10.8.15

Bissau: A fragilidade do Estado

Uma série de crises que se arrastam desde há décadas transformaram a Guiné-Bissau num dos estados mais frágeis da África. Um centro de estudos norte-americano dedicou-lhe agora um trabalho de 50 páginas, para se evitar que continuem a surgir narco-estados. Jorge Heitor Um terrível ciclo de violência política, instabilidade e má governação rasgou por completo o legado de Amílcar Cabral, no que à Guiné-Bissau diz respeito, pois que em Cabo Verde ele tem estado a ser seguido e a dar origem a um dos mais decentes países africanos. Redes de tráfico têm cooptado dirigentes políticos e militares guineenses e transformado o país de Luís Cabral e de Nino Vieira num paraíso para o comércio ilícito, particularmente o tráfico internacional de cocaína, conforme já há três anos foi demonstrado pelo britânico Frederick Forsyth no seu romance "The Cobra". Os acontecimentos verificados durante as presidências de Nino e dos seus sucessores contribuíram para a instabilidade no Senegal, na República da Guiné (Conacri), na Libéria, no Mali, na Mauritânia, na Nigéria e noutros territórios africanos, segundo escrevem Davin O'Regan e Peter Thompson num relatório do Africa Center for Strategic Studies. Grupos de criminosos da Europa, da África e da América Latina estabeleceram laços com as actividades mais ilícitas que se têm verificado na Guiné-Bissau, primeira das antigas colónias portuguesas na África a proclamar (unilateralmente) a sua independência, logo em 24 de Setembro de 1973. A própria Al Qaeda no Maghreb Islâmico (AQMI) e outros grupos existentes na África Ocidental se associaram aos tráficos feitos em território guineense, que se transformou numa autêntica plataforma de instabilidade. Para o que contribuiu, nomeadamente, a existência das dezenas de ilhas do arquipélago das Bijagós. Tanto a União Europeia como a CPLP tentaram, sem êxito, enfrentar a profunda fraqueza institucional e as vulnerabilidades da Guiné-Bissau, onde de 1998 para 1999 se tratou uma guerra civil, entre uma Junta Militart liderada pelo brigadeiro Ansumane Mané e o Presidente João Bernardo "Nino" Vieira. Ajustes de contas nas fileiras militares, golpes de estado e assassínios políticos têm-se sucedido nos últimos 33 anos (desde o derrube do primeiro Presidente, Luís Cabral), sem ninguém ser capaz de promover uma eficaz reforma das mentalidades e do funcionamento dos sectores da Defesa, da Segurança e da Justiça. Centenas de milhares de pessoas passam fome, enquanto alguns militares e políticos enriquecem e o país estagna, continuando entre os menos desenvolvidos de todos. Vai-se tornando, até, o rastilho que poderá alastrar ao Mali, à Gâmbia, ao Gana e a uma série de outros pedaços da África. Na Guiné-Bissau, ainda nunca nenhum Presidente eleito conseguiu completar o seu mandato. Quase todos eles foram depostos pelos militares, que o ano passado deram um golpe em Abril, entre a primeira e a segunda volta das eleições presidenciais. Nino foi assassinado em 2009, três chefes do Estado-Maior-General foram assassinados; e o mesmo aconteceu com uma série de outras figuras, enquanto um almirante, José Américo Bubo Na Tchuto, já foi interceptado em águas internacionais e levado para os Estados Unidos, a fim de ser julgado, pelo tráfico de droga. Jorge Heitor Julho de 2013

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