3.3.16

Alda Juliana, mulher de Angola

Aquela que chegou a ser considerada uma das figuras mais carismáticas da UNITA, cuja bancada parlamentar liderou, Alda Juliana Sachiambo, é agora casada com o ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Rebelo Pinto Chikoti. Esta aparente reviravolta diz bem do quanto o MPLA tem sabido absorver muitos daqueles que há 20 ou 30 anos militavam nas fileiras do Galo Negro, debilitando assim esse movimento ou partido político. Alda Juliana, a que os mais próximos chegaram a chamar “Mana Aninhas”, foi até vista como aspirante à presidência da UNITA, mas ao fim e ao cabo acabaria por se unir a um homem que também chegou a ser fiel de Jonas Savimbi e que depois se foi aproximando progressivamente do poder. Na fase intermédia, entre a sua pertença à UNITA e a adesão ao MPLA, Georges Chikoti fundou e liderou um grupo chamado Fórum Democrático Angolano. Em 1978 Alda era a única mulher que fazia parte do Conselho da Revolução do Galo Negro, como tenente, casada na altura com o coronel Waldemares Pires Chindondo, primeiro Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA). Acusado de rebelião contra o todo poderoso Jonas Malheiro Savimbi, o coronel Chindondo foi executado, enquanto a sua viúva subia a presidente da Liga da Mulher Angolana (Lima). Em 1988, Savimbi formou um governo paralelo e Alda Sachiambo, agora graduada com a patente de capitã, foi indigitada para exercer as funções de ministro adjunto do Trabalho e Abastecimento. No ano seguinte a UNITA realizou um congresso extraordinário e ela passou a Directora de Gabinete do Secretariado do Planeamento. Meses depois dos acordos de Bicesse, negociados e assinados em Portugal, Alda Sachiambo, já na qualidade de uma das mulheres de Jonas Savimbi, integrou a caravana que acompanhou o líder rebelde na sua viagem histórica das matas até à cidade do Huambo. E esteve na tribuna dos primeiros comícios feitos pelo presidente da UNITA, ao lado de Ana Isabel Savimbi (esposa principal), de Catarina e de Sandra, outras das companheiras do chefe. No processo de transformação da UNITA, de máquina militar em força política, Ana Sachiambo tornou-se a número dois da equipa económica, chefiada por Fátima Roque, então mulher do comendador Horácio Roque, criador do Banco Internacional do Funchal (Banif). Mais tarde, por entre muitas outras peripécias, foi secretária provincial da UNITA no Huambo, tendo funcionado como uma espécie de contrapoder ao governador Paulo Kassoma, figura grada do MPLA. Sequentemente, em Luanda, foi assessora política do actual presidente da UNITA, Isaías Samakuva, ao mesmo tempo que tirava o curso de Ciência Política na Universidade Agostinho Neto. Iam-se assim esbatendo cada vez mais as velhas dicotomias entre certos quadros do Galo Negro e a Grande Família que o MPLA sempre desejou ser. Até que Alda Juliana Paulo Sachiambo deixou a liderança da principal bancada parlamentar da oposição e tratou de se unir pelo casamento ao chefe da diplomacia angolana. À boda, em Novembro de 2011, assistiram o Presidente da República, a primeira dama, Ana Paula dos Santos, o já referido Paulo Kassoma, agora presidente da Assembleia Nacional, e uma série de notáveis da UNITA, como Ernesto Mulato, Lukamba Gato, Jaka Jamba, Marcial Dachala e José Pedro Cachiungo. Nove meses depois, em Agosto de 2012, nas eleições gerais, o MPLA conseguiu 71,8% dos votos (e reconduziu José Eduardo dos Santos na chefia do Estado), a UNITA 18,7% e a Casa, de Abel Chivukuvuku, dissidente do Galo Negro, seis por cento. Se acaso se mantiver a tendência para o MPLA saber aliciar por todos os meios muitos daqueles que em tempos se lhe opuseram, não será tão cedo que o MPLA deixará de ser poder em Luanda. À UNITA continuará a caber o papel de um adversário devidamente domesticado, sempre mantido dentro de certos limites.

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