"Em geral, este pobre povo do Egipto é demasiado desprezado pelos europeus", escreveu Gérard de Nerval no primeiro volume da sua Voyage en Orient. E ainda há um mês muitos europeus pensariam que os egípcios eram pobres, ignorantes e conformados.
No entanto, as últimas semanas teriam alterado a nossa percepção desses 1 002 000 quilómetros quadrados de terra que se alargam do Sudão ao Mediterrâneo e da Líbia ao Mar Vermelho. Um quadrilátero quase perfeito, compreendido entre dois desertos e bordejado por dois mares.
A parte setentrional do Vale do Nilo, compreendida entre o Cairo, Alexandria, Damieta, Ismaília e Suez, está desde há um mês com lugar cativo nas nossas salas, presente nas nossas refeições.
O mundo julga hoje perceber o que é que está a acontecer entre o deserto líbio e o deserto arábico, entre o grande mar de areia e a bíblica península do Sinai.
Numa altura em que o Sudão se prepara para perder a sua parte meridional, que tenta atingir a maioridade, o Alto e o Baixo Egipto rumam ao desconhecido, que esperam seja melhor do que o passado recente.
De Assuão ao Delta, o Nilo leva as mágoas e expectativas de um povo que quer pão, trabalho e mais justiça do que aquela que normalmente tem conhecido ao longo dos séculos, muitos séculos.
Com dois braços abertos aos povos do Mar Mediterrâneo, os de Roseta e de Damieta, o Nilo é hoje em dia como um cravo em flor, trazendo em si os anseios de todos os povos do Médio Oriente, entre os quais os da Palestina, da Jordânia e da Arábia Saudita.
De El Alamein a Port Said e El Arish, a costa egípcia vira-se para Chipre e Creta, num aceno a terras mais ao norte, as terras de uma civilização helenística que todos prezamos tanto.
"Nem mestres nem escravos; mas sim todos iguais", assim proclamou Gamal Abdel Nasser em 9 de Janeiro de 1963; e assim sonharão todos aqueles que neste último mês têm andado pelas ruas do Cairo, Alexandria e Suez.
Que via egípcia para o socialismo e a democracia? Que paz, que pão e que poema?
O Egipto de Mohammed Ali Pacha e de Gamal Abdel Nasser é ainda um longo país a haver, uma enorme promessa, devidamente acompanhada no Iémen, no Qatar e no Bahrein.
O Egipto e a Palestina, ali tão perto, são dois países árabes cujo futuro preocupa todos os países árabes e nos deve preocupar e interessar a todos. Jorge Heitor
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