22.3.15

Ponte de Maputo para a Catembe

Aquando da guerra do Transval, em finais do século XIX, Portugal estava disposto a conceder facilidades à Alemanha na margem direita da Baía do Espírito Santo, na Catembe, frente a Lourenço Marques, a actual Maputo, dizendo-se que ali havia sem dúvida espaço para outro porto de grandes dimensões. Estava-se no ano de 1894 e a concessão seria entregue a um empresário de Hamburgo, o tenente Franz Ferdinand Eiffe, de origem judaica, conforme escreve Álvaro Henriques do Vale num livro agora saído em Lisboa: Do Mapa Cor-de-Rosa à Europa do Estado Novo. A Baía do Espírito Santo era considerada a saída natural do Transval, visto como uma nova América que se estava a formar na África Austral. E por isso interessava tanto ao Presidente Kruger, a Portugal, à Inglaterra e à Alemanha. O projecto da concessão da Catembe a Franz Ferdinand Eiffe, que representava o expansionismo germânico, fez com que o Governo britânico interrompesse as negociações que estavam a decorrer em Londres sobre a dívida pública portuguesa. Já em 2006 Gisela Guevara, no livro As Relações entre Portugal e a Alemanha em Torno de África, dissera que grandes bancos internacionais queriam como garantia de empréstimos a Lisboa a concessão do porto de Lourenço Marques e do caminho-de-ferro que daí saía para Pretória, desde 1892. A concessão da Catembe a Eiffe, que estava ligado à Siemens, ao Deutsche Bak e à Berliner Handelsgesellshaft, foi assinada em 1894, mas felizmente nunca ratificada, pois que se o projecto se tivesse concretizado talvez se tivesse perdido a unidade de Moçambique, tal como hoje o conhecemos, do Rovuma à Ponta de Ouro. A Alemanha e as repúblicas boers eram aliados, existindo um projecto para a instalação de emigrantes alemães no Transval, de modo a dar um empurrão à sua economia. Tal como havia planos para levar boers para os planaltos da Huíla e do Bié, em Angola. Ou seja, na década de 1890 o colonialismo português ainda estava muito pouco consolidado no Sul de Moçambique, de modo que todas as jogadas eram possíveis, fossem elas dos alemães ou do britânico Cecil Rhodes, político ambicioso que sonhava com um Governo mundial, sob a égide de Londres. Os estados do Sul de Moçambique, como Gaza e Maputo, tinham-se conseguido manter independentes até ao último quartel do século XIX, apesar de todas as ambições das chancelarias europeias. E por isso, ao fim e ao cabo, a administração colonial efectiva não foi coisa que durasse muito mais de 70 anos. Bem podiam Portugal, a Alemanha e a Inglaterra andar a digladiar-se por territórios que não eram deles, que ao fim e ao cabo os moçambicanos haveriam de se unir, para formar uma Pátria nova, a partir das múltiplas realidades do passado. Só resta agora esperar que o que foi conseguido em 1975 venha a ser consolidado ao longo do século XXI, no qual estamos agora a assistir à construção de uma ponte entre Maputo e a Catembe (foto)
. Jorge Heitor

Nenhum comentário: