14.12.14

O candelabro do Natal de Maria

Um candelabro para este Natal Estimado amigo Jorge Heitor, Estamos a meio do Advento e venho desejar uma boa caminhada de preparação para a celebração do Natal de Jesus. Faço votos que o Natal, a celebração do nascimento de Cristo, nos ajude a viver um momento de realização das nossas mais pessoais expectativas e profundos desejos – de beleza, de verdade e bondade - de paz e comunhão com Deus e com os outros, que o Natal cristão anuncia e oferece a todos. Ontem, depois das aulas e como exercício deste advento, fui a Ain Karim, a aldeia onde a tradição cristã coloca a residência de Zacarias e o local da visitação que Maria fez a sua prima Isabel, esposa de Zacarias e mãe de João Baptista. Quem lá pode ir, como quem não pode, todos podemos reconstruir e reviver a cena pela leitura do Evangelho de Lucas 1, 39-56. Antes de lá ir passei pela Sinagoga do Hospital de Hadassah, para contemplar as famosas doze janelas vitrais de Marc Chagal: uma obra de arte de grande beleza e carregada de história religiosa, a fazer memoria das bênçãos do Patriarca Jacob a cada um dos seus doze filhos, de Deus a um povo. Passei por lá, para entrar neste movimento de bênção, de dom, de visitação de Deus a um povo escolhido, à humanidade. Um movimento de saída de Deus de si, já começado na criação do universo e que atinge a sua plenitude na revelação em Cristo, no Seu nascer na nossa humanidade. De lá, dirigi-me a pé, pelos carreiros do monte como o terá feito Maria, para Ain Karim, para visitar a Igreja de São João Baptista e a Igreja da Visitação. A visitação de Maria à sua prima entra neste movimento que Deus imprime ao universo e a quantos O acolhem: sair de si para ir ao encontro dos outros, do Outro, que outro não é que Ele próprio. Na Igreja da Visitação, observei os traços e as características do agir de Maria na sua visita a Isabel, relendo um texto que tinha trazido comigo e alguém escreveu com o sugestivo nome de “Menorah de Maria” (o conhecido candelabro judaico de sete braços), o candelabro do Natal de Maria com sete velas, as suas atitudes para com Isabel. É este texto que resumidamente comparto aqui, com votos de que este Natal seja para todos nós de visitação e de encontro com Deus e os outros. Vamos então às velas do candelabro de Natal de Maria. 1.-A primeira é a “atenção”: intuir, perceber, ver a necessidade do outro. Maria viu a necessidade de Isabel: “ubi amor, ibi oculos” (onde há amor, há um olhar atento!). 2.-A segunda é “a inteligência” do amor: a capacidade de perceber e escutar o mistério da outra pessoa; perceber com o coração porque “cuor ad cuor loquitur” (coração fala a coração). Sim, porque “o essencial é invisível aos olhos” e só o coração o consegue ver! 3.-A terceira vela é “a concretização” no agir: ser solícitos e concretos na resposta a dar à situação e à necessidade dos outros. Maria foi concreta e solícita na sua resposta a Isabel e foi visitá-la, sem demora, para a ajudar. 4.-A quarta vela é “a alegria”: os gestos do amor gratuito, espontâneo e não forçado (por sentidos de dever e etiqueta), fazem surgir e alimentam a alegria (nada nos dá mais alegria do que aquilo que fazemos espontânea, escondida, livremente). A alegria marcou o encontro de Maria e Isabel. 5.-A quinta vela é “a ternura”: o agir com alegria ultrapassa as distâncias e aproxima os que vivem afastados. Servir com ternura, como Maria serviu Isabel, alimenta o amor e é fonte de alegria íntima e duradoura (o amor é alegria pelo bem do outro!). 6.-A sexta vela é “o dom”: um amor que se dá, se faz dom sem nada pedir em troca. Isabel e Maria trocam-se os dons que as possuem. Ambas estão grávidas. Isabel, de João Baptista que incarna milénios de espera. Maria, de Cristo, a realização que colma essa expectativa. Abraçam-se, numa troca de dons, no mistério de um amor que as une e se irradia para a todos abraçar. 7.-A sétima vela é “o silêncio”: uma nuvem invisível que cobre gestos e acções, exprime o primado do ser sobre o fazer, da verdade sobre a aparência; que manifesta a surpresa diante do mistério partilhado e abre, o coração e a boca, à oração de louvor. Maria recita o Magnificat. Isabel proclama a bem-aventurança daquela que acreditou. Desejamo-nos, então, um bom caminho para o Natal, acendendo as velas no nossa candelabro, à medida e ao ritmo que as circunstâncias da nossa vida o sugerirem, para chegar ao Natal e experimentar a alegria do encontro com Cristo e com aqueles que esperam a nossa visita e a nossa presença. Shalom, desde Jerusalém, a cidade da Paz, nestes dias tão incerta. E os meus votos de Feliz e Santo Natal. Estarei em Belém, na celebração da meia noite, e espero estar lá, encontrar-me lá com Cristo e consigo, com quantos gostaria de visitar e desejar os dons de Deus neste Natal! Pe Manuel Augusto Lopes Ferreira, mccj Jerusalém, 12 de Dezembro de 2014

Um comentário:

António da Cunha Duarte Justo disse...

Fantástico!
Ainda não sabia nada sobre o
candelabro de Natal de Maria. Uma ideia imagem muito importante também para a pintura!
Obrigado por texto tão esclarecedor.
António Justo