O velho fantasma da dicotomia entre tutsis e hutus
Ao dizer à Europe 1 que o que se está a passar no Kivu Norte é “uma chacina como provavelmente jamais houve na África”, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, levantou ontem o fantasma de uma repetição do genocídio de 1994 no Ruanda e de muitos outros conflitos que tem havido na região dos Grandes Lagos opondo tutsis e hutus.
A rebelião liderada pelo general Laurent Nkunda, que pertence ao estrato social tutsi e que fala a língua randesa, o kinyarwanda, argumenta ter pegado em armas por se encontraram refugiados no Kivu muitos dos hutus que participaram no genocídio de há 14 anos e que poderão continuar com os seus instintos assassinos, perante a conivência ou inércia das autoridades da República Democrática do Congo (RDC).
O Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), de Nkunda, pretende que todos os responsáveis ou colaboradores da chacina de 1994 sejam entregues ao Ruanda, para que sejam julgados pelo regime liderado pelo seu amigo Paul Kagamé. E não confia na Missão de Observação das Nações Unidas no Congo (MONUC), pois que então também havia em território ruandês uma força multinacional, chefiada pelo general canadiano Romeo Dallaire, e ela nada conseguiu fazer para impedir que os extremistas matassem para cima de 800.000 pessoas, em grande parte pertencente à classe social dos tutsis, que sempre se dedicou à pastorícia, enquanto os hutus cultivavam a terra.
Segundo alguns estudiosos, como o geógrafo francês Jean-Pierre Raison, tutsis e hutus não se podem considerar propriamente etnias, uma vez que falam a mesma língua: o kinyarwanda no Ruanda e o kirundi no Burundi. A artificial divisão étnica teria sido feita pela administração colonial alemã e belga, durante a primeira parte do século XX, no apogeu das doutrinas racistas.
Aquando dos preparativos para a proclamação da independência, em 1959, muitos hutus, que constituíam a maioria da população, entenderam que o Ruanda se deveria livrar da casta privilegiada tutsi, pelo que as chacinas começaram. Muitos tutsis fugiram para os territórios vizinhos, a engrossar comunidades como a banyamulenge, da qual actualmente Nkunda se apresenta como o protector. J.H.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Um conflito horrível, que realmente o mundo fechou os olhos para tal...
E essas pessoas hojem como vivem?
As ajudas humanitárias da ONU como estão em relação a Ruanda?
Conheci esse conflito atravéz dos filmes Hotel Ruanda e a História de um Massacre, que conta a história do Gen Romeo Dellaire dentro desse conflito, os meios de comunicações acho que nao deram tanta importancia a esse fato...
Postar um comentário