6.5.14

Peregrinação do Papa às raizes do Cristianismo

 De 24 a 26 de Maio, o Papa Francisco visita algumas das terras por onde andaram Abraão e Jesus, durante uma peregrinação à Jordânia, à Palestina e a Israel, para se encontrar tanto com os dirigentes como com os cidadãos menos afortunados.     No quinquagésimo aniversário do histórico encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, de Constantinopla, o chefe da Igreja Católica dirige-se a Amã, a Belém e a Jerusalém, sob o signo da maior aproximação possível com os ortodoxos. Francisco, um dos papas mais populares deste último século, reúne-se com o Patriarca Ecuménico Bartolomeu, considerado o primeiro dos prelados ortodoxos, e com o qual deverá assinar uma declaração conjunta, no dia 25 de Maio, em Jerusalém. «Somos chamados a ser um só; e o Papa vem recordar-nos este apelo, renovando o espírito da unidade e do amor fraternal», disse o Patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, durante uma conferência de imprensa dada no dia 27 de Março. O logotipo da peregrinação representa o abraço entre São Pedro e Santo André, padroeiros das Igrejas Católica e Ortodoxa.
O Patriarca Twal teve o cuidado de explicar que o Papa Francisco, escolhido há pouco mais de um ano, solicitou modestas cerimónias de recepção em cada um dos locais visitados, pois que de modo algum deseja que as atenções se concentrem nele mas sim naquilo que representa e na missão que o leva até às populações.

 Com os reis da Jordânia
Dia 24, em Amã, aquele que foi o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio reúne-se com os reis da Jordânia, Abdullah II e Rania, que já no Verão passado o visitaram no Vaticano e que de igual modo haviam recebido o seu antecessor, Bento XVI. No dia a seguir, em Belém, na Cisjordânia, o Papa reúne-se com o Presidente da Palestina, Mahmou Abbas. E em 26, na cidade fde Jerusalém, sucessivamente com o idoso Presidente israelita Shimon Peres e com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Na Jordânia, a leste do rio Jordão, Francisco reúne-se com refugiados e com jovens deficientes, de modo a vincar bem que os que mais sofrem se encontram sempre no eu coração e nas preocupações da Santa Madre Igreja. Em Belém almoça com famílias palestinianas no convento franciscano Casa Nova, depois do que recebe crianças dos acampamentos de refugiados Dehiyshe, Aida e Beit Jibrin, no Centro Phoenix do primeiro daqueles acampamentos.
 Sua Santidade celebra duas missas públicas durante a sua peregrinação à Terra Santa: no estádio internacional de Amã e na Praça da Manjedoura, em Belém, esperando que cristãos da Faixa de Gaza sejam autorizados a viajar até à cidade onde nasceu Jesus. E haverá um lugar reservado para os cristãos da Galileia, a região onde Cristo foi criado, na cidade de Nazaré.

A convite de Sua Majestade
É em resposta a um convite de Sua Majestade o rei Abdullah II que o Papa Francisco I visita oficialmente a Jordânia, país muçulmano que sempre tem mantido muito boas relações com a Santa Sé.
A visita foi considerada pelo reino hachemita um importante passo para fomentar a fraternidade e a tolerância entre muçulmanos e cristãos, bem como para propagar a mensagem de paz que é apanágio de todas as regiões monoteístas.
Durante a sua estada, o chefe dos católicos debaterá com o rei Abdullah II as relações entre a Jordânia e o Vaticano, bem como alguns assuntos relacionados com a promoção da fraternidade e do diálogo essenciais para a coexistência islâmico-cristã; e em cima da mesa estarão também os mais recente desenvolvimentos no Médio Oriente.
Em Agosto do ano passado, o Papa Francisco manifestou-se tão encantado com os soberanos jordanos que, rompendo o protocolo, se inclinou respeitosamente perante a rainha Rania Al Abdullah, em vez de ter sido ela a fazer uma genuflexão perante ele.
Esta visita pontifícia ao Reino da Jordânia é já a quarta em meio século, tudo tendo começado quando em 1964 Paulo VI se
deslocou tanto aí como à Palestina, que nos tempos do Novo Testamento englobava os território de Galileia, Decápolis, Samaria, Pereia, Judeia e Idumeia. A segunda foi a do Papa João Paulo II, no ano 2000, e a terceira a do Papa Bento XVI, em 2009.
de imprensa na sede do Patriarcado.

14 intervenções
A agenda da peregrinação de Maio prevê 14 intervenções de Sua Santidade, entre homilias e discursos, bem como a assinatura da declaração conjunta com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, a assinalar o 50 anos do encontro entre Paulo VI e Atenágoras.
Na Terra Santa, o Papa vai visitar, entre outros, o Santo Sepulcro, o memorial do Holocausto ,‘Yad Vashem’, o Muro das Lamentações e a Esplanada das Mesquitas.
Partindo do aeroporto de Fiumicino, em Roma, o Papa chega ao princípio da tarde de dia 24 ao Aeroporto Internacional Rainha Alia, em Amã, e dirige-se ao palácio real, para uma troca de impressões com os soberanos, depois do que preside à missa no estádio internacional.
Mais tarde, em Betânia, no local onde Jesus Cristo foi baptizado por João (enquanto o Epírito Santo descia sobre ele), à beira do rio Jordão, Francisco reúne-se com refugiados da martirizada Síria e com jovens deficientes.
Na Jordânia, em Amã, primeira etapa da viagem apostólica, o Papa vai reunir-se com o rei Abdullah e Rania.

Visita a Mahmoud Abbas
O domingo 25 de Maio começa com uma viagem de helicóptero até Belém, para uma visita ao Presidente do Estado da Palestina, Abu Mazen, sou Mahmoud Abbas, seguida da Missa na Praça da Mangedoura.
Depois do almoço com famílias palestinianas no convento Casa Nova, o Papa fará uma visita privada à Gruta da Natividade, local do nascimento de Jesus Cristo ("E tu, Bethleém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há-de apascentar o meu povo de Israel", São Mateus 2,6).
Na sequência do encontro com as crianças dos campos de refugiados de Dheisheh, Aida e Beit Jibrin, o antigo arcebispo de Buenos Aires parte de helicóptero para o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Telavive, onde discursa, antes de retomar o helicóptero, para Jerusalém.
Esta escala em Telavive é como que uma preciosidade diplomática. O Papa evita começar a visita a Israel pela cidade de Jerusalém, de modo a não chocar as susceptibilidades árabes, uma vez que os muçulmanos não reconhecem Jerusalém como capital israelita.
O último dia da viagem, 26 de Maio, principia com visitas ao grande mufti de Jerusalém, na Esplanada das Mesquitas, e ao Muro das Lamentações, seguindo-se a deposição de flores no Monte Herzl, o cemitério nacional de Israel.
O Papa Francisco vai discursar, depois, no mausoléu do Yad Vashem de Jerusalém, em memória das vítimas do Holocausto, visitando, em seguida, os dois grãos-rabinos de Israel, no centro He,ichal Shlomo.
O encontro com o Presidente de Israel, Shimon Peres, é no palácio presidencial, e a reunião com o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu no centro Notre Dame.

No Monte das Oliveiras
A parte final da agenda vai decorrer no Monte das Oliveiras e inclui uma nova visita ao patriarca Bartolomeu, um encontro com o clero e religiosos católicos e a última Missa, com os bispos da Terra Santa, na sala do Cenáculo, em Jerusalém.
Toda a peregrinação deverá ser entendida como um grande apelo à paz, especialmente dirigido a palestinianos, israelitas, sírios e outros povos do Médio Oriente.
Os cristãos árabes necessitam enormemente do encorajamento pontifício, uma vez que o seu número continua a diminuir, devido à violência e às dificuldades económicas, que muitas vezes os fazem emigrar para longes terras.
"Como é grande a sua preocupação connosco. Creio que nos pedirá para sermos corajosos e para permanecermos", disse o Patriarca Twal, que é jordano. "Ficar nesta terra, viver nesta terra: vale a pena permanecer na Terra Santa, sofrer e morrer por ela".
Os cristãos do Médio Oriente são uma comunidade muito antiga, bem mais antiga do que a população muçulmana. Mas no Iraque, Síria, Egipto, Líbano e Palestina têm sido cada vez mais intimidados e assassinados, no meio de múltiplas convulsões.
Toda a peregrinação deverá ser entendida como um grande apelo à paz, especialmente dirigido a palestinianos, israelitas, sírios e outros povos do Médio Oriente.
Os cristãos árabes necessitam enormemente do encorajamento pontifício, uma vez que o seu número continua a diminuir, devido à violência e às dificuldades económicas, que muitas vezes os fazem emigrar para longes terras.
"Como é grande a sua preocupação connosco. Creio que nos pedirá para sermos corajosos e para permanecermos", disse o Patriarca Twal, que é jordano. "Ficar nesta terra, viver nesta terra: vale a pena permanecer na Terra Santa, sofrer e morrer por ela".
Os cristãos do Médio Oriente são uma comunidade muito antiga, bem mais antiga do que a população muçulmana. Mas no Iraque, Síria, Egipto, Líbano e Palestina têm sido cada vez mais intimidados e assassinados, no meio de múltiplas convulsões.

O drama sírio
Um do grandes dramas a ter em conta nesta ocasião é precisamente que o número de refugiados sírio ultrapassou, só no Líbano, o "número devastador" de um milhão, conforme referiu a ONU nos primeiros dias de Abril.
O Líbano tem agora a mais elevada concentração de refugiados per capita de todo o mundo e este é um dos assuntos a ter em conta durante as conversações do Papa Francisco com as autoridades da Jordânia, da Palestina e de Israel, pois que isto desestabiliza profundamente um já de si muito frágil ponto do globo.
Para além das suas muitas dificuldades internas, o pequeno Líbano tem agora às costas este gigantesco problema. Nove milhões e meio de sírios fugiram das suas casas desde o início do terrível conflito, tendo mais de dois milhões e meio deixado mesmo o país, indo para o Líbano, a Turquia, a Jordânia, o Iraque, o Egipto e outras paragens.
Como o mundo não é feito de compartimentos estanques, quando nos debruçamos sobre a peregrinação papal à Terra Santa temos forçosamente de ter em conta que um quarto da população do Líbano é nesta altura constituída por refugiados sírios, o que se repercute de modo assaz grave em todas as questões do Médio Oriente.

Pluralismo religioso
A visita do Papa Francisco destina-se a consolidar as boas relações que devem forçosamente existir entre muçulmanos e cristãos, bem como a contribuir para intensificar todos os apelos que têm vindo a ser feitos no sentido do respeito mútuo e do renovar de esforços no sentido de que se respeite o pluralismo religioso. Os crentes das diferentes religiões devem cooperar entre si, muito ninguém tem o direito de entender que a sua fé é mais importante ou mais justificável do que as demais.
"Necessitamos que o Papa traga paz a Jerusalém", disse por exemplo Mary Yadi, que é natural dessa cidade mas está a viver na paróquia de São José, em Amã. "O mundo necessita desesperadamente de paz. São precisas mais orações para que aconteça qualquer coisa de positivo".
Os católicos, os ortodoxos e os muçulmanos moderados, como o é o rei Abdullah II da Jordânia, tudo devem fazer para que todos aqueles que acreditam num só Deus contribuam para um mundo melhor, muito mais justo.

Jorge Heitor/Revista Além-Mar

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