18.3.15

Mapa cor-de-rosa: Portugal ao serviço da Alemanha

A Alemanha esteve por trás do Mapa Cor-de-Rosa Em 1873, Portugal apresentava-se em Angola e Moçambique, como chave da diplomacia alemã, de uma Alemanha potência emergente, que se unificara há pouco e que queria grandes negócios para os seus banqueiros, comerciantes e armadores. Quem assim fala da colocação do Governo português ao serviço da expensão ultramarina germânica é Álvaro Henriques do Vale, num livro agora publicado pela Chiado Editora: "Do Mapa Cor-de-Rosa à Europa do Estado Novo". D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha, o construtor do Palácio da Pena, só falava em alemão com os filhos; e a diplomacia de Berlim resolveu aproveitar o facto de a corte portuguesa de então ser dominado por um espírito e cultura alemães. O país de Bismarck queria subtrair a Península Ibérica à alçada britânica e transformá-la num mercado para os produtos alemães, bem como numa ponte para Marrocos e terras mais a sul. Guilherme II, que subiu ao poder em 1888, sonhou colocar gente sua nas Canárias, em Cabo Verde e em Fernando Pó, na actual Guiné Equatorial, de modo a contrabalançar o domínio britânico sobre os mares. "O Mapa Cor-de-Rosa é talvez o principal pormenor de toda uma política de Berlim, agendada e prevista para o século que se avizinhava", diz-nos Álvaro Henriques do Vale, formado em Ciências da Informação e da Comunicação, na Universidade Católica Portuguesa. Portugal e a Espanha foram vistos pelos homens do Kaiser e de Bismarck como pontes para a Alemanha se expandir para um sonhado Ultramar, constituindo uma alternativa ao Reino Unido. A pátria que se unificara em redor da velha Prússia queria mais, muito mais, não se conformando em ser apenas uma potência europeia; e por isso entrou em abordagens com Portugal para que este traísse o antiquíssimo tratado luso-britânico. Políticos como Vicente Barbosa du Bocage e Barros Gomes apostaram na Alemanha, colocaram-se sob a sua protecção, afastando-se da Grã-Bretanha, a mais velha aliada de Lisboa. "África era o continente à mão, virgem, cheio de matérias-primas para abastecer o Vale do Ruhr, o coração industrial da nova Prússia", continua a escrever o autor deste livro, que dia 25 de Março é apresentado na livraria Desassosego, em Lisboa, pelo Prof. Ernesto José Rodrigues e pelo escritor Fernando Dacosta. E foi nesse contexto que Barros Gomes, ministro dos Negócios Estrangeiros, apresentou ao Parlamento o plano do Mapa Cor-de-Rosa, para unir territorialmente Angola e Moçambique. Alguns governantes portugueses pensaram que os novos amigos alemães poderiam cobrir a dívida pública desta velha nação anquilosada, que outrora fora alguém, no contexto internacional. Mas enganaram-se; e surgiu o ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890, que tanto nos envergonhou. O convénio luso-alemão de 1886 foi parar ao caixote do lixo da História, mas a verdade é que Berlim teve planos para se instalar na Catembe, frente a Lourenço Marques (hoje Maputo), e na Baía dos Tigres, no sul de Angola. A Alemanha não chegou a concretizar a sua ambição de ficar com as terras entre a Baía dos Tigres e a foz do rio Cunene, mas entretanto a França conseguiu arrebatar a Portugal a zona de Casamansa, no Sul do Senegal, entre a Gâmbia e a actual Guiné-Bissau. Eram tempos em que diferentes países europeus se digladiavam para ficar com pequenos pedaços da África, como se ela não tivesse dono, não pertencesse aos africanos. É por tudo isso e por muito mais que merece a pena encetar a leitura das 511 páginas deste interessante livro sobre o período decorrido de 1871 a 1939, 68 anos de geopolítica, pela pena de um esforçado jornalista e investigador. Jorge Heitor 18 de Março de 2015

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