17.3.16

Angola: Eleições em 2017 ou 2018?

1. O anúncio de José Eduardo dos Santos (JES) de que decidiu retirar-se da vida política em 2018, está a prestar-se a interpretações de sentido diverso, mas com predomínio das que depreciam o gesto, em geral por verem no mesmo um “artifício” com uma finalidade subliminar contrária ao espírito da retirada que proclama. A iniciativa de JES, tal como predizem as interpretações cépticas, representa uma “manobra política”, inspirada noutras similares do passado, cujo “objectivo principal” se decompõe em dois: - Prolongar o exercício do poder pelo próprio num ambiente político que sentiu necessidade de “melhorar” em relação ao existente até ao anúncio da retirada. - Garantir nos órgãos de cúpula do MPLA e nas instituições do regime, em geral, condições políticas, legais e eleitorais para o processo da sua substituição corresponda aos seus interesses - alargados aos de sua família e do círculo de “próximos”. 2. O anúncio de JES foi feito numa reunião do CC expressamente convocada para preparar o congresso do MPLA marcado para Ago – antevisto como “etapa decisiva” na prossecução dos seus planos de poder. Apenas os seus próximos e, eventualmente, alguns membros da família, terão sido previamente postos ao corrente do anúncio. Os destinatários-chave da comunicação de JES foram, directamente, os indefectíveis e/ou potenciais apoiantes internos no aparelho partidário; indirectamente, meios da sociedade consigo conotados. A mobilização de uns e de outros no apoio á sua linha política destina-se a ser projectada no congresso de Ago, incluindo preparativos. 3. O que comumente se conjectura serem as expectativas de JES em relação ao congresso, é que a composição dos órgãos de direcção do MPLA resultantes do mesmo seja favorável a dois desígnios considerados “vitais” para a “salvaguarda” do seu poder - exercido pelo próprio e, a seguir, por outrem que na sua mente terá de lhe ser “afecto”. Os referidos desígnios: - A sua própria indicação, de preferência num ambiente de exaltação, como cabeça de lista do MPLA nas próximas eleições. - A indicação, em segundo lugar, como candidato a Vice-presidente, de uma figura na qual precisa de depositar confiança máxima – política e pessoal – na “certeza” que tem de que virá a ser esse o seu substituto desejado. 4. Os cuidados extremos que JES revela em relação à substituição são considerados típicos do quadro mental (temperamento/pensamento) de um líder que, pela sua longevidade e natureza autocrática do poder que tem exercido, se julga no direito especial de sair quando e como quiser. A sua nova apresentação como candidato presidencial às próximas eleições é, porém, objectada internamente, embora sempre de forma recatada, e a ascensão de uma figura como um dos seus filhos ou qualquer outra capaz de ser identificada como seu factotum é ainda mais repudiada no aparelho partidário – BP em especial. Entre os pronunciamentos de dirigentes do MPLA interrogados pelos media acerca do anúncio de JES, nenhum defendeu de forma ostensiva a sua continuidade no exercício do poder. A tónica geral consistiu em descrever como compreensiva e legítima a decisão de JES de se retirar, depois da sua “árdua” tarefa. 5. As presentes circunstâncias políticas não são equiparáveis a outras, do antecedente, em que se registaram similares manifestações de vontade de JES de se retirar do poder, mas se concluiu terem redundado em “artifícios” exercidos com fins tão subliminares como o de encorajar pretendentes ao cargo a assumirem-se – para os anular a seguir. Principais elementos diferenciadores das circunstâncias actuais: - A mais intensa e mais sistemática contestação político-social de que JES é nitidamente alvo – ampliada pelos efeitos nefastos da presente crise económico-financeira, mas propiciada por argumentos como o seu alegado apego ao poder, favorecimento da família e indefectíveis e recrudescimento do autoritarismo. - As repercussões externas (internacionais e regionais), em larga escala particularmente adversas a JES, do ofuscamento da anterior reputação de Angola, baseada na alegada qualidade da sua democracia e pujança da sua economia. - JES está agora mais velho e reavivou-se ao rumor de que está acometido de delicados problemas de saúde. 6. Com base no pressuposto de que JES está ciente das suas “novas fragilidades”, empoladas por uma conjuntura que tende a persistir, as interpretações mais benignas que identificam no anúncio da intenção de se retirar propósitos mais pertinentes, consideram que começou a preparar uma saída e a tentar garantir que seja honrosa. - O anúncio destinou-se, assim, a tentar amortecer/esvaziar a pressão interna e externa que sobre ele se vem exercendo com base no argumento da sua longevidade no poder, de modo a conferir ao acto da retirada um carácter voluntário. - A melhorar a aceitação interna da apresentação da sua candidatura às próximas eleições, neste caso por via de um compromisso de se retirar a seguir; adicionalmente, melhorar as suas condições para apontar/proteger um “sucessor”. Há rumores de que JES também pretendeu, com a sua iniciativa, criar condições políticas e psicológicas que lhe permitam adiar as eleições marcadas para 2017, se tal medida garantir que o MPLA e ele próprio disporão de melhores meios para se lançar numa campanha eleitoral em que as condições de fraude serão menores. África Monitor

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