16.7.13

Mandela: 95 anos de uma vida exemplar

Nelson Rolihlahla Mandela faz na quinta-feira 95 anos e o mundo está com ele, porque ele é o que de melhor há no mundo, mesmo quando está doente e há longas semanas se teme que a sua vida esteja a chegar ao fim. Mandela é o mais importante líder moral da Humanidade desde Mahatma Gandhi, que por acaso também se encontra associado à África do Sul. São dois marcos enormes deste último século. Como Presidente do Congresso Nacional Africano (ANC) e líder espiritual do movimento de combate ao apartheid Mandela contribuiu em grande escala para que a África do Sul passasse a ser governada por elementos da sua maioria negra, que antes dele viviam ostracizados, relegados para segundo plano dentro da própria Pátria. Em todo o Mundo, Madiba é referenciado como uma força extraordinária na luta pelos direitos humanos e pela igualdade racial; mas também como aquele que soube perdoar, não guardando qualquer rancor aos que o tinham perseguido e enviado longos anos para a cadeia. Foi um "Longo Caminho para a Liberdade", como muito apropriadamente se chama a sua autobiografia, e coroou-o com o desapego que demonstrou pelo poder, limitando-se a um simples mandato de cinco anos, ao contrário do que fazem outros, que às vezes já com bem mais de 80 anos ainda continuam a insistir que querem ser reeleitos e permanecer nos seus cargos. Rolihlahla, "o que arranca o ramo de uma árvore", mas também "o que agita as águas", "o perturbador", nasceu no dia 18 de Julho de 1918 em Mvezo, pequena aldeia nas margens do rio Mbashe, no distrito de Umtata, no Transkei; ou seja hoje em dia no Cabo Oriental. No ano em que nasceu terminou a II Guerra Mundial; e uma delegação do ANC foi à Conferência de Paz de Versalhes, na França, apresentar as reivindicações dos negros sul-africanos. O filho do chefe Gadla Henry Mphakanyiswa teve uma infância moldada pela tradição, pelos rituais e os tabus, num ambiente em que os pequenos negros viam os brancos quase como deuses, aqueles que decidiam do destino de toda a gente. Mas mais tarde foi-se consciencializando de que nenhum homem deveria ser Deus, fosse ele branco, negro ou amarelo. Os homens eram todos iguais e deveriam ter as mesmas oportunidades. Um curso de Direito Muito apropriadamente, Mandela tirou um curso de Direito, pois desde a adolescência o que ele queria era um mundo mais justo. E em 1952 abriu um escritório de advocacia com Oliver Tambo, o primeiro escritório de advogados negros na cidade de Joanesburgo. James Moroka, Yusuf Dado, Patrick Moloa e Robert Resha foram alguns dos seus companheiros nos primeiros anos em que sofreu as perseguições do regime do apartheid, nomeadamente quando em 1956 era conduzido de Joanesburgo para Pretória a fim de ser julgado. Mas também havia brancos que se davam com ele, como Ruth First, que em Maputo viria a ser muitos anos mais tarde directora adjunta do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, até ser vítima de uma carta armadilhada enviada pela polícia sul-africana. Depois, com o andar dos anos, o próprio Presidente Frederik de Klerk compreendeu que não era possível mantê-lo na cadeia por mais tempo, uma vez que ele era o símbolo de toda uma Nação; era a pedra essencial para a Verdade e a Reconciliação. Madiba foi isso mesmo. Foi a Voz, a Verdade e a Reconciliação do povo sul-africano, que graças a ele conseguiu aguentar os primeiros 19 anos de convivência racial e igualdade de direitos muito melhor do que muita gente imaginava. Estes 19 anos decorridos desde que Nelson Mandela foi eleito Presidente da África do Sul dificilmente teriam podido decorrer de uma forma tão pacífica sem o bom senso de Madiba, que sempre soube evitar os exageros e perceber que não era apenas em duas décadas que se iria virar tudo do avesso e construir um país totalmente diferente do que ele era ainda aqui há 30 ou 40 anos. Claro que ainda há muita injustiça, muita desigualdade social, muita coisa por corrigir. Mas esse é o trabalho para as próximas gerações; para os sucessores de Thabo Mbeki e de Jacob Zuma; para os homens e mulheres que vierem a dirigir a nação do arco-íris daqui a seis, 12, 20 anos. Madiba fez o dele; e de forma exemplar. Oxalá nunca surja ninguém que se precipite e destrua o seu legado. Jorge Heitor (escrito a pedido do Correio da Manhã, de Maputo

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