5.5.14

A homenagem de Loulé ao controverso Kumba Ialá

Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Loulé, (Professor Adriano Pimpão, foto)


 

            Encontrando-me no estrangeiro, soube através de pessoa amiga, que a Assembleia Municipal de Loulé decidiu “por unanimidade” atribuir o nome de uma rua de Loulé ao falecido político bissau-guineense dr. Kumba Ialá. Não ponho em causa a decisão soberana da Assembleia Municipal em tomar a atitude que tomou, nem os considerandos que levaram à tomada de  tal decisão. Todavia, como antigo embaixador na Guiné-Bissau (de Outubro 1997 a Abril de 1999) e conhecendo bem a pessoa de Kumba Ialá não posso deixar de salientar o seguinte:

             - trata-se de uma personalidade que é, no mínimo, muito controversa, na Guiné-Bissau;

            - enquanto Presidente da República, defendeu por várias vezes o corte de relações com Portugal, por razões fúteis e inconsistentes;

            - optou claramente pela etnicização do Poder político e militar na Guiné-Bissau, defendendo a sua etnia (balanta) em detrimento das demais e cujos resultados foram (e são) funestos para aquele país, cujas consequências ainda se fazem sentir dramaticamente nos dias de hoje;

            - Eleito, em finais de 1999, para a Chefia do Estado, após uma guerra civil devastadora, e empossado em Janeiro de 2003, a sua actuação como supremo magistrado da Nação bissau-guineense caracterizou-se pelo amadorismo, inépcia e governação atrabiliária. 

            - Com efeito o PIB caíu vertiginosamente, apresentando valores fortemente negativos em 2003  e  Kumba Ialá rodeado de amadores e tribalistas mostrou-se incapaz de estar à altura das suas responsabilidades e de inverter o curso dos acontecimentos. Entre 2000 e 2003, nomeou 4 Primeiros-Ministros Chegou ao ponto de mandar prender o Presidente e o Vice-Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, cointrariando, assim, os mais elementares princípios do Estado de Direito.  

            - A sua gestão foi, pois, caracterizada pela pura demagogia e o seu mandato assumiu foros  de tragicomédia, em que Kumba Ialá aparecia em público constantemente etilizado.

            - Foi derrubado por um golpe de Estado em 14 de Setembro de 2003.

            - O país de Estado-frágil, passou a Estado-falhado e com Kumba Ialá registou-se uma virtual ausência de Estado.

            - Todos apontam o dedo a Kumba Ialá como o mentor do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, condenado por Portugal, pela U.E., pela ONU, pela U.A. pela CEDEAO e Comunidade Internacional, em geral.

            - O seu livro “Pensamentos Políticos e Filosóficos” é uma arrazoado de dislates e disparates inqualificáveis.

 

            Que V. Exa. me perdoe a auto-publicidade  e um protagonismo que não procuro, mas grande parte dos temas e  questões aqui sucintamente expostas constam do livro que publiquei recentemente, de parceria com o dr. Mário Beja Santos,  “Da Guiné-Poprtuguesa à Guiné-Bissau: um Roteiro” (Fronteira do Caos, Porto, 2012)    

 

            Finalmente, cabe-me esclarecer V. Exa e a digna Assembleia a que preside que não tenho qualquer filiação partidária, todavia entendo que os factos aqui relatados devem ser do conhecimento dos decisores políticos.

 

            Com os meus  melhores cumprimentos

            Francisco Henriques da Silva

           

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