26.3.12

Uma opinião sobre o Mali

Raúl M. Braga Pires, em Rabat (www.expresso.pt)





4:38 Segunda feira, 26 de março de 2012






A "Tuaregolândia"

Google Imagens

O Golpe de Estado em curso no Mali está intimamente ligado ao fim do regime de Muammar Kadhafi e ao regresso dos mercenários tuaregues às suas terras de origem, fortemente armados, com uma experiência de combate de 20/30 anos e com ambições separatistas para a região de Azawagh, a Tuaregolândia, a qual inclui parte do norte do Mali, do norte do Niger e do sul da Argélia.

Desde Janeiro que são registados confrontos na região de Tombuctu, entre estes ex-mercenários e o exército maliano, pelo que este Golpe de Estado para além de ser uma espécie de atestado de incompetência passado aos políticos locais perante a emergência dos eventos a norte, tem que ser ainda entendido sob duas outras perspectivas.

A primeira é a de que a região do Sahel está a ser patrulhada pela Força de Contraterrorismo do Sahel, a qual agrupa tropas dos exércitos do Mali, Argélia, Niger e Mauritânia, tendo como missão principal a caça ao AQMI, a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. O Marrocos, também foi naturalmente convidado a participar, mas decidiu não o fazer por não querer misturar as suas fardas com as dos argelinos, os quais lideram as operações no terreno a partir da Comissão Militar Conjunta da Região do Sahel (CEMOC), com sede em Argel. O patrulhamento efectuado por esta força conjunta tem empurrado cada vez mais os jihadistas para o sul/centro d'África, pelo que certamente elementos do AQMI se envolveram nos confrontos lado-a-lado com a causa tuaregue, bem como militares d'outras nacionalidades (além do Mali) terão combatido estes últimos em território maliano.

A segunda, é que a montante do CEMOC está o AFRICOM, o Comando Militar Americano para África, o qual existe, mas que ainda não encontrou um território consensual para se instalar neste continente.

Numa primeira análise, pode considerar-se que o móbil que levou estes jovens oficiais (sobretudo capitães) a sublevarem-se no Mali é benévola, tentando manter a integridade territorial do seu país, bem como combater o terrorismo jihadista dos radicais islâmicos.

Numa segunda análise pode sempre adicionar-se o duplo interesse dos americanos, no combate ao AQMI e na promoção de uma mudança geracional nas fileiras militares malianas, que lhes possa eventualmente proporcionar a criação de um ambiente confortavel e consensual para a instalação de uma base militar de alcance continental.
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