17.10.12
Quem será o próximo Presidente de Moçambique?
Faltam dois anos, dois anos somente, para as próximas eleições presidenciais e legislativas de Moçambique, com o mundo a especular sobre quem é que irá suceder a Armando Emílio Guebuza e ser o quarto Presidente desse grande país, depois de Samora Moisés Machel, de Joaquim Alberto Chissano e do próprio Guebuza, todos eles vindos do tempo da luta armada pela independência.
Depois de quase 500 anos de Moçambique como colónia de Portugal, um pequeno pedaço de território no extremo ocidental da Europa, é agora altura de se ver se os moçambicanos conseguem verdadeiramente trilhar um caminho próprio ou se estão economicamente muito dependentes da vizinha África do Sul e de contratos que têm estabelecido com duas grandes potências asiáticas: a China e a Índia.
Para quem está longe, em Lisboa, por exemplo, Moçambique continua a ser, como o é desde 1975, quase que uma coutada da Frente de Libertação (Frelimo) que lhe conseguiu dar a independência, não havendo por enquanto lugar para outras formações políticas de grande importância nem para nenhuma alternativa do poder, nenhuma rotatividade.
Aos olhos do estrangeiro, a questão é apenas saber se a maioria da Frelimo será mais ou menos acentuada, partindo-se sempre do pressuposto de que ela será capaz de navegar entre os 68 e os 75 por cento dos votos do eleitorado, face a uma Renamo que nunca conseguiu fazer a transição de movimento de resistência ao marxismo para uma formação política mais adequada aos tempos novos.
Ninguém está hoje em dia à espera de que a Renamo, na melhor das hipóteses, seja capaz de ir muito acima dos 18 a 25 por cento dos votos expressos nas legislativas, enquanto que na última ida às urnas a hipótese de uma terceira via se ficou muito mais por um sonho de almas bem pensantes do que por uma realidade. E nesta altura continuam a não surgir indícios de nenhum terceiro partido, para além da Frelimo e da Renamo, susceptível de a curto prazo vir a atrair as atenções de muito mais de sete ou oito por cento da população.
A ser assim, toda a curiosidade se centra em saber qual é que das sensibilidades existentes dentro da formação dirigente conseguirá apresentar um nome mais forte para sucedir na chefia do Estado a Armando Guebuza, que os críticos acusam de se ter metido em grandes negócios, em vez de respeitar mais o espírito inicial da República proclamada em 1975.
Em 2008 já se falou de ter havido fraude nos actos eleitorais, de modo que seria muito bom que se corrigisse agora esse aspecto, para que nem a Freedom House nem outras organizações internacionais viessem a apontar o dedo ao regime moçambicano, considerando-o menos democrático.
Aos olhos do observador estrangeiro, a Frelimo necessita de resolver as suas querelas internas, para que ninguém continue a especular quanto à existência de uma tentativa para alterar a Constituição e dar ainda a Guebuza a possibilidade de um terceiro mandato; para que ninguém diga que era melhor Chissano voltar ao lugar que já desempenhou ou empurrar para ele uma pessoa de sua confiança; para que ninguém imagine que Graça Machel é que seria a solução, de modo a retomar a pureza doutrinária que existia no tempo do seu primeiro marido.
Da conjugação entre as diferentes correntes existentes, do equilíbrio de forças, é que deverá surgir do meio do partido maioritário um candidato verdadeiramente aglutinador de energias, para poder desempenhar da melhor forma possível o papel de Presidente de todos os moçambicanos, sejam eles comunistas, socialistas, sociais-democratas, liberais ou democratas cristãos.
Não é preciso ser um candidato com grande carisma. É preciso sim que seja uma pessoa essencialmente séria, dedicada ao bem comum; que não se deixe corromper e que consiga manter bem alto o prestígio que, melhor ou pior, o país conseguiu alcançar ao longo dos seus primeiros 37 anos de vida independente.
Portanto, cremos aqui no exterior que o próximo candidato presidencial moçambicano com mais hipóteses não será porventura Graça Machel, nem Aires Ali, nem Tomás Salomão, nem Alberto Chipande, mas antes um que ao fim e ao cabo consiga o apoio de todos estes nomes e de muitos, muitos mais.
A Frelimo tem 50 anos e a pessoa que ela agora desejar colocar na Presidência da República, no fim de 2014, poderá muito bem ser alguém que não tenha muito mais do que essa idade. Alguém que venha a constituir uma agradável surpresa, para quem está longe. Jorge Heitor/Correio da Manhã, de Maputo, jornal fundado em 1997
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