São terríveis os riscos que o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, presidente do PAIGC, assume no seu regresso a Bissau, após um mês e meio de ausência no exterior, a ver se a situação acalmava, depois dos acontecimentos de 1 de Abril, que comprometeram o normal funcionamento das instituições.
Digo que são muitos os riscos porque Cadogo Júnior tem contra si os chefes efectivos das Forças Armadas, o Partido da Renovação Social, de Kumba Ialá, e até mesmo franjas do seu próprio partido.
Carlos Gomes é um político extremamente fragilizado desde que o general António Indjai o prendeu durante algumas horas e o ameaçou de morte, perante a complacência do almirante Bubo Na Tchuto, que acabara de sair do seu refúgio nas instalações das Nações Unidas.
Os países africanos não são conhecidos por uma fácil coabitação entre os presidentes e os primeiros-ministros; e é isto o que está a acontecer na Guiné-Bissau. Só à superfície é que o Presidente Malam Bacai Sanhá se dá bem com Carlos Gomes Júnior, enquanto por trás dá a entender que ele poderá ser muito bem um dos responsáveis pela morte, o ano passado, do general Tagme Na Waie e do Presidente Nino Vieira.
A intervenção militar de 1 de Abril foi feita contra o Primeiro-Ministro e contra o seu aliado o contra-almirante Zamora Induta, que desde então se encontra detido no quartel de Mansoa, às mãos de oficiais que se encontram há décadas nas fileiras e que não têm vontade nenhuma de se retirar.
Indjai e Na Tchuto são hoje em dia o poder de facto na República da Guiné-Bissau, com a anuência tácita do Chefe de Estado e em cordenação com o PRS, perante a passividade do Procurador-Geral, Amine Saad, num país onde justiça tem sido desde há muito uma palavra vã.
Os acontecimentos dos últimos dois meses e meio mais não fizeram do que relegar o país onde nasceu Amílcar Cabral para um degrau ainda mais baixo na escala do desenvolvimento humano. Um fosso de onde só muito dificilmente conseguirá sair.
Comentário feito Por Jorge Heitor na Voz da América em 14 de Junho de 2010
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