23.5.14

Bissau: Paninhos quentes para António Indjai

O mandado de captura por tráfico de droga contra António Injai, líder militar da Guiné-Bissau, pode precisar de ser atenuado, como moeda de troca para impedi-lo de perturbar o país, defende uma analista da Chatham House.


"O mandado de captura norte-americano que recai sobre António Indjai pode precisar de ser atenuado, talvez mostrando através de canais diplomáticos que ele não será ativamente perseguido desde que permaneça em Bissau", refere Elisabete Azevedo-Harman num texto de análise publicado na terça-feira no portal do Instituto Real de Relações Internacionais britânico.



A investigadora em assuntos africanos defende que vai ter que ser "moldado um compromisso" para os militares guineenses se afastarem da esfera política e cortarem ligações com o crime organizado.



António Indjai é o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e liderou os militares no último golpe de Estado, em 12 abril de 2012, e é também acusado pela justiça norte-americana de estar envolvido em tráfico de droga transatlântico.



O primeiro-ministro eleito, Domingos Simões Pereira e José Mário Vaz, o Presidente eleito, vão precisar de "um mandado nacional robusto, com suporte internacional e sub-regional, para fazerem a reforma no setor da segurança", defende a analista.



No plano partidário, apesar de ter ganho o parlamento com maioria absoluta e de ter conquistado a presidência, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) "precisa de evitar ser triunfalista".



De acordo com Elisabete Azevedo-Harman, "para lidar com os múltiplos desafios que herdou, o novo Governo precisa de ser inclusivo para recolher contributos de toda a sociedade", mas isso não quer dizer que tenha de haver "um acordo de partilha de poder".



Embora haja um "cansaço compreensível" por parte dos parceiros internacionais em ajudar a Guiné-Bissau depois de tantas "falsas partidas", a analista defende que há agora uma "oportunidade que não se pode perder" para desenvolver o país.



"A alternativa seria arriscar a frágil Guiné-Bissau a sujeitar-se a uma renovada entrada de crime organizado transnacional, ameaçando a paz regional e no resto do mundo", refere.



"A alta taxa de participação nas eleições representa um pedido inequívoco por uma nova oportunidade que a comunidade internacional não deve ignorar", conclui.



José Mário Vaz obteve 61,9 por cento dos votos na segunda volta das eleições presidenciais, realizada no domingo, enquanto o candidato Nuno Nabian recolheu 38,1 por cento, anunciou na terça-feira a Comissão Nacional de Eleições (CNE).



A taxa de participação foi de 78,2%. Na primeira volta a adesão dos eleitores tinha sido de 89,29% e nas legislativas, realizadas no mesmo dia, a taxa de participação foi de 88,57%.

Nenhum comentário: