28.10.08

O general Nkunda quer conquistar Goma

O Exército da República Democrática do Congo (RDC) preparava-se ontem para abandonar Rutshuru, uma centena de quilómetros a norte da cidade de Goma, capital da província do Kivu Norte, na fronteira com o Ruanda. E os dirigentes religiosos da região dos Grandes Lagos avisaram que a nova guerra no território do antigo Zaire poderá facilmente alastrar aos países vizinhos, incluindo o Burundi.
As tropas leais às autoridades de Kinshasa têm-se revelado nos últimos dias incapazes de deter o avanço do grupo rebelde liderado pelo general Laurent Nkunda, que se apresenta como o protector das populações tutsis daquela região fronteiriça. “O pânico é total”, contou à Reuters o administrador da localidade cercada, Dominique Bofondo.
“A situação é muito tensa. Há ataques a instalações humanitárias e pilhagens”, disse por seu turno Evo Brandau, porta-voz do Gabinete de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. “O Exército já não consegue garantir a segurança”. E peritos norte-americanos em segurança estão já a incluir o Leste da RDC entre os grandes problemas da África actual, em pé de igualdade com a Somália, o Sudão, o Zimbabwe e o delta do rio Níger, na Nigéria, onde a produção petrolífera já registou uma quebra.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está a preparar-se para receber 30.000 deslocados no seu acampamento de Kibati, 10 quilómetros a norte de Goma, que fica na margem setentrional do Lago Kivu, praticamente pegada à cidade ruandesa de Gisenyi, numa região do mundo onde as populações tendem a não reconhecer fronteiras relativamente recentes, traçadas durante o tempo da administração colonial, que ainda nem sequer terminou há meio século.

Nkunda acusa
O Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), de Nkunda, acusa o Exército congolês de colaborar com as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), que incluem milícias hutus e ex-soldados ruandeses que organizaram o genocídio de 1994, do qual foram vítimas mais de 800.000 pessoas. Quase dois anos de luta esporádica no Kivu Norte já fez com que 850.000 pessoas tivessem de deixar as suas casas, depois de a guerra congolesa de 1998-2003 e a consequente crise humanitária terem morto bem mais de cinco milhões de habitantes, num país de 67 milhões, independente desde 1960, quando o seu Presidente foi Joseph Kasavubu e o primeiro-ministro Patrice Lumumba, afastado ao fim de 10 semanas de governação e posteriormente assassinado.
O renegado Nkunda afirma ser um pastor adventista do Sétimo Dia e contar com o apoio do movimento pentecostal norte-americano Rebels for Christ; mas a verdade é que está a ser investigado pelo Tribunal Penal Internacional, por acusação de crimes contra a humanidade.

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