24.2.14
Guiné Equatorial: A vergonha da CPLP
O especialista em assuntos africanos Gerhard Seibert alertou hoje para o risco de a CPLP perder prestígio a nível internacional com a adesão da Guiné Equatorial, recomendada na quinta-feira pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da organização.
"A organização corre esse risco, mas os responsáveis, incluindo os responsáveis portugueses, sempre souberam isso e tomaram uma decisão neste sentido. Eles são responsáveis perante este risco", disse Gerhard Seibert, do Centro de Estudos Africanos (CEA) do ISCTE.
Em declarações à Lusa sobre a decisão dos chefes da diplomacia dos oito Estados-membros da CPLP, anunciada na quinta-feira, de recomendar a adesão da Guiné Equatorial à comunidade Lusófona, o especialista disse tratar-se de "uma decisão polémica, contestável, mas por outro lado esperada".
Pessoalmente, afirmou considerá-la "uma má decisão" que, embora a curto prazo possa satisfazer "fortes interesses económicos e políticos, a longo prazo pode trazer prejuízos à organização".
"A longo prazo não pode aumentar o prestígio de uma pequena organização como a CPLP a nível internacional", reiterou.
Argumentou que já a adesão da Guiné Equatorial como membro observador, em 2006, violara os estatutos da CPLP, pelo que uma adesão como membro de pleno direito também viola as regras da própria organização, tanto do ponto de vista dos direitos humanos como em termos da língua portuguesa, "que é um princípio grande" da comunidade.
"É um absurdo, é ridículo tornar um país de língua espanhola e de língua oficial francesa num país de língua oficial portuguesa", afirmou, sublinhando que não é por um "regime despótico" introduzir a língua portuguesa no ensino secundário ou um programa de rádio em português que um país se torna de língua portuguesa.
Sobre a intenção da Guiné Equatorial ao aderir à CPLP, Seibert disse tratar-se de uma questão de reconhecimento internacional.
"Já tinha havido a tentativa anterior de tornar-se membro da francofonia, que possivelmente não deu os resultados esperados pelo país, e agora há uma tentativa de ganhar algum prestígio e reconhecimento através da adesão como Estado de pleno direito", afirmou.
A Guiné Equatorial é um dos 77 Estados-membros da Organização Internacional da Francofonia desde 1989.
"Fez essa tentativa para sair do isolamento político, mas nesse caso possivelmente os resultados para o regime não foram satisfatórios", pelo que a partir de 2004 iniciou a aproximação à CPLP, argumentou.
O país liderado por Teodoro Obiang é observador da CPLP desde 2006, mas a adesão como membro pleno foi condicionada nas cimeiras de Luanda e de Maputo por se considerar que o país não cumpria os requisitos necessários.
A reunião extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) recomendou na quinta-feira em Maputo a adesão da Guiné Equatorial à organização.
A adesão, como membro de pleno direito, foi aprovada como uma recomendação para a cimeira de chefes de Estado da organização que se realiza em Díli este ano, disse à Lusa o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
Lusa/SOL
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