13.2.11

O Islão do nosso desconhecimento

O Islão, religião monoteísta de que tanto se fala e de que tão pouco se conhece na Europa, fora dos círculos académicos, ocupa uma área geopolítica que vai de Marrocos à Indonésia e engloba uma comunidade de bem mais de mil milhões de seres humanos.
A religião é monoteísta, mas a realidade sóciocultural não é monolítica. Tal como aliás o mundo cristão engloba as mais distintas vertentes, desde a católica à luterana e à ortodoxa. E quase outro tanto se poderá dizer do judaísmo.
A Umma islâmica, a constelação dos que a Deus chamam Allah, é extremamente pluralista, sendo muito difícil comparar o clima predominante em Casablanca com o de Cartum, de Peshawar ou de Kuala Lumpur; de onde o risco de generalizar quando se fala dos "muçulmanos". Tal como um cristão da diocese de Leiria também terá muito pouco a ver com um da Finlândia ou do Kentucky.
Córdova, Bagdad e os sultanatos da Insulíndia são apenas algumas das múltiplas referências que poderemos encontrar desde o século VIII até aos nossos dias, quando desejamos falar dos que grosso modo procuraram seguir ao longo dos tempos os ensinamentos do profeta Maomé, propagados a partir de território árabe.
Só quem estiver suficientemente habilitado para ler os jornais do Cairo, de Istambul, de Argel, de Teerão, de Beirute e de Sana é que poderá talvez falar com um pouco mais de propriedade da forma como a realidade islâmica tem vindo a evoluir do século XIX até ao derrube de Hosni Mubarak.
No entanto, com um pouco de esforço, qualquer um de nós poderá tentar entrar nos meandros do que se tem feito, nos últimos 130 anos, para reformular a realidade sócio-cultural das sociedades islâmicas, com vista tanto ao progresso como à renovação moral dos povos deixados à margem quando, por volta de 1880/1890, o Reino Unido, a França e a Alemanha se impunham de Tânger a Zanzibar.
Os jovens turcos de antanho e os jovens egípcios de hoje são algumas das tendências de reformulação de sociedades islâmicas existentes desde o dealbar do século XX até à segunda década do século XXI.
O mundo muçulmano não está impune aos impulsos de busca de algo de novo e de melhor. Também ele "pula e avança", para recorrer às palavras de Gedeão. Também ele tem os que querem combinar o progresso material e o moral da espécie humana; de modo a que o quotidiano se torne mais suportável.
Em Fez, Argel, Tunes, Alexandria e Teerão existem decerto agentes de modernismo, que defendem as liberdades individuais, incluindo a de consciência. Existem multidões de jovens a reivindicar justiça social e o triunfo da Razão.
O Islão que ao longo do nosso século se irá desenvolver será decerto muito diferente daquele que caracterizou os últimos tempos do Império Otomano. Se "Roma e Pavia não se fizeram num dia", a nova Umma dos seguidores de Maomé também não se fará apenas numa ou duas décadas. Mas ela está decerto em gestação. Inch'Allah! Jorge Heitor

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