14.5.10

Contra-almirante Bubo Na Tchuto está em foco

Um dos cabecilhas do levantamento de Abril na Guiné-Bissau, o contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto, está desde ontem a ser ouvido no Tribunal Militar daquele país, por alegado envolvimento numa conjura anterior, em Agosto de 2008.



Antigo Chefe do Estado-Maior da Armada, já o mês passado indiciado pelo departamento norte-americano do Tesouro como um dos narcotraficantes da África Ocidental, Bubo Na Tchuto fugiu para a Gâmbia depois das acusações contra ele formuladas em 2008, voltou de lá clandestinamente no fim de 2009 e refugiou-se na representação das Nações Unidas em Bissau, de onde o vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general António Indjai, o retirou no dia 1 de Abril, para juntos deterem o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e outras personalidades.

O primeiro-ministro acabou por ser libertado horas depois, por pressão do Presidente Malam Bacai Sanhá, mas presos continuam o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, almirante Zamora Induta, e o chefe da informação e segurança militar, coronel Samba Djaló.

Bubo Na Tchuto e António Indjai são hoje em dia considerados dois dos mais poderosos elementos de uma classe militar responsável por muita da agitação que a Guiné-Bissau sempre tem vivido, ao longo dos seus 36 anos de vida como país independente, circulando livremente pela capital e dando entrevistas, apesar de no dia 1 de Abril terem chegado a ameaçar de morte o primeiro-ministro, que só muito a custo se mantém em funções, uma vez que contra ele se movimentam tanto uma série de políticos como de oficiais das Forças Armadas.

“Foi a conselho do seu amigo o Presidente Malam Bacá Sanha que Bubo Na Tchuto se apresentou ao Tribunal Militar de Bissau, para se explicar quanto às acusações de que em 2008 teria preparado um golpe de estado”, escreve hoje a revista francesa “Jeune Afrique”, que fala de um autêntico “show” dado pelo contra-almirante à saída da audiência, “com o aparato próprio de um produtor de Hollywood, ao qual só faltava o charuto”.

Um dos juízes do Tribunal Militar, coronel Arsénio Balde, explicou ter-se tratado de “uma audiência preliminar” e não se saber se o caso irá por diante; aliás de acordo com o impasse em que têm mergulhado todas as investigações a uma série de incidentes verificadas no país ao longo dos anos, como os assassínios, em Março de 2009, do então Chefe do Estado-Maior, general Tagme Na Waie, e do próprio Presidente João Bernardo “Nino” Vieira.

“O tribunal reconheceu os seus erros, a partir das declarações do meu cliente, que está inocente”, disse Joãozinho Vieira, um dos advogados do contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto, de há muito suspeito de ser um dos elos do narcotráfico que passa pela Guiné-Bissau, em trânsito da América Latina para a Europa.

O contra-almirante Bubo Na Tchuto e o general Indjai são actualmente os dois principais militares da etnia balanta, preponderante nas fileiras militares e que inclusive já teve um Presidente da República, Kumba Ialá, que tomou posse em Fevereiro de 2000 e acabou por ser derrubado em Setembro de 2003, devido à forma desastrosa como estava a desempenhar o seu mandato; e que levara inclusive o Banco Mundial e o Fundo Monetário internacional a suspenderem toda a ajuda económica à Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo.

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