A região líbia da Cirenaica, com capital em Benghazi, declarou a sua independência administrativa em relação ao resto da Líbia, decisão contestada e considerada inaceitável pelo Conselho Nacional de Transição (CNT), originário igualmente de Benghazi mas instalado em Tripoli como governo central desde o assassínio de Khaddafi.
O CNT diz que se trata de "um princípio de conspiração" encorajado por "algumas nações árabes". A Cirenaica integra as mais ricas regiões petrolíferas da Líbia.
O anúncio da criação de um Estado semiautónomo foi feito terça-feira numa assembleia de chefes tribais, comandantes das milícias e políticos realizada em Benghazi. Designado Barqa em árabe, o Estado terá a sua capital, parlamento, corpo de polícia e tribunais próprios. Os seus porta-vozes afirmam que a nova entidade continuará a fazer parte da Líbia, não mudará de bandeira e hino, mas pretende pôr fim aos tempos em que, segundo eles, o Leste do país "foi discriminado". Trata-se "de uma independência administrativa, não de uma separação", disse Fadl-Allah Haroun, apresentado pela Associated Press como "uma destacada figura tribal e comandante de milícia".
Desde o derrube do regime de Khaddafi e com o fim da ação militar estrangeira no país a Líbia tem vivido politicamente à deriva, com um governo formal em Tripoli formado pelo Conselho Nacional de Transição criado pelos países da NATO, órgão cada vez mais dividido e com menos poder, sendo este exercido arbitrariamente por centenas de milícias que criaram os próprios feudos e se recusam a entregar as armas. Crê-se que existam 120 mil milicianos armados na Líbia dependendo dos seus próprios chefes, com instalações próprias, prisões privadas e domínio sobre áreas territoriais por vezes delimitadas por chek-points assegurados pelas milícias.
Mustafa Abdul Jalil, o chefe do CNT e que foi considerado o homem forte apoiado pelos Estados Unidos, França e Reino Unido, afirmou face à declaração de independência que se trata de uma "perigosa conspiração infelizmente encorajada e apoiada por vários países árabes", de que não citou os nomes mas crê-se serem ditaduras sunitas fundamentalistas da Península Arábica como o Qatar e a Arábia Saudita. Estes países estiveram diretamente envolvidos no início da revolta armada líbia e são igualmente os fornecedores de armas ao Exército Sírio da Liberdade, criado na Turquia e presentemente em fuga de Homs para o Líbano. Qatar e Arábia Saudita têm sido, através do Conselho de Cooperação do Golfo, os intérpretes no terreno dos interesses norte-americanos e de países europeus que se envolveram no derrube de Khaddafi, comandaram a repressão no Bahrein e dirigem a intervenção externa na Síria.
Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no parlamento europeu
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