31.3.15

Bissau: Está a começar uma nova era

Dezasseis anos depois da retirada dos últimos soldados senegaleses da Guiné-Bissau, aquando da guerra civil entre o Presidente João Bernardo Vieira e o brigadeiro Ansumane Mané, o Governo do país, a União Europeia e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) reuniram-se a semana passada em Bruxelas, a fim de darem mais algum alento aos guineenses. Macky Sall, Presidente do Senegal, país que na guerra civil de 1998/1999 tomou partido por "Nino" Vieira, fez questão de participar, de modo a demonstrar que nada se poderá fazer na Guiné-Bissau à revelia de Dacar. O que todos pretenderam ali dizer foi que as eleições de há um ano deverão ficar como o início de uma nova era, sem novos assassínios de altos funcionários nem grupos de militares a contestarem as autoridades civis. Os participantes na mesa redonda de Bruxelas desejam que o Presidente José Mário Vaz e o primeiro-ministro Domingos Simôes Pereira levem até ao fim os seus mandatos, sem que haja mais necessidade de recorrer a tropas estrangeiras para resolver assuntos internos; sejam essas tropas do Senegal, da República da Guiné ou de Angola. O que toda a gente sabe, porém, é que nenhuns relativos progressos alcançados em 10 meses poderão perpetuar-se se por acaso não houver reformas profundas nos sectores da segurança, da justiça, da administração pública e das finanças. Ninguém ainda conseguiu garantir que a Guiné-Bissau deixe de ser conhecida como uma terra de impunidade e de corrupção, por onde passam tráficos múltiplos, triste imagem que infelizmente ainda irá demorar mais algum tempo a desaparecer. Existe um Plano Estratégico e Operacional para o período até 2010; e só se ele for cumprido o mais escrupulosamente possível é que a Guiné-Bissau deixará de ser um Estado extremamente frágil, onde muitas vezes as pessoas nem sequer têm água corrente nem electricidade durante as 24 horas do dia. Há que diversificar a Agricultura, que aproveitar o potencial das Pescas e que explorar muito bem o subsolo, pois que existem indícios de lá haver ouro e outros recursos minerais, como a bauxite, de que há tantos anos se fala. Um desafio que os guineenses têm estado a enfrentar muito bem é o do Ébola, que tantos mortos causou na Libéria, na Serra Leoa e na República da Guiné. Mas ainda terão de se esforçar muito mais para terem bons hospitais e centros de saúde. A promessa que lhes fizeram em Bruxelas foi a de que poderão contar com mais de mil milhões de euros para concretizar os seus objectivos para os próximos cinco anos, restando agora ver se tão generosa promessa irá ser integralmente levada à prática, o que nem sempre acontece. Da parte de Portugal, a melhor oferta seria, no meu entender, um gigantesco esforço para que bem mais de metade da população da Guiné-Bissau conseguisse efectivamente expressar-se em português, lendo e escrevendo a língua que é comum a estes dois povos e, ainda, ao Brasil, a Cabo Verde, a São Tomé e Príncipe, a Angola, a Moçambique e a uma pequena parte de Timor-Leste. Enquanto, na prática, só muito menos de metade dos cidadãos guineenses for capaz de dominar o português, seu idioma oficial, não haverá verdadeira unidade nacional, nem plena integração na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mas sim uma federação de balantas, fulas, mandingas, manjacos, papéis, beafadas e outros povos. 31 de Março de 2015

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