Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal de
Loulé, (Professor Adriano Pimpão, foto)
Encontrando-me no estrangeiro, soube através de pessoa
amiga, que a Assembleia Municipal de Loulé decidiu “por unanimidade” atribuir o
nome de uma rua de Loulé ao falecido político bissau-guineense dr. Kumba Ialá.
Não ponho em causa a decisão soberana da Assembleia Municipal em tomar a atitude
que tomou, nem os considerandos que levaram à tomada de tal decisão. Todavia,
como antigo embaixador na Guiné-Bissau (de Outubro 1997 a Abril de 1999) e
conhecendo bem a pessoa de Kumba Ialá não posso deixar de salientar o
seguinte:
- trata-se de uma personalidade que é, no mínimo,
muito controversa, na Guiné-Bissau;
- enquanto Presidente da República, defendeu por
várias vezes o corte de relações com Portugal, por razões fúteis e
inconsistentes;
- optou claramente pela etnicização do Poder político
e militar na Guiné-Bissau, defendendo a sua etnia (balanta) em detrimento das
demais e cujos resultados foram (e são) funestos para aquele país, cujas
consequências ainda se fazem sentir dramaticamente nos dias de
hoje;
- Eleito, em finais de 1999, para a Chefia do Estado,
após uma guerra civil devastadora, e empossado em Janeiro de 2003, a sua
actuação como supremo magistrado da Nação bissau-guineense caracterizou-se
pelo amadorismo, inépcia e governação atrabiliária.
- Com efeito o PIB caíu vertiginosamente, apresentando
valores fortemente negativos em 2003 e Kumba Ialá rodeado de amadores
e tribalistas mostrou-se incapaz de estar à altura das suas responsabilidades e
de inverter o curso dos acontecimentos. Entre 2000 e 2003, nomeou 4
Primeiros-Ministros Chegou ao ponto de mandar prender o Presidente e o
Vice-Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, cointrariando, assim, os mais
elementares princípios do Estado de Direito.
- A sua gestão foi, pois, caracterizada pela pura
demagogia e o seu mandato assumiu foros de tragicomédia, em que Kumba Ialá
aparecia em público constantemente etilizado.
- Foi derrubado por um golpe de Estado em 14 de
Setembro de 2003.
- O país de Estado-frágil, passou a Estado-falhado e
com Kumba Ialá registou-se uma virtual ausência de Estado.
- Todos apontam o dedo a Kumba Ialá como o mentor do
golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, condenado por Portugal, pela U.E., pela
ONU, pela U.A. pela CEDEAO e Comunidade Internacional, em
geral.
- O seu livro “Pensamentos Políticos e Filosóficos” é
uma arrazoado de dislates e disparates inqualificáveis.
Que V. Exa. me perdoe a auto-publicidade e um
protagonismo que não procuro, mas grande parte dos temas e questões aqui
sucintamente expostas constam do livro que publiquei recentemente, de parceria
com o dr. Mário Beja Santos, “Da Guiné-Poprtuguesa à Guiné-Bissau: um Roteiro”
(Fronteira do Caos, Porto, 2012)
Finalmente, cabe-me esclarecer V. Exa e a digna
Assembleia a que preside que não tenho qualquer filiação partidária, todavia
entendo que os factos aqui relatados devem ser do conhecimento dos decisores
políticos.
Com os meus melhores cumprimentos
Francisco Henriques da Silva
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