23.10.12
Bissau: A grande inventona do 21 de Outubro
1 . Foi uma “encenação”, inferidamente do interesse do CEMGFA, General António Indjai,
o alegado golpe de mão (tentativa de assalto/intrusão) contra o quartel do Batalhão de
Pára-Comandos, Bissau, em 21 de Outubro. Esta avaliação do episódio é a que merece mais ampla aceitação em meios diplomáticos e de Intelligence, inclusive em Dacar.
António Indjai está isolado, uma evidência de causas múltiplas cujos efeitos negativos para si próprio terá procurado atenuar/superar com uma acção aparentemente calculada para criar um clima político-emocional cuja exploração permitiria atingir objectivos como os seguintes:
- Erigir-se em vítima – o próprio e a ala consigo identificada nas FA, que assim
terá querido mobilizar; arranjar pretexto (ascendente moral) para agir contra
adversários e/ou accionar medidas do seu interesse.
- Captar/alargar simpatias da CEDEAO – intenção óbvia do reavivamento da teoria de implicações externas malquistas na região (Portugal e CPLP primeiro; MFDC de Casamansa, depois) na acção de 21 de Outubro em particular, e na instabilidade interna em geral.
Kumba Yalá, que exerce influências sobre António Indjai, também é apontado como
“interessado” na acção. É emanação da sua aversão pessoal a Carlos Gomes Jr a
menção feita a este como “implicado” na acção e actos praticados na esteira da mesma
como a detenção de um dos mais constantes apoiantes do ex-PM, Iancuba Indjai.
2 . As conclusões segundo as quais o episódio correspondeu a uma “encenação” são
alimentadas por verificações simples, que no essencial negam veracidade às versões
oficiais ou entram em contradição com as mesmas. Apresentam fragilidades elementos
como identificação dos supostos atacantes, condições em que foram abatidos, etc.
O Batalhão de Pára-Comandos é, a par do Batalhão de Mansoa, uma das mais
habilitadas unidades das Forças Armadas da Guiné-Bissau. O seu efectivo orgânico completo é de cerca de 1.000 h. – volume considerado suficientemente dissuasor para levar um grupo aparentemente desorganizado e escasso a tentar tomá-lo de assalto.
O 2º comandante do Batalhão de Pára-Comandos, é um dos militares de alta patente dado como tendo supostamente entrado em conflito com António Indjai, do qual fora antes apoiante. Foi ele que, a mando de António Indjai, retirou o então Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Jr de sua casa no golpe de Estado de 12 de Abril.
3 . O Cap Pansau N’Tchama foi apontado num comunicado do Governo, lido pelo seu
ministro da Presidência, Fernando Vaz, muito subordinado a António Indjai, como tendo sido o “cabecilha” da acção; nenhuma informação complementar, como condições actuais
do oficial e paradeiro foi prestada.
A menção à suposta implicação de Pansau N’Tchama, desacompanhada de quaisquer detalhes com ela relacionadas, é objecto de conjecturas que também contribuem para pôr em causa a autenticidade do episódio de 21 de Outubro e relacionar a sua propalação com propósitos eventualmente escusos.
A Pansau N’Tchama é geralmente reconhecida preparação suficiente (frequentou em
Portugal o curso de capitão), para não se envolver numa acção descrita como suicida. A
sua identificação como “cabecilha” é vista como reflexo de um “processo de intenções” justificado por facetas da sua vida como as seguintes:
- Foi no passado um “fiel” de António Indjai; fez parte de um reduzido grupo de
militares a que é atribuída a liquidação física do antigo Presidente Nino Vieira;
disse mais tarde que o grupo cumpriu ordens do seu chefe hierárquico, que era António
Indjai.
- Deu entrevistas sobre o caso que terão desagradado a António Indjai, do qual se afastou; era considerado testemunha chave no processo de investigação do assassinato de Nino Vieira aberto pela PGR; não regressou ao país depois de concluído o curso de capitão, alegando que não lhe era facultada uma passagem para tal; permaneceu em Portugal até recentemente.
4 . O isolamento de António Indjai é especialmente atribuído a comportamentos considerados prepotentes e a tendências do mesmo para a ostentação privada que no seu conjunto geram mal estar entre uma oficialidade – na sua sua larga maioria privada de condições básicas de vida.
Com um património do qual já fazem parte várias moradias, Bissau e Jugudul, por ex., António Indjai iniciou recentemente a construção de uma moradia em Mansoa, que tendo em
conta as suas dimensões estimadas, dependências anexas e área de servidão,
considerada na gíria “uma tabanca”, que aparentemente inclui uma pista de aviação. ÁFRICA MONITOR
Publicada por António Aly Silva
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