23.6.16

Bissau: Ainda na infância

Há mais de 20 anos que se constata que o país criado por Amílcar e Luís Cabral tem ainda uma larga estrada a percorrer. Os seus principais problemas de desenvolvimento ainda estão por resolver, como escreviam em 1993 Carlos Cardoso e Johannes Augel, num colóquio realizado em Bissau. Podia-se dizer então e diz-se igualmente hoje que a Guiné-Bissau nem sequer ainda arrancou. É como que um pinto que está há 43 anos a sair do ovo e que ainda mal consegue dar alguns passos. O maior obstáculo ao desenvolvimento guineense sempre tem sido a ausência de uma boa governação. Mas também há que ter em conta que os guineenses não conseguiram obter, com o auxílio do português, sua língua oficial, o conhecimento científico e tecnológico necessário ao desenvolvimento. Conforme notou o linguista japonês Tsushi Ichinose, teria havido efeitos negativos da escolha do português como língua oficial. Trata-se de um idioma que só 15 ou 18 por cento da população compreenderá bem, enquanto a grande maioria dos habitantes fala crioulo. Ou seja, a Guiné-Bissau apresenta uma situação sócio-linguística muito complexa: o português oficial, o crioulo veicular, duas dezenas de línguas étnicas, herdadas dos avós (como o fula, o mandinga, o balanta, o papel e o manjaco), e ainda o francês. É a partir de todo este caldeirão que o pintainho terá de caminhar, até se transformar num frango garboso e num galo verdadeiramente maduro. E todos nós sabemos que os frangos de aviário não são os melhores. Há que deixá-los crescer em liberdade, sem artifícios.

Nenhum comentário: