5.2.15
Timor-Leste: Quem tem medo de eleições?
António Veríssimo, Lisboa
Quem tem medo das eleições antecipadas?
A novela da demissão de Xanana Gusmão, PM timorense, manteve-se no “ar” durante todo o ano de 2014. Tudo indica que finalmente hoje encontrou o seu epílogo consubstanciado em carta de demissão entregue na Presidência da República de Timor-Leste. Finalmente Taur Matan Ruak, o PR, está de posse de documento oficial da demissão apresentada pelo primeiro-ministro, dependendo dele garantir a defesa da democracia e da interpretação correta da Constituição, ou conduzir Timor-Leste para uma ditadura das oligarquias que com toda a promiscuidade se nomeiam para garantirem o monopólio do poder governativo e demais poderes que lhes convier apoderarem-se, fazendo-os reféns de políticas dúbias e opacas.
Foi caso de apontamento aqui no Página Global que o PR Taur demonstrou preferência por realizar eleições antecipadas se o PM Xanana apresentasse a sua demissão e consequente queda do governo que chefiava. Essa foi a informação que obtivemos de fonte geralmente bem informada e de análises políticas que têm correspondido à realidade. Contudo, neste processo de demissão do PM timorense e governo, as pressões a que Taur Matan Ruak tem estado sujeito permitem perceber que as regras democráticas podem vir a não ser respeitadas. A própria oposição timorense, a Fretilin, está do lado do querer de Xanana Gusmão e já anunciou que vai aceitar a escolha de Xanana para que Rui Araújo, da Fretilin, seja o PM substituto. Assim, sem eleições e por escolha de um PM demissionário que ainda há poucas semanas reconheceu as suas limitações e incompetências como primeiro-ministro. Limitações que se alargam às suas tendências antidemocráticas, até ditatoriais, conforme tem demonstrado – opinião de muitos analistas.
E é este homem, Xanana Gusmão, acusado de corrupção, praticante comprovado de nepotismo em alta escala. Absolutamente descredibilizado interna e externamente. E é este homem, que nomeia o seu sucessor? E a oposição aceita e congratula-se? E o presidente da República corrobora esta pretensão antidemocrática?
Não está em causa a credibilidade do nomeado substituto de Xanana, Rui Araújo. Está em causa a Fretilin regozijar-se por mais esta ação antidemocrática e pusilânime de Xanana Gusmão e de todos aqueles que com ele têm ferido a democracia timorense. Mais ainda quando a Fretilin considera por bem que Xanana se mantenha no governo sob o primado de Rui Araújo, como declarou Mari Alkatiri. É de pasmar esta posição se a Fretilin a aprovar. A desilusão causada por Mari Alkatiri ao promover esta operação antidemocrática é inclassificável. Pelo menos para quem ainda quer acreditar na possibilidade de Timor-Leste ser diferente de muitos países do mundo e reger-se sob uma verdadeira democracia, onde as carências das populações sejam atendidas, assim como termine a corrupção e as negociatas de muitos das elites. É suposto que a Fretlin pugne pela democracia na total acessão da palavra e não numa democracia que não o seja por faltar justiça, habitação, saúde, alimentação, emprego, educação, etc., para todos. Uma democracia de facto e não uma mascarada que permite às elites roubarem aquilo que pertence a todos os timorenses e é distribuído só por alguns.
As dúvidas são imensas. E os temores também. Aguarda-se que pelo resto desta semana tudo seja clarificado. Está nas mãos de Taur Matan Ruak ser de facto o presidente da República Democrática de Timor-Leste ou, no pior das suas decisões, ser presidente de um Timor-Leste na posse de uma oligarquia que fere os princípios da democracia. Digam aquilo que disserem, PR e os partidos políticos, vão agora mostrar ao mundo e aos timorenses por que regime optam: a democracia de facto ou uma mascarada que tem vitimado o povo timorense e a que importa dizer basta e agir para que baste. Quem tem medo das eleições antecipadas? PÁGINA GLOBAL 5 de Fevereiro de 2015
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