11.2.13

Depois de Ratzinger, a Igreja necessita de evoluir

A comunidade internacional de cidadãos católicos não pode continuar a ser chefiada, apenas, por papas europeus, uma vez que quase três quartos dos cristãos que há no Mundo são de fora da Europa. O próximo Conclave é uma oportunidade a não desperdiçar. Num Mundo em profunda evolução, bastante diferente daquele que existia há 100 anos, no período colonial, antes de a África, a Índia e o Paquistão se terem tornado independentes, parece já não fazer muito sentido que os papas sejam apenas da Itália, da Polónia, da ou da França. Se hoje em dia nas Américas já existem muito mais cristãos do que na Europa, e se na própria África Subsariana eles já são quase tantos como na Europa, não é curial que a chefia da Igreja Católica continue a ser um feudo de europeus. Segundo destacou no seu número de Dezembro a revista Além-Mar, dos missionários combonianos, estamos perante um mapa em mudança, no qual o cristianismo se radicou nos cinco continentes e se moveu de Norte para Sul. Já não é mais uma coisa essencialmente europeia; mas sim um fenómeno que em dois terços é do resto do Mundo. Os cristãos já não chegam hoje em dia a representar sequer 33 por cento da Humanidade; e onde eles estão é sobretudo nos Estados Unidos, no Brasil, no México, na Rússia, nas Filipinas, na Nigéria, na China e na República Democrática do Congo. Não é na Alemanha, na França, no Reino Unido ou na Itália. O maior salto, nestes últimos 100 anos, foi na África a sul do Sara, que de 1,4 por cento passou para 23,6 por cento da Cristandade, fenómeno que a hierarquia da Igreja Católica de modo algum reflecte. Enquanto no Colégio dos Cardeais a maioria dos elementos não forem das Américas, da África e da Ásia, a Igreja não se poderá afirmar inteiramente ecuménica, instituição que a todos os continentes trata por igual. O peso excessivo de cardeais italianos e de outras nacionalidades europeias é um legado da História; uma sequela da ordem mundial que havia há 250 ou 300 anos; e de modo algum reflexo do que é a realidade no século XXI. Recentemente, foram promovidos a cardeais alguns prelados de fora da Europa; mas são ainda muito poucos, proporcionalmente falando. Um Sacro Colégio digno desse nome terá de ter muito mais rostos das Américas, da África e da Ásia. E até mesmos os próprios papas não poderão continuar a ser exclusivamente cidadãos nascidos em terras europeias. Agora, que o papado de Bento XVI chega ao fim, dada a idade avançada do antigo cardeal Ratzinger, é boa altura para se avivar o debate, começando a admitir que a médio prazo seja eleito para a chefia da Igreja Católica alguém da América do Norte, do Brasil, das Filipinas ou da África. A globalização, fenómeno económico e financeiro, também se deverá fazer reflectir nas grandes instituições de índole religiosa. Sob pena de as mesmas ficarem anquilosadas, presas ao Passado. Jorge Heitor

Nenhum comentário: