3.5.11

África, a Gata Borralheira deste planeta

A História dirá um dia por que é que a África chegou a 2011 com dezenas de países entre a meia centena dos menos desenvolvidos do mundo, num nível só comparável ao Afeganistão, ao Bangladesh e ao Butão.
A África, plena de recursos, cobiçada por norte-americanos, europeus e chineses, tem ainda países tão pobres como o Burkina Faso, o Burundi, a República Democrática do Congo (RDC), a Eritreia, a Etiópia, a Guiné-Bissau e a Libéria.
A cobiça internacional pelas suas riquezas e a colonização que se verificou sobretudo nos últimos 15 anos do século XIX e nas primeiras seis décadas do século XX contribuíram em muito para que a África tivesse chegado a 2011 no triste estado em que se encontra, com conflitos como o da Líbia e necessidade urgente de fronteiras a redesenhar, como vai agora acontecer no Sudão, que se divide em dois.
Fala-se por vezes de uma África como nova fronteira do desenvolvimento, designadamente nos casos de Angola e da Guiné Equatorial; mas esse pretenso desenvolvimento não está a passar por formas equitativas de boa governação, sendo enorme o fosso entre uma minoria de ricos e uma imensa maioria a viver abaixo do limiar da pobreza.
Depois de cinco décadas de conflito, de morte e de tragédia, desde que muitos dos seus territórios se tornaram formalmente independentes, a cobertura regular dos problemas africanos é normalmente remetida para segundo plano, em detrimento dos programas nucleares do Irão e da Coreia do Norte, do conflito israelo-árabe ou das crises financeiras europeias.
Uma análise mais profunda de questões como as do Sara Ocidental, do Delta do Níger e de Cabinda é essencial, para que não nos limitemos a algumas imagens fugazes de pessoas a viver acampadas no deserto, de guerrilheiros a atacar oleodutos ou de crianças a morrer à fome na região dos Grandes Lagos.
A África continua a ocupar uma parte muito pequena das nossas televisões e jornais; a não ser quando se tenta derrubar o coronel Muammar Kadhafi ou se pretende colocar um novo Presidente à frente da Costa do Marfim, mais ao gosto do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Fala-se ocasionalmente de um genocídio no Ruanda ou de uns diamantes de sangue na Serra Leoa; mas não se dá uma explicação cabal dos problemas causados pelas fronteiras artificiais que os europeus implementaram há 125 anos no continente africano.

As reivindicações de Cabinda

O nascimento de um Estado tendencialmente cristão no Sul do Sudão vai ser um dos passos a dar para uma África mais justa, mais de acordo com as realidades destas últimas décadas. Mas depois disso vai ser necessário que a chamada comunidade internacional preste mais atenção às reivindicações autonomistas do povo cristão de Cabinda, dos desgraçados sarauís que há 35 anos vivem em tendas e de tanta desgraça que vai pela República Centro-Africana, pelo Chade, pela RDC e pela Guiné-Bissau.
Os sistemas de saúde de alguns países africanos têm vindo a degradar-se devido a conflitos como os da Costa do Marfim, da Somália e do Uganda, sendo os civis quem mais sofre devido aos confrontos entre diferentes forças políticas, clãs ou grupos étnicos.
O Brasil, a Rússia, a Índia e a China aumentam de importância no concerto das nações, desenvolvem as suas economias; mas a África, na sua generalidade, se excluírmos seis ou sete casos, continua a ser a Gata Borralheira da Humanidade, à espera de políticos melhores e de uma divisão muito mais equitativa do bolo.
Maurícias, Cabo Verde, Botswana, Gana, Namíbia, África do Sul e Seychelles são casos de excepção, num continente onde o Benim, a Gâmbia, a Mauritânia e o Níger, entre uma série de outros estados, continuam na cauda do desenvolvimento humano, existindo ainda autocratas como o zimbabweano Robert Gabriel Mugabe, há 31 anos no poder.
Quem for crente, deverá orar por um nascimento feliz do Sudão do Sul, por uma solução para o caos que há 20 anos é a Somália, pelo fim das atrocidades dos ugandeses do Exército de Libertação do Senhor (LRA), pelo pluralismo em Angola e nos Camarões e pelo fim da cultura de impunidade na Guiné-Bissau, onde antigos combatentes assassinam ou mandam matar os seus adversários políticos, sem que ninguém se atreva a julgá-los e a condená-los.
É este o panorama de uma África onde a simples queda dos presidentes Ben Ali e Hosni Mubarak, nos últimos quatro meses, respectivamente na Tunísia e no Egipto, não foi de forma alguma suficiente para nos fazer esquecer o tanto que ainda há a fazer desde o Sara Ocidental ao reino da Suazilândia, terra de uma escandalosa poligamia, onde Sua Majestade Mswati III continua a promover anualmente concentrações de milhares de virgens, para de entre elas escolher uma nova esposa, num espectáculo verdadeiramente degradante.

Jorge Heitor, na revista Fátima Missionária

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