2.5.11

A forte presença angolana na Guiné-Bissau

A empresa estatal angolana do ramo
dos petróleos, a Sonangol, injectou
cerca de 300 milhões de dólares
norte-americanos na Bauxite Angola,
a empresa de capitais guineenses e
angolanos que vai explorar bauxite na
histórica região de Boé, onde em 24 de
Setembro de 1973 foi unilateralmente
proclamada a independência da Guiné-
Bissau.
Angola tem assim a maioria dos 500
milhões de dólares necessários para
extrair anualmente três milhões de toneladas
de bauxite, no maior investimento
até hoje feito no país de Amílcar e de
Luís Cabral.
Os depósitos das colinas de Boé, a
240 quilómetros da capital, são uma continuação
das grandes reservas de bauxite
existentes na vizinha República da Guiné,
o maior exportador mundial desse minério,
a partir do qual se faz o alumínio.
Calcula-se que a Guiné-Bissau tenha
110 milhões de toneladas de bauxite,
pelo que a exploração está assegurada
para os próximos 35 anos.
Os planos existentes a este respeito
passam por um porto de águas profundas
na localidade de Buba e um caminho-de-ferro
e estrada daí até ao Boé; bem como uma
central hidroeléctrica no Saltinho, em pleno
rio Corubal. Há mais de 28 anos que
os guineenses sonham com o projecto do
Saltinho, só que não tinham meios para o
concretizar.
A apresentação do estudo de viabilidade
técnica e económica do Projecto
de Desenvolvimento do Complexo de
Mineração e Industrialização de Bauxite
na Guiné-Bissau foi feita ainda durante
a presidência de João Bernardo “Nino”
Vieira, assassinado há dois anos, num
dos episódios de violência em que o país
é, infelizmente, fértil.
Os 103 quilómetros entre Buba e Madina
do Boé deverão constituir a espinha
dorsal do desenvolvimento de um dos
territórios que é ainda hoje um dos mais
pobres e turbulentos do mundo, ainda
pouco tendo conseguido efectuar do
muito que ambicionava quando se tornou
independente. Mas já diziam os antigos
europeus que “Roma e Pavia não se
fizeram num dia”; há que dar tempo ao
tempo. Quando os comboios por ali circularem,
a Guiné-Bissau poderá muito bem
vir a ser bem diferente, e melhor, do que
o é actualmente. Tenhamos esperança.
Peritos holandeses e soviéticos estudaram
no passado todo o potencial da
região de Boé, mas só agora o interesse
de Angola veio a permitir concretizar
coisas de que há muito se falava. E Luanda
marca assim pontos no seu desejo
de ser reconhecida internacionalmente,
muito em especial nas terras da África
Ocidental.
Os angolanos procuram reinventar-se
e dar cartas em vários domínios, desde o
económico ao diplomático, passando pelo
cultural. De modo que não admira que
comecem a ser vistos como a potência
tutelar da Guiné-Bissau, ao mesmo tempo
que também têm uma forte palavra
a dizer sobre a evolução da Costa do
Marfim.
Isto para já não falar de territórios
de onde desde há muito são influentes,
como os dois Congos e São Tomé e
Príncipe.
No caso guineense, o regime de José
Eduardo dos Santos também vai ajudar a
reestruturar o sector da Defesa e da Segurança,
complicada tarefa que a União
Europeia tentou e não conseguiu.
Quando passarem definitivamente à
reforma todos os antigos combatentes,
os homens que há 38 anos andavam
no mato, a lutar pela independência, a
Guiné-Bissau terá, enfim, a oportunidade
de nos brindar com uma nova classe de
políticos, mais próprios do século XXI. Jorge Heitor, revista Prestígio, de Maputo
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ANGOLA IS IN FULL FORCE
IN GUINEA-BISSAU
The Angolan state oil company, Sonangol,
has injected close to US$300 million in
Bauxite Angola, a joint venture company
between Angola and Guine-Bissau, that will
exploit bauxite in the historic region of Boé,
where on 24 September 1973 the independence
of Guinea-Bissau was unilaterally proclaimed.
Angola is the majority shareholder in the
US$500 million that is needed to extract three
million tonnes of bauxite a year, in what will be
the biggest investment so far made in the country
of Amilcar Cabral.
The deposits in the Boé Hills, 240 kilometres
from the capital, are a continuation of the large
bauxite reserves in the neighbouring Republic
of Guinea, the world’s largest exporter of the
mineral, which is a key component for the manufacturing
of aluminium.
It is calculated that there are some 110
million tonnes of bauxite in Guinea-Bissau, and
as such production is set to last for the next 35
years.
There are plans to build a deep-sea port in
the locality of Buba and a railway and a road
to Boé; as well as a hydropower station at
Saltinho, on the Corubal River. For more than
28 years that the people of Guinea have been
dreaming about the Saltinho project, but there
was no money for its implementation.
The technical and economic viability study
for the Development Project of the Mineral and
Industrial Bauxite Complex in Guinea-Bissau
was done still under the presidency of the late
João Bernardo “Nino” Vieira, who was assassinated
two years ago, in yet another episode of
violence for which the country is unfortunately
fertile.
The 103 kilometres between Buba and
Madina do Boé are set to become the backbone
for the development of what is considered to be
one of the world’s poorest and most turbulent
territories.
But the old Europeans used to say that,
“Rome and Pavia were not built in one day”; so
there is need to give it a chance. When trains
begin to move along this line, Guinea-Bissau
could become different, and better, than now.
Let’s hope.
In the past, Dutch and Soviet experts
conducted studies on the potential of the Boé
region, but only now Angola’s interest made
it possible to realise what for long had been
talked about. And as such Angola has taken
a step forward in its quest for recognition as
major international player, most particularly in
West Africa.
The Angolans are trying to reinvent themselves,
scoring points in various areas, including
the economy, diplomacy and culture. It would
therefore not be surprising if they begin to be
viewed as the patronising power of Guine-Bissau,
just as they have a say about the evolution
of the situation in the Ivory Coast.
Not to mention other territories where for
long they have been influential, namely the two
Congos and São Tomé and Príncipe. In the Guinean
case, José Eduardo dos Santos’ regime
will also provide assistance in the restoration of
the Defence and Security sectors, the complicated
task that the European Union tried and
failed.
When all the former combatants finally
retire, the men who 38 years ago were roaming
in the bush fighting for independence, Guinea-
Bissau will then have the opportunity of offering
a new class of politicians, more in tune with the
XXI Century. Jorge Heitor

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