10.10.10

Bubo Na Tchuto à frente da Armada da Guiné-Bissau

O Presidente Malam Bacai Sanhá nomeou o contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto chefe do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau, mas a representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Ashton, lamentou-o profundamente.
Bacai Sanhá explicou ter recolocado Bubo Na Tchuto no lugar que já em tempos desempenhara por entender que isso poderá contribuir para a estabilidade de um país muito agitado. Mas a UE, por seu turno, destacou o “papel desestabilizador” de Bubo nos acontecimentos de 1 de Abril último, quando o general António Indjai o foi buscar às instalações das Nações Unidas onde se encontrava refugiado e juntos prenderam o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Zamora Induta.

“É uma tentativa do poder legítimo da Guiné-Bissau, do Governo e da Presidência da República, de criar um clima propício para a implementação da reforma do sector de defesa e segurança”, afirmou Malam Bacai Sanhá aos jornalistas, enquanto Catherine Ashton recordava que o oficial em causa se encontra sujeito a sanções por parte de entidades internacionais, designadamente norte-americanas, por se ter considerado que estava envolvido no narcotráfico que dilacera a vida da África Ocidental.

“A comunidade internacional vai compreender a nossa posição, como compreenderam sempre. Vai compreender a necessidade que nós temos de estabilizar este país e nós estaremos à altura de dar essas explicações”, disse o Presidente guineense, depois de haver recolocado Bubo no lugar que tivera até Agosto de 2008, quando foi acusado de actividades golpistas pelo então chefe do Estado-Maior General, general Tagme Na Waie, que viria a ser assassinado em 1 de Março do ano passado.

Na sequência das acusações de que tentaria procurar destituir o então Presidente João Bernardo “Nino” Vieira, Bubo Na Tchuto foi destituído e fugiu para a Gâmbia, de onde depois saiu para se refugiar na representação da ONU em Bissau.

Durante o período em que ele se encontrou fugido, foram assassinados tanto Tagme Na Waie como o próprio “Nino” Vieira, numa série de crimes políticos a que a Guiné-Bissau tem vindo a assistir.

No dia 1 de Abril deste ano, Bubo Na Tchuto e o general António Indjai não só destituíram o almirante Zamora Induta da chefia do Estado-Maior General como chegaram a prender, durante algumas horas, o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, líder do partido maioritário, o PAIGC.


País de arbitrariedades

Zamora Induta tem continuado detido, sem julgamento, se bem que nos últimos dias tenha sido anunciada a iminência da sua libertação, constantemente exigida pela UE, que não se conforma com uma série de arbitrariedades que se têm verificado na Guiné-Bissau e ficado impunes.

De acordo com as palavras da britânica Catherine Ashton, a recolocação de Bubo Na Tchuto à frente da Armada confirma, se necessário fosse, a militarização da política naquela antiga colónia portuguesa, onde nos últimos sete meses Presidente e Governo têm feito quase tudo o que é desejado por alguns oficiais generais.

Em Junho, o Tribunal Militar guineense arquivou as acusações de alegada tentativa de golpe de Estado que haviam sido formuladas contra Bubo Na Tchuto; e a partir daí ele começou a exigir que o colocassem de novo no Estado-Maior da Armada. Isto apesar de o departamento norte-americano do Tesouro o ter colocado na lista internacional de narcotraficantes.

O mesmo tribunal determinou na semana passada não haver razões para se manter por mais tempo a prisão preventiva do Almirante Zamora Induta, que no entanto deveria segundo os juízes ser obrigado a permanecer no país, de modo a esclarecer algumas das acusações que contra ele também têm vindo a ser feitas.

De acordo com uma carta atribuída ao Procurador-Geral da República, Amine Michel Saad, e divulgada pelo site “Ditadura do Consenso” (http://ditaduradoconsenso.blogspot.com/), Induta teria dito o ano passado a um grupo de militares que o primeiro-ministro lhe dera ordens para mandar executar o Presidente Vieira.

No entanto, acusações tão graves como estas não são inéditas na Guiné-Bissau, sem que ninguém as desminta cabalmente ou consiga confirmar a sua veracidade, pois que o clima geral é desde há muito o de uma total impunidade.


A Guiné-Bissau, recorde-se, tem vindo a ser o mais turbulento dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, tendo já deposto três dos seus presidentes, um deles, o referido "NinO" Vieira, barbaramente assassinado aquando da sua segunda deposição.

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