1.10.12

Guiné-Bissau: "criação de confiança"?

Nova Iorque - O presidente deposto da Guiné-Bissau encontrou-se nas Nações Unidas com o seu sucessor, nomeado após o golpe militar de Abril, iniciando um processo de diálogo entre ambas as partes, disse domingo à Lusa fonte diplomática. "Foi o primeiro encontro de criação de confiança, um mero encontro simbólico", afirmou o embaixador guineense junto da ONU, João Soares da Gama. Para o presidente deposto Raimundo Pereira e para o seu sucessor Serifo Nhamadjo, o encontro foi uma forma de "apenas demonstrar que de facto há boa vontade no sentido de se enveredar por via negocial para solução da crise na Guiné". No final do encontro, organizado pelo diplomata guineense, ambas as partes encarregaram os seus ministros dos Negócios Estrangeiros de continuar as discussões. A preparação do encontro envolveu o Departamento de Assuntos Políticos do Secretariado da ONU, a missão de Moçambique, que preside à CPLP, e ainda a União Africana. Foi o culminar de uma semana diplomática intensa na ONU, em que na sexta-feira, após queixa da CEDEAO, o presidente deposto Raimundo Pereira viu suspensa a sua intervenção. O objectivo do processo de diálogo, diz Soares da Gama, é iniciar conversações formais, para já identificando os pontos de divergência entre as partes, que serão analisados caso a caso. Um deles, referiu, "será o retorno do presidente interino e do primeiro-ministro" à Guiné-Bissau, exigida pela CPLP. Pereira e Nhamadjo eram, respectivamente, presidente e vice-presidente do parlamento e, diz o diplomata, "foram muito bons amigos trabalharam muito juntos, conhecem-se bastante bem". "Os dois enfatizaram a necessidade de se negociar para resolver o assunto. Isto no interesse do povo da Guiné-Bissau", disse Soares da Gama. "Estando os dois em Nova Iorque, não faria sentido cada um regressar sem se avistarem, trocarem pontos de vista sobre o que se deve ter feito", adiantou. Com ambas as delegações em Nova Iorque, foi a do governo deposto a ser credenciada pela ONU para participar no debate anual da Assembleia Geral. O presidente deposto afirmou sábado à Lusa que a credenciação da sua delegação para representar o país na Assembleia Geral da ONU foi uma "vitória", apesar de impedido de intervir no plenário. Acompanhado do ministro dos Negócios Estrangeiros, Djaló Pires, e do embaixador guineense junto da ONU, João Soares da Gama, Raimundo Pereira esteve reunido sábado perto de 40 minutos com o sub - secretário geral Jeff Feltman. O objectivo, disse Djaló Pires à Lusa, era pedir ao secretário geral que se "envolva mais" no processo guineense, como previsto nas posições do Conselho de Segurança, e que avance com a criação de tribunal internacional "ad-hoc" para a Guiné-Bissau. Angola Press/LUSA Presidente deposto reclama "vitória" apesar de bloqueio da CEDEAO Nova Iorque - O presidente interino deposto da Guiné-Bissau afirmou à Lusa que o credenciamento da sua delegação para representar o país na Assembleia Geral da ONU foi uma "vitória", apesar de impedido de intervir no plenário. Raimundo Pereira falou no fim-de-semana à saída de um encontro com o sub-secretário geral para Assuntos Africanos, Jeff Feltman, depois de ter sido impedido de falar no debate na sexta-feira, após uma queixa interposta pela comunidade regional, a Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que ainda está a ser analisada. "A democracia, em primeiro lugar, saiu vitoriosa porque viajámos para Nova Iorque para participar na Assembleia Geral e nós é que fomos creditados, os outros não", disse Pereira, apontando para o crachá de identificação nas Nações Unidas. Quanto ao discurso que foi impedido de fazer, depois da inscrição da intervenção e quando já estava dentro do plenário, a "CEDEAO levantou questões que estão a ser analisadas", mas, para as autoridades depostas, "é uma vitória representar a Guiné-Bissau", adiantou à Lusa. Confrontado com a posição intransigente de bloqueio tomada pela CEDEAO em relação à intervenção do governo deposto, Pereira escusou-se a comentar. Acompanhado do ministro dos Negócios Estrangeiros, Djaló Pires, e do embaixador guineense junto da ONU, João Soares da Gama, Raimundo Pereira esteve reunido perto de 40 minutos com Feltman. O objectivo, disse Djaló Pires à Lusa, era pedir ao secretário-geral que se "envolva mais" no processo guineense, como previsto nas posições do Conselho de Segurança, e que avance com a criação de tribunal internacional "ad-hoc" para a Guiné-Bissau. O governo pretende que este tribunal, seguindo o modelo dos criados pelo Conselho de Segurança para o Líbano, Ex-Jugoslávia ou Rwanda, seria encarregue do julgamento de todos os crimes de sangue cometidos nos últimos anos no país de 2000 a 2012. "Fomos muito claros e dissemos o que pensamos que deve ser feito para que a Guiné-Bissau encontre uma solução duradoura, não paliativa. O país tem assistido nos últimos 14 anos a sucessivos golpes de Estado", disse Raimundo Pereira à Lusa, após o encontro. Feltman, adiantou, foi "receptivo" e disse que as autoridades legítimas "têm uma palavra a dizer" no processo. À margem do debate anual da Assembleia Geral, a delegação guineense, que incluiu o Primeiro-ministro deposto Carlos Gomes Júnior, encontrou-se com a presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma. "A União Africana comprometeu-se a estar mais engajada na procura de soluções. Temos esperança que sejam dados passos importantes nos próximos tempos para resolução desta crise", disse Pereira. Nos encontros em Nova Iorque na semana, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a CEDEAO falharam o objectivo definido pelo bloco lusófono de um plano de acção conjunto para a Guiné-Bissau. Ainda assim, diz o presidente deposto, "foi um momento crucial, permitiu que, num espaço de tempo muito curto, se desenvolvessem acções muito importantes". Até se chegar a um plano de acção, refere, é preciso "aproximar posições", devendo os contactos prosseguir na próxima semana.

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