescente de Luanda por um papel supranacional.
O investimento total previsto para o projecto de Buba, na região de Quinara, no Sul da Guiné-Bissau, é de 500 milhões de dólares (344 milhões de euros), conforme se pode ler no site Mercosul & CPLP, e a contrapartida será a exploração daquele porto, no Rio Grande, e também o negócio da extracção da bauxite. Por tanto desejar investir na bauxite e no petróleo guineense é que Angola se arvorou já como que em potência protectora de um país que é independente desde 24 de Setembro de 1973.
Dentro dessa ordem de ideias, o embaixador angolano em Bissau, António Brito Sozinho, condenou o mês passado quaisquer intentonas que ali se estivessem a delinear e sintetizou: “Os golpes de Estado não têm mais lugar em África”. Não os quer no Golfo da Guiné, a milhares de quilómetros de casa, como também não os permite nos Congos, onde tem os seus fiéis aliados.

“Padrinho” de Sassou-Nguesso e Kabila
O Presidente José Eduardo dos Santos enviou mais de dois mil soldados para o Congo a fim de ajudar o seu homólogo Denis Sassou-Nguesso durante a guerra civil que, de 5 de Junho a 15 de Outubro de 1997, opôs em Brazzaville os partidários do mesmo aos do seu antecessor Pascal Lissouba, que se exilou em Londres. E em outras ocasiões ajudou também o mesmo político a perseguir milícias tanto de Lissouba como do antigo primeiro-ministro Bernard Kolelas.
Por outro lado, Luanda ajudou a manter no poder, na República Democrática do Congo (RDC, ex-Zaire), a partir de 1998, a família Kabila, primeiro o Presidente Laurent-Désiré e depois o seu filho, Joseph Kabila, que teve de suportar uma oposição armada coligada com as forças do Uganda e do Ruanda. Em troca dessa ajuda, ganhou o direito de patrulhar a província de Bandundu e a foz do rio Zaire, para que não constituíssem uma rectaguarda segura para os nacionalistas de Cabinda.
A recente visita efectuada a Angola pelo Presidente Thabo Mbeki ajudou a limar algumas das arestas e das desconfianças existentes entre as duas partes, tendência que se poderá acentuar se acaso o MPLA ganhar agora folgadamente as legislativas e se o próximo Chefe de Estado sul-africano vier a ser, no próximo ano, Jacob Zuma, que já em Março estivera em território angolano para as celebrações do vigésimo aniversário da batalha do Cuíto Cuanavale, uma das maiores a que a África assistiu desde a II Guerra Mundial.
Na sua campanha para um novo papel a nível internacional, Angola procura hoje em dia - por iniciativa do ministro da Ciência e Tecnologia, João Baptista Ngandagina- produzir energia nuclear, de modo a compensar as carências de electricidade; e conseguiu já identificar jazidas de materiais radioactivos, como o urânio, para cuja exploração poderia contar tanto com o interesse da China como com o da França. As maiores reservas africanas de urânio até há alguns anos conhecidas eram as da África do Sul e da Namíbia; e o preço deste metal (tal como o da bauxite) tem vindo a aumentar grandemente no mercado internacional, dominado pela Austrália. Jorge Heitor

Nenhum comentário: