23.2.13
Os delírios de Teodoro Obiang
MALABO - O Estado de S.Paulo
Existem duas cidades dentro de Malabo, a capital da Guiné Equatorial. Uma vive na pobreza, com favelas, ruas estreitas e sem calçamento, esgoto a céu aberto e uma epidemia permanente de malária. Outra, têm avenidas largas e bem iluminadas, condomínios de luxo, hotéis imponentes, praias artificiais e até mesmo uma "vila presidencial", com dezenas de casas luxuosas para receber visitantes ilustres.
As duas cidades, Malabo velha e Malabo 2, convivem lado a lado, fruto da ambição e dos delírios de grandeza de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente do país há 34 anos. Desde 2004, quando o país começou a ganhar dinheiro com a exploração do petróleo, o ditador - que derrubou o próprio tio em um golpe - decidiu investir no que chama de modernização do país e na tentativa de atrair estrangeiros para a Guiné Equatorial.
O Produto Interno Bruto per capita subiu para US$ 19 mil nos últimos 10 anos, graças ao petróleo, mas metade da população ainda vive na pobreza. Para o presidente, no entanto, Malabo 2 é a mostra de que "acredita no desenvolvimento da África". Malabo velha, no entanto, ficou entregue à miséria e aos mosquitos.
Despesas. Desde que começou a construção da nova cidade já foram gastos 580 milhões em prédios e infraestrutura que deixariam envergonhadas a maior parte das cidades brasileiras. O centro de convenções, todo de vidro e metal, com paredes cobertas de granito de cima a baixo, faz vizinhança com uma vila de 50 mansões construídas para receber os presidentes da União Africana em encontros no país, mesmo a Guiné Equatorial não sendo a sede permanente da UA.
Cada casa possui seis suítes e salões de recepção. Em frente ao Centro de Convenções, uma churrascaria de propriedade da primeira-dama, Constancia Mangue, traz a cada semestre 20 brasileiros para assar e servir o rodízio de carnes saboreadas por visitantes ilustres. Malabo 2, no entanto, não é a única extravagância de Mbasogo.
Convencido de que Malabo - uma ilha que fica, na verdade, no litoral de Camarões - é muito vulnerável, o presidente decidiu construir uma nova capital, no meio da selva. Planejada por um escritório de arquitetura português, a nova capital, Djibloho, tem linhas modernas, lagos artificiais, campos de golfe e até, possivelmente, um circuito de Fórmula 1 para atrair turistas - não existe menção a casas populares. Mbasogo sonha inaugurar Djibloho em 2020.
O eterno presidente da Guiné Equatorial domina seu país com mão de ferro. Estrangeiros - especialmente jornalistas - são proibidos de tirar fotos de prédios públicos. Seu filho, Teodorin Nguema Obiang, é também vice-presidente e ministro de segurança nacional, e sua mulher, Constancia, além da churrascaria é dona de supermercados e imóveis em Malabo. Teodorin, que passou o último carnaval em Salvador, onde patrocinou o bloco afro Ilê Aiyê, é procurado pela Justiça francesa por lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos estrangeiros. / L.P.
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